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Diplomata chinês instiga empresários brasileiros a conquistar a Ásia

Song Yang, ministro da Embaixada da China no Brasil, durante entrevista coletiva em Brasília no final de janeiro  - José Cruz/Agência Brasil
Song Yang, ministro da Embaixada da China no Brasil, durante entrevista coletiva em Brasília no final de janeiro Imagem: José Cruz/Agência Brasil

Eduardo Militão

Colaboração para o UOL, em Brasília

04/02/2018 04h01

O empresariado brasileiro precisa sair do comodismo e investir agressivamente no mercado chinês, que está de portas abertas. Essa é a opinião do ministro da Embaixada da China no Brasil, Song Yang, 50 - o termo "ministro", neste caso, equivale a ser o segundo no comando da representação diplomática chinesa. Em entrevista ao UOL, ele questionou por que os brasileiros não “conquistam” o mercado de turismo, não aproveitam os novos movimentos econômicos no sudeste asiático nem fazem publicidade de marcas de seus produtos já vendidos e bem aceitos na China, como o café.

“O Brasil está olhando para o mercado asiático. Qual é o esforço que está fazendo para conquistar o mercado asiático?”, questionou Yang, que já trabalhou na embaixada em Angola e foi cônsul em São Paulo e no Rio de Janeiro. "Espero que os empresários brasileiros abram seus olhos." 

Os chineses projetam que vão importar US$ 10 trilhões (cerca de R$ 31 trilhões) nos próximos cinco anos. Para impulsionar isso, no fim deste ano, vão fazer uma feira internacional com mais de cem países focada na importação. Do Brasil, querem não só produtos de baixo valor agregado --alimentos, minérios, soja, ferro 

Como está a dinâmica da economia da China?

Estamos desenvolvendo a integração da economia regional. As empresas chinesas estão investindo nos países vizinhos. Esse ciclo de prosperidade dos outros países tem ações de mercado, porque é uma escolha de custo-benefício. São condições favoráveis para as empresas chinesas. 

ministro da Embaixada da China no Brasil, Song Yang - José Cruz/Agência Brasil  - José Cruz/Agência Brasil
''A nossa cooperação é benéfica mutuamente'', diz Song Yang sobre parceria com países asiáticos e América Latina
Imagem: José Cruz/Agência Brasil

A iniciativa de “um cinturão, uma rota” [programa para investir na infraestrutura de cerca de 70 países, de três continentes, com os quais os chineses têm relações comerciais] vai beneficiar os nossos vizinhos bem como os países da América Latina. É uma iniciativa com a qual queremos compartilhar nossas visões, construir conjuntamente e usufruir os benefícios conjuntamente sem a intenção de impor. A nossa cooperação é benéfica mutuamente.

O senhor afirma que a renda per capita do chinês passou de US$ 2.000 para US$ 8.000 em dez anos. Esse aumento do custo da mão-de-obra da China é uma das causas que move as indústrias para outros países?

Realmente é uma das causas. As empresas chinesas estão transferindo suas fábricas para outros países à procura de renda adequada para controlar o custo de mão-de-obra. A China está numa fase de fazer uma reestruturação de sua economia, mais com inovação, com mais conteúdo e valor agregado, mais tecnologia de ponta. Essa é uma opção natural. É uma ação de mercado, não incentivada pelo Estado.

São empresas nesses setores de maior valor agregado que estão indo para lá?

Isso. A China investe nos países estrangeiros e recebe investimentos estrangeiros. Estamos oferecendo tratamentos iguais para investimentos estrangeiros e fazendo mais aberturas para setores financeiros e de manufatura de tecnologias avançadas.

Hoje em dia, a economia chinesa é integralmente ligada a todo o mundo. É natural termos mais investimentos fora. Fico muito feliz que a renda per capita da China aumentou muito, um crescimento idêntico do nosso crescimento econômico. Esse processo vai continuar. A renda per capita chegou a US$ 8.000 e, dentro de poucos anos, vai passar para US$ 10 mil.

Então, naturalmente temos de pensar em fazer reformas em nossa economia, para uma produtividade mais eficiente, com valor mais agregado, e menos em fábricas com uso intensivo de mão-de-obra. Estamos incentivando o setor de serviços, que é metade da economia chinesa. O consumo doméstico contribui com 65% do PIB [Produto Interno Bruto] chinês. É um dos maiores mercados do mundo.

