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Árabes veem jantar com Bolsonaro como "primeiro passo" de reaproximação

Jair Bolsonaro discursa durante durante jantar de Confraternização da Federação das Associações Mulçumanas do Brasil (FAMBRAS) - Alan Santos/PR
Jair Bolsonaro discursa durante durante jantar de Confraternização da Federação das Associações Mulçumanas do Brasil (FAMBRAS) Imagem: Alan Santos/PR

Talita Marchao

Do UOL, em São Paulo

10/04/2019 22h52

Apesar do discurso curto e simples feito pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) aos embaixadores islâmicos e representantes do agronegócio brasileiro em um jantar em Brasília hoje, participantes do encontro se mostraram satisfeitos com as "palavras de apaziguamento".

O jantar, realizado pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, foi visto como um "primeiro passo" para restabelecer a comunicação entre a comunidade árabe e o governo de Bolsonaro após o mal-estar causado pelo alinhamento brasileiro com Israel e o debate sobre a mudança da embaixada de Jerusalém --que não ocorreu.

Durante o jantar, a viagem do presidente a Israel não foi abordada diretamente. Em entrevista ao UOL após o encontro, o embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Albezen, afirmou que o encontro serviu para "quebrar o gelo".

"Teremos um momento certo em breve para falar sobre as questões envolvendo estas questões bilaterais, com o grupo de embaixadores, com o Itamaraty, com o Congresso brasileiro e com o próprio presidente. Isso deve ser feito em um encontro de trabalho. Hoje não era momento para isso, era para restabelecer o contato depois de meses de falta de comunicação", disse o diplomata, decano do conselho de embaixadores árabes e islâmicos.

Jantar - Alan Santos/PR - Alan Santos/PR
O embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Albezen, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM), e Bolsonaro durante jantar com árabes
Imagem: Alan Santos/PR

Ali Saifi, diretor-executivo da certificadora de alimentos Cdial Halal, principal empresa do segmento no país, também considerou o jantar positivo, mas diz que esperava um discurso mais claro sobre as intenções do governo brasileiro em relação aos países árabes.

"A gente esperava um discurso mais efetivo. Mas a representatividade dele foi excelente. Bolsonaro conversou com todo mundo, mesmo que brevemente. Tive a oportunidade de falar para o presidente sobre a importância do mercado árabe. E ele me assegurou que quer uma boa relação com todos e que o nosso setor é importante", contou o empresário.

O Brasil é hoje o maior exportador de carne halal --abatida segundo costumes islâmicos-- no mundo. "Bolsonaro foi bem focado em apaziguar e reforçar esta aproximação", avaliou Saifi.

O embaixador palestino celebrou ainda a "ótima oportunidade para estabelecer contato com o governo e iniciar uma conversa amiga". "Acho que, falando, a gente se entende. Este é um primeiro passo para alinhar as arestas dos últimos três, cinco meses", afirmou.

"Não falamos de política, falamos de boas intenções e vamos continuar a manter este contato com base no interesse mútuo. Confio que o Brasil se manterá como um país amigo", destacou o diplomata.

Participaram do jantar cerca de 50 pessoas. Aos presentes, Bolsonaro falou por menos de dois minutos e pediu que "esses laços comerciais, cada vez mais, se transformem em laços de amizade, de respeito e de fraternidade".

"Nosso governo está de braços abertos a todos, sem exceção", disse o presidente, que também confirmou que visitará os países árabes neste primeiro semestre. O UOL apurou que os Emirados Árabes e o Egito estariam nos planos e que a visita deve ocorre no meio de junho, antes da cúpula do G20, que acontece no Japão no final do mesmo mês.

Os participantes do encontro destacaram o clima bom do jantar, sem as polêmicas que se destacaram nas últimas semanas em relação às inseguranças de países árabes pela viagem de Bolsonaro a Israel e pelo anúncio da instalação de um escritório de negócios em Jerusalém --e não da embaixada, que permanece em Tel Aviv.

Desde que voltou de viagem, o presidente afirmou que ainda não desistiu da mudança da missão diplomática brasileira e que a relação do Brasil com Israel é como um namoro, em que os dois países estão se conhecendo melhor.