Coreia do Norte diz ter quatro mísseis apontados para a ilha de Guam
A Coreia do Norte disse nesta quinta-feira (10) que tem quatro mísseis de alcance médio preparados e apontados nessa direção da ilha de Guam, onde os EUA possuem bases militares, para serem lançados após a ordem do líder norte-coreano, Kim Jong-un.
O exército norte-coreano "está examinando seriamente o plano" para executar um ataque com quatro mísseis Hwasong-12 de categoria média contra Guam para enviar "um forte sinal de advertência aos Estados Unidos", informou a agência estatal norte-coreana "KCNA" em um comunicado.
Este plano "será finalizado em meados de agosto e será reportado ao comandante-em-chefe (Kim Jong-un) das forças nucleares da DPRK (sigla em inglês de República Democrática Popular da Coreia, nome oficial do país) para esperar suas ordens", afirmou o comandante das Forças Estratégicas norte-coreanas, Kim Rak-Gyom.
Esta unidade do Exército Popular da Coreia é a responsável operacional do programa de mísseis de Pyongyang.
"Os mísseis Hwasong-12 cruzarão o céu sobre as províncias japonesas de Shimane, Hiroshima e Koichi (no oeste do arquipélago) e percorrerão 3.356,7 quilômetros durante 1.065 segundos (quase 18 minutos) antes de impactar as águas cerca de 30 ou 40 quilômetros de Guam", detalhou o exército norte-coreano na nota.
"Um diálogo sensato é impossível com um sujeito assim, desprovido de razão, e com ele só funciona a força absoluta", disse a agência estatal KCNA em referência ao presidente dos EUA Donald Trump, citando o general norte-coreano Kim Rak Gyom.
A ameaça ocorre após os Estados Unidos advertirem os norte-coreanos, na quarta-feira, de que o país está arriscando a sua "destruição" se continuar com o programa armamentista.
Trump destacou o poder nuclear americano diante da crescente inquietação internacional, um dia depois de prometer "fogo e fúria" a Pyongyang "como o mundo nunca viu".
"Espero que nunca tenhamos que usar esse poder", acrescentou Trump, após a sua advertência sem precedentes ao governo de Kim Jong-Un, que ameaça atacar o território americano com mísseis nucleares.
O secretário americano de Defesa, Jim Mattis, pediu que a Coreia do Norte "detenha" o desenvolvimento de armas nucleares e pare de fomentar ações que levem "ao fim de seu regime e à destruição de seu povo".
Repercussão mundial
Em sintonia com os tuítes de Trump, o chefe do Pentágono minimizou o poderio militar de Pyongyang, afirmando que "perderia qualquer corrida armamentista ou conflito que começasse" com os Estados Unidos.
Nesta quinta-feira (10), o Japão afirmou que "jamais poderá tolerar as provocações" de Pyongyang. "Apelamos firmemente à Coreia do Norte para que leve a sério as reiteradas advertências da comunidade internacional, acate as resoluções da ONU e se abstenha de realizar novas provocações", disse o porta-voz do governo japonês Yoshihide Suga.
O funcionário japonês disse que "é muito importante manter o poder de dissuasão americano diante da gravidade da situação de segurança na região".
Na véspera, a China exortou que se evitem "as palavras e os atos suscetíveis" de agravar a situação, enquanto Berlim pediu "moderação" às partes.
A França elogiou a "determinação" de Trump ante Pyongyang.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, se mostrou "preocupado", e pediu por meio de seu porta-voz que reduzam as tensões e apelem para a diplomacia.
A pedido de Washington, a Organização das Nações Unidas endureceu há alguns dias as sanções contra Pyongyang por seu programa nuclear, que poderia custar ao governo norte-coreano um bilhão de dólares anuais.
"Não há para onde correr"
Os Estados Unidos descartam uma "ameaça iminente" para Guam, um estratégico enclave militar, onde conta com 6.000 soldados, e outros objetivos, confiando que a pressão diplomática irá prevalecer.
"Acho que os americanos devem dormir bem, sem nenhuma preocupação sobre esta particular retórica dos últimos dias", disse o chefe da Diplomacia americana, Rex Tillerson, após justificar a "mensagem forte" do presidente Trump "em uma linguagem que Kim Jong-un pode compreender".
Sobre o fato de os comentários de Trump surpreenderem o seu círculo mais próximo, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, disse que o Conselho de Segurança Nacional e outros funcionários sabiam que "o presidente iria responder [...] com uma mensagem forte em termos inequívocos".
A remota e paradisíaca ilha de Guam, de apenas 550 km2 e onde vivem 162.000 pessoas, em sua maioria dedicados ao turismo, permanecia calma nesta quarta-feira diante da ameaça norte-coreana. O governador, Eddie Calvo, minimizou os atos de Pyongyang, mas assinalou que o território está "preparado para qualquer eventualidade".
"Não é que haja algo que possamos fazer realmente, esta é uma ilha pequena, não há para onde correr", disse o morador James Cruz da capital Hagatna.
Rápido avanço
A retórica de Trump tem apresentado uma escalada em relação a Pyongyang, após dois testes bem-sucedidos de mísseis balísticos intercontinentais (ICBM) por parte do governo de Kim Jong-un.
O primeiro teste, descrito pelo líder norte-coreano como um presente aos "bastardos americanos", mostrou que o dispositivo poderia alcançar o Alasca. O segundo sugeriu que poderia chegar até Nova York.
Na terça-feira, o jornal The Washington Post relatou que a Coreia do Norte teria a capacidade de colocar pequenas ogivas nucleares nestes mísseis, segundo um relatório da Agência de Inteligência de Defesa (DIA, em inglês).
O Post também assinalou que outra avaliação da Inteligência considerou que a Coreia do Norte tem agora até 60 armas nucleares, mais do que se pensava.
Alguns especialistas asseguram que Pyongyang ainda deve superar obstáculos técnicos, em especial para conseguir fazer uma miniatura de uma ogiva nuclear para introduzi-la com sucesso em um míssil.
Mas apesar das discrepâncias, todas estão de acordo que a Coreia do Norte avança rapidamente em sua corrida de armas nucleares desde a chegada de Kim Jong-un ao poder, em dezembro de 2011. (Com as agências internacionais)
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