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FBI monitorou Mandela por considerá-lo uma 'ameaça comunista', revelam documentos

Nelson Mandela discursa no estádio Soccer City, em Johannesburgo, pouco após deixar a prisão, em 1990 - AP
Nelson Mandela discursa no estádio Soccer City, em Johannesburgo, pouco após deixar a prisão, em 1990 Imagem: AP

Do UOL, em São Paulo

10/07/2014 17h34

O FBI, polícia federal dos Estados Unidos, monitorou Nelson Mandela dos anos 1980 aos 1990, entre o período em que esteve preso e foi libertado na África do Sul, por considerá-lo “uma ameaça comunista à segurança nacional”. A informação está em documentos secretos obtidos por um ativista e divulgados pelo jornal “The Guardian”.

Agentes federais norte-americanos continuaram a monitorar Mandela mesmo após ele ser solto da prisão em fevereiro de 1990 -- ele havia sido condenado à prisão perpétua em 1964 por liderar o Congresso Nacional Africano (CNA), então ilegal.

O FBI vigiou encontros de Mandela com líderes mundiais, rastreou os movimentos de membros do CNA enquanto viajavam pelos Estados Unidos e acompanharam atividades antiapartheid do Partido Comunista dos Estados Unidos.

Um dos registros divulgados é sobre um encontro de Mandela com o então presidente da Iugoslávia, Janez Drnovsek, na Namíbia, ocorrido um mês depois que o sul-africano deixou a prisão.

Outro documento mostra a decisão do FBI em enviar um informante de Filadélfia para Nova York, quatro meses depois de Mandela ser solto, para espionar um encontro entre o sul-africano e ativistas porto-riquenhos.

“A informação contida nesta comunicação é extremamente única em sua natureza em não deve ser disseminada fora do FBI ou forças-tarefas de terrorismo”, frisa o documento.

O “Guardian” frisa que, mesmo após a queda do Muro de Berlim e a ascensão do sul-africano como líder democrático, o FBI ainda via Mandela “pelas lentes da Guerra Fria”.

Documentos secretos

Todos esses documentos do FBI foram obtidos por Ryan Shapiro, especialista em liberdade da informação do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Shapiro conseguiu acesso aos registros meio da lei de acesso à informação.

Como muitos dos documentos tiveram partes ostensivamente censuradas, Shapiro tenta obter agora os textos completos. Por mais registros sobre o movimento antiapartheid, o ativista também acionou na Justiça a CIA, agência de inteligência, a NSA (Agência Nacional de Segurança) e a Agência de Defesa e Inteligência dos EUA. 

Nelson Mandela morreu em dezembro de 2013, em Johannesburgo, aos 95 anos, para onde havia sido levado após passar quase três meses internado para tratamento de uma infecção pulmonar. O ex-presidente vivia em Johannesburgo com a mulher Graça Machel.