Árabes comemoram presença de Bolsonaro em jantar: "Sinal de aproximação"

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o chanceler Ernesto Araújo se reúnem hoje à noite com os 51 embaixadores muçulmanos e representantes do agronegócio brasileiro, principalmente produtores da carne halal. O encontro é visto como um primeiro movimento concreto de aproximação do governo com o mercado árabe.

O jantar foi articulado pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, em uma tentativa de apaziguar os ânimos após o mal-estar causado pelo alinhamento da diplomacia brasileira com Israel.

Em entrevista ao UOL, Ali Saifi, diretor executivo da certificadora de alimentos Cdial Halal, principal empresa do segmento no país, afirmou que as expectativas do setor com o encontro são grandes. "A presença de Bolsonaro é fantástica, esta é a melhor mensagem possível para este momento. Mas é de suma importância, que tanto a ministra quanto o próprio presidente mandem uma mensagem clara para os árabes de suas intenções diplomáticas e de parcerias comerciais com estes países", afirmou o empresário. Segundo ele, o Brasil é hoje o maior exportador de carne halal --abatida segundo costumes islâmicos-- no mundo.

Já o embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Albezen, decano do conselho de embaixadores árabes e islâmicos no Brasil, disse ter recebido a notícia da reunião com alegria e satisfação.

O diplomata já tinha feito o pedido para que Bolsonaro e Araújo recebessem os embaixadores muçulmanos após a viagem a Israel. Agora, ele vê uma chance de reforçar a parceria do país com os árabes e islâmicos e, se tiver oportunidade, de tocar em temas que ganharam destaque na visita brasileira a Israel, como a criação do escritório de negócios em Jerusalém. "É um grande sinal de aproximação e esclarecimento de alguns assuntos que preocupam o mundo árabe e islâmico", disse.

O grupo de embaixadores árabes já tinha se reunido na semana passada para analisar os desdobramentos da visita da comitiva brasileira a Jerusalém, incluindo o incômodo de algumas declarações relacionadas à política externa brasileira. "O diálogo com o governo brasileiro é o melhor caminho para esclarecer estas declarações e cuidar de que elas não abalem as relações com os países árabes e para a questão palestina, que é a questão central do mundo árabe", disse o embaixador.

"A relação bilateral do Brasil com outros países não é o nosso tema. Respeitamos a soberania de todos os países com quem temos relações", disse o embaixador.

Albezen já tinha sido recebido pelo secretário-geral Otávio Brandelli, número 2 no Itamaraty, na semana passada. Segundo o embaixador palestino, Brandelli fez questão de destacar que a aproximação com Israel não será feita em detrimento da relação com os palestinos ou com o mundo árabe e islâmico.

Mensagem para os árabes e agradecimentos à ministra

Preocupado com o impacto nas relações comerciais com os árabes, o diretor da Cdial Halal lembra ainda que os países árabes nunca pediram nada diferente da "imparcialidade que o Brasil sempre teve". "Os árabes sempre foram os nossos principais clientes. Firmes, estáveis, bons pagadores, bons compradores e nunca pediram que o Brasil ficasse em uma calça curta", afirma o diretor da certificadora de carne halal.

Saifi explica como tem administrado a insatisfação dos compradores: "Quando os importadores árabes nos mostram insegurança, nosso discurso é sincero. Falo que é uma questão de ajuste, que o Brasil vai entender que a atual situação. Digo que o governo é novo, que talvez não teve a oportunidade de entender toda a importância desse mercado".

Segundo o empresário, a preocupação é que não dá para controlar a decisão de um país ou de outro. "Até agora, não houve uma mensagem positiva aos árabes, e eles esperam algo bom", disse. E eles esperam que esse sinal seja dado esta noite.

Em comum, tanto o embaixador quanto o empresário de carne Halal assinalam o empenho de Tereza Cristina, ligada à bancada ruralista.

"Vejo que ela já é a nossa representante. Sinto que ela já está do nosso lado. Quando ela toca no assunto, mostra interesse do país e entende a necessidade do setor", diz Saifi.