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Em 45 dias de protesto pelo 70º aniversário de Israel, chega a 111 o número de palestinos mortos

Do UOL, em São Paulo

14/05/2018 07h10Atualizada em 15/05/2018 20h33

Chegou a 111 o número de palestinos mortos na onda de protestos iniciada em 30 de março, por conta do 70º aniversário da criação de Israel. Os números são do Ministério da Saúde palestino em Gaza.

Há seis semanas, palestinos organizam uma série de manifestações batizada de "Marcha do Retorno", reivindicando o direito de retornarem às suas terras. Somente nesta segunda-feira (14), foram 58 palestinos mortos, incluindo seis crianças, e mais de 2.700 ficaram feridos. Os protestos recrudesceram hoje devido à transferência da embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para Jerusalém

A transferência contraria o consenso da comunidade internacional, liderada pela ONU, de não reconhecer a cidade disputada como capital de Israel. A região oriental de Jerusalém, apontada como território palestino desde a partilha que criou Israel, em 1948, é ocupada pelo estado judeu desde 1967, após a Guerra dos Seis Dias.

A expectativa é de novos confrontos nesta terça-feira (15), quando os árabes vão rememorar a "Nakba" - palavara que se traduz por "catástrofe", utilizada em referência à remoção dos moradores para a criação do Estado de Israel.

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Hoje, milhares de manifestantes se reuniram em diferentes pontos, e pequenos grupos tentaram se aproximar da fronteira fortemente vigiada pelo Exército israelense.

O primeiro a morrer nesta segunda foi Anas Qudieh, de 21 anos, atingido por um disparo de arma de fogo no leste de Khan Yunis, no sul do território palestino. A lista de mortos já identificados tem jovens na faixa de 20 a 30 anos, além de adolescentes com idade entre 14 e 16 anos ainda não identificados. 

Em atualização constante do número de manifestantes atingidos, a autoridade de saúde palestina já fala em 2.771 feridos, incluindo 225 crianças. Segundo os palestinos, 54 pessoas estão em estado crítico.

O serviço de emergência Crescente Vermelho (equivalente local da Cruz Vermelha) confirmou que a maioria dos feridos apresentava ferimentos por disparos de arma de fogo, por estilhaços de balas, inalação de gás, pancadas e contusões.

O confronto

Forças israelenses, que tinham advertido a população com panfletos para que não se aproximassem da fronteira, jogaram gás lacrimogêneo contra os manifestantes para evitar que se aproximassem da cerca, de acordo com a agência EFE, citando testemunhas. Os palestinos responderam atirando pedras com estilingue e outros instrumentos.

Também disseram que um grupo de manifestantes palestinos conseguiu cortar a cerca de segurança, se infiltrou por vários metros em território israelense e voltou à Faixa. O Exército israelense disse desconhecer essa ação.

Um porta-voz do Hamas afirmou em comunicado que "os palestinos não aceitarão viver sob o bloqueio imposto na Faixa de Gaza e estão determinados a escrever seu documento de autodeterminação".

Em nota, o Exército israelense acusou os islamitas de "dirigirem uma operação terrorista sob a cobertura da multidão em dez localidades de Gaza".

"De acordo com as próprias declarações do Hamas e as informações que possuímos, o Hamas tenta realizar uma série de ataques terroristas, entre eles a infiltração em massa em Israel de vários pontos, que visa prejudicar os cidadãos de Israel e as forças de segurança", acrescentaram as forças israelenses na nota.

As forças israelenses também relataram mais cedo que havia "cerca de 10 mil manifestantes violentos em várias localidades ao longo da fronteira, e outros milhares estão se reunindo em tendas situadas a 500 metros da cerca de segurança". O Exército acrescentou que seus efetivos estão respondendo com métodos de dispersão de massas e com fogo real, e que estão "operando de acordo com seus procedimentos padrão".

As forças israelenses reforçaram sua presença na região com vários batalhões e comandantes militares no terreno para dirigir as operações. A região adjacente à Faixa foi declarada uma área militar fechada e também está proibido sobrevoar o espaço aéreo de Gaza.

Além disso, foi reforçada a segurança em Jerusalém, sobretudo em torno do prédio que hospedará a nova delegação diplomática americana.

Trump e Netanyahu celebram transferência da embaixada

Nesta segunda, Donald Trump e Benjamin Netanyahu, protagonistas no episódio da mudança da embaixada americana, celebraram no Twitter a data. "Um grande dia para Israel!", escreveu Trump no Twitter, recebendo um agradecimento de Netanyahu. "Um dia maravilhoso", respondeu o premiê.

Ivanka Trump, filha e consultora-sênior do presidente americano, representará os Estados Unidos na cerimônia, ao lado do marido Jared Kushner. Trump participará por meio de videoconferência.

Greve em massa em Gaza

Além dos protestos, Gaza vive nesta segunda-feira um dia de greve geral, com adesão massiva. Escolas, universidades, bancos, lojas e instituições públicas fecharam as portas e no começo da manhã alguns pneus foram queimados nos principais cruzamentos da capital, onde quase não há carros circulando.

Caminhões e ônibus, por outro lado, estão em vários pontos de Gaza e outras cidades para buscar os moradores e levá-los às fronteiras com Israel, onde foram convocadas manifestações. Além disso, a partir de alto-falantes, as mesquitas convocam a população para participar e se unir aos protestos, pedindo 1 milhão de pessoas nas ruas.

Amanhã também estão previstas manifestações em massa por causa da Nakba (Catástrofe, em árabe), como os palestinos denominam o exílio e usurpação que para eles representou a criação do Estado de Israel, que hoje completa 70 anos. 

(Com informações de agências internacionais)