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Em discurso alinhado, Trump e Putin negam complô nas eleições presidenciais dos EUA

Do UOL, em São Paulo

16/07/2018 12h55

Após um encontro que durou mais de três horas, os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, fizeram questão de ressaltar que não houve interferência nas eleições americanas de 2016, em que o republicano foi o vencedor. "Tenho muita confiança em nossas agências de inteligência, mas o presidente Putin foi extremamente forte e poderoso em sua negativa hoje", afirmou o americano. "Não vejo qualquer razão para a Rússia interferir nas eleições", disse Trump.

Durante a entrevista coletiva dada aos jornalistas nesta segunda-feira (16), em discursos e respostas bastante alinhadas, Putin afirmou que Moscou nunca interferiu "e nunca interferirá" em processos internos americanos, enquanto Trump repetiu várias vezes que não existiu "complô" com o Kremlin, dizendo que derrotou sua rival, Hillary Clinton, "facilmente e em uma campanha limpa".

A mensagem passada pelos dois líderes foi de que Trump aceita a versão dada por Putin de que não houve interferência, apesar das provas apresentadas pelo investigador independente designado para apurar o caso envolvendo as eleições nos EUA --na sexta-feira, mais 12 russos foram denunciados no caso. Além disso, Putin assumiu a liderança na hora de responder as questões feitas pela imprensa, enquanto Trump adotou um tom mais discreto.

"Tive que reiterar coisas que já disse várias vezes. O Estado russo nunca interferiu e nunca vai interferir nos processos internos americanos, incluindo as eleições", destacou Putin, que iniciou as declarações dadas pelos dois presidentes em Helsinque, na Finlândia.

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"Temos que ser guiados por fatos, não por boatos", afirmou Putin. "Você pode apresentar um único fato que comprove que houve complô? Isso não tem sentido algum", respondeu Putin a um jornalista americano. Perguntado ainda sobre a torcida para que Trump vencesse a eleição presidencial, o líder russo afirmou que "queria que Trump vencesse porque ele falou sobre a normalização das relações russo-americanas".

O presidente russo afirmou ainda que concordaria se o investigador independente americano, Robert Mueller, quisesse enviar oficiais dos EUA para interrogar os cidadãos russos indiciados no caso, desde que Moscou possa interrogar cidadãos americanos sob a suspeita de atos ilegais contra a Rússia. "Temos um acordo entre os Estados Unidos e a Rússia, que remonta a 1999 sobre a ajuda em casos criminais e este acordo ainda está em vigor. Neste quadro, [a Procuradoria americana] pode enviar um pedido para interrogar essas pessoas que são suspeitas", disse.

Putin afirmou que, em troca, Moscou poderia solicitar uma cooperação aos Estados Unidos para uma investigação sobre o investidor americano Bill Browder, suspeito de não pagar impostos na Rússia sobre uma fortuna de US$ 1,5 bilhão. Browder é um dos financiadores da campanha eleitoral da democrata Hillary Clinton, dando um aporte de US$ 400 milhões. "Talvez tenha mesmo sido uma contribuição legal, mas seu lucro foi obtido de maneira ilegal", apontou.

Investigação é ruim para EUA e Rússia, diz Trump

Na fala inicial, Trump disse que "abordou diretamente" a questão da interferência russa. "Nós gastamos um bom tempo falando sobre isso. Ele [Putin] considera essa questão muito importante e tem uma ideia interessante."

Depois, nas respostas aos jornalistas, Trump repetiu diversas vezes que a investigação liderada por Mueller fez muito mal para os EUA, aprofundando as divisões internas, e para a relação entre os dois países. "A relação entre EUA e Rússia nunca esteve tão ruim. Mas começou a melhorar há cerca de quatro horas", afirmou Trump, em referência ao período em que os dois presidentes estiveram reunidos.

Nas respostas, Trump evitou qualquer crítica relacionada à postura dos agentes russos acusados pela investigação e preferiu levantar dúvidas sobre a conduta dos democratas nas eleições. "Onde estão os milhares de e-mails desaparecidos de Hillary Clinton?", disse o presidente americano, em referência às mensagens deletadas da candidata democrata que também foram alvo de investigação do FBI. "Repito: não teve nenhum complô com a Rússia durante a campanha eleitoral", enfatizou.

"Diplomacia e envolvimento são preferíveis a conflito e hostilidade", afirmou Trump sobre a relação com os russos. "Não é apenas bom para os Estados Unidos e para a Rússia, mas bom para o mundo. Eu não irei tomar decisões sobre política externa para agradar a mídia ou os democratas que não querem fazer nada se não resistir e obstruir. Eu prefiro tomar riscos políticos em busca da paz, do que arriscar a paz em nome da política. Farei o que for melhor para o povo americano", pontuou o presidente americano.

"É óbvio para todos que as relações internacionais têm vivido um período difícil. A Guerra Fria acabou há muito tempo, a situação no mundo mudou drasticamente. A Rússia e os Estados Unidos estão, agora, enfrentando desafios totalmente diferentes", disse Putin.

13.jul.2018 - Donald Trump recebe a bola da Copa do Mundo de presente de Vladimir Putin durante encontro dos dois líderes em Helsinque - AP Photo/Alexander Zemlianichenko - AP Photo/Alexander Zemlianichenko
Putin dá a bola da Copa do Mundo de presente a Trump durante o encontro
Imagem: AP Photo/Alexander Zemlianichenko

A bola da Copa para Trump

Trump e Putin demonstraram um clima amistoso --Trump elogiou a Copa do Mundo realizada na Rússia, e Putin deu uma bola de futebol ao americano, que a lançou para sua mulher, Melania, afirmando que eles deveriam dar o presente ao filho, Barron. A postura amistosa de Trump ao lado de Putin ainda contrastou com o seu comportamento durante o encontro com líderes da Otan, em que o americano criticou o grupo, e em sua visita ao Reino Unido, onde Trump prejudicou ainda mais a premiê britânica, Theresa May, que enfrenta uma crise interna por desavenças em relação ao Brexit.

Esta é a quarta vez que um presidente americano e um russo se encontram na capital finlandesa, seguindo o caminho de Gerald Ford e Leonid Brejnev (1975), George Bush e Mikhail Gorbatchev (1990) e  Bill Clinton e Boris Yeltsin (1997). 

(Com agências internacionais)