Esse crescimento da renda do trabalhador chinês vai se repetir nesses países asiáticos que recebem as fábricas chinesas?

Creio que sim. Queremos participar do desenvolvimento dos países estrangeiros para juntos crescermos mutuamente, a benefício dessa união, para elevar a vida do povo e o poder de compra. 

ministro da Embaixada da China no Brasil, Song Yang - José Cruz/Agência Brasil  - José Cruz/Agência Brasil
Ministro defende que empresários brasileiros tentem conquistar a Ásia
Imagem: José Cruz/Agência Brasil

Esse aumento da renda nos países asiáticos ao redor da China vai exigir mais consumo de alimentos, materiais de construção, ferro, ou seja, produtos vendidos pelo Brasil? É uma oportunidade?

Sempre é uma oportunidade com o crescimento socioeconômico do país. Mereceria uma notícia feliz para todo mundo. A China contribui com 30% do crescimento mundial. Queremos ter a nossa boa vizinhança e ter um crescimento conjunto.

Essa oportunidade para o Brasil é realista ou excessivamente otimista?

O Brasil está olhando para o mercado asiático. Qual é o esforço que está fazendo para conquistar o mercado asiático? O crescimento rápido de um país muda a fisionomia e a vida do povo. Aumenta a capacidade de consumo de cada país. Isso cria oportunidades para países como o Brasil, que pode oferecer produtos alimentares, minérios, mas também produtos industriais, produtos de maior valor agregado.

Produtos de maior valor agregado?

A China está aberta para produtos de ótima qualidade do Brasil. Seja para alimentos, produtos agrícolas, minérios, automobilísticos e também outros de maior valor agregado. O mercado chinês é enorme, e o Brasil é bem-vindo.

Como?

Queremos abrir as nossas portas a produtos de maior valor. A China não quer, de maneira nenhuma, tornar o Brasil um país de commodities. Estamos investindo em áreas de tecnologia de ponta, como painéis fotovoltaicos em Campinas (SP). Estamos investindo em fábricas, ferrovias, rodovias, portos, telecomunicações. Não é só investir em minérios.

Como vê a ação dos empresários brasileiros?

Espero que os empresários brasileiros abram seus olhos para o mercado chinês, o mercado asiático, porque ele representa crescimento, oportunidades de mercado. Tem que investir, divulgar os seus produtos com mais força para maior conhecimento do povo, seus consumidores.

Hoje em dia, o café é muito consumido lá no mercado chinês. Em todos os shoppings têm vários cafés, mas não têm a marca brasileira. O Brasil está produzindo um bom café, e muito café, e tem que realmente pensar em ocupar e conquistar o mercado chinês.

Na conversa com a gente o senhor mencionou que o empresário brasileiro é 'acomodado' ou mesmo tem um pouco de 'preguiça' . O senhor deu o exemplo da propaganda das marcas de café. Poderia dar outro exemplo do comodismo ou preguiça dos empresários brasileiros em incrementar seus negócios com a China?

Espero que os empresários brasileiros visitem a China para conhecer melhor o mercado chinês e o gosto dos consumidores chineses que querem o Brasil, sua gente, sua cultura e também seus produtos, incluído o café.

Como estão as viagens entre Brasil e China?

No ano passado conseguimos um acordo para incentivar os turistas, os vistos. Agora, podemos oferecer vistos múltiplos de cinco anos para turistas [Brasil e China aumentaram de três meses para cinco anos o prazo do visto para turismo em ambos os países, com entradas múltiplas de 90 dias, renováveis por mais 90 a cada 12 meses. Ou seja, um chinês, com um único visto, pode vir ao Brasil cinco vezes durante seis meses a cada visita, com intervalo de seis meses entre cada viagem].

A China 'exportou' 129 milhões de chineses, que fizeram turismo por todo o mundo no ano passado. Só houve 60 mil para o Brasil

Entre os EUA e a China temos uma troca muito grande. Foram 4 milhões. Temos mais de 350 mil estudantes lá nos EUA. Muitos chineses adoram o Brasil, querem conhecer o país e precisam de facilidades, estrutura e serviços para isso.