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Chanceler fica no Brasil e filho de Bolsonaro faz tour por Europa 'direita'

Jair Bolsonaro agradece ao filho na Europa. Ernesto Araújo ficou no Brasil, mas tratou de comércio com China - Reprodução/Twitter/@jairbolsonaro
Jair Bolsonaro agradece ao filho na Europa. Ernesto Araújo ficou no Brasil, mas tratou de comércio com China Imagem: Reprodução/Twitter/@jairbolsonaro

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

20/04/2019 16h10Atualizada em 20/04/2019 20h14

O terceiro filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), fez um périplo neste feriado pela Europa. Ele visitou Hungria e Itália, dois países que têm modelos políticos em comum com o Brasil: são dirigidos por governos de direita e que também são populistas, de acordo com critérios de estudo internacional do Team Populism, da Universidade de Brigham Young.

Paralelamente, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, seguiu o fim de semana sem compromissos, depois de voltar de uma viagem que fizera ao Chile, na segunda-feira. No mês passado, nos EUA, o chanceler se irritara ao saber que Eduardo Bolsonaro havia participado de um encontro entre o pai e o presidente norte-americano, Donald Trump.

Porém, na quarta-feira (17), Araújo almoçou com empresários e ruralistas que fazem negócios com a China.

Naquele dia, Eduardo Bolsonaro - que é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara - desembarcava na Hungria.

A viagem foi feita com o aplauso do presidente Jair Bolsonaro ao filho. "Agradeço Eduardo Bolsonaro, que sempre ajudou a resgatar a confiança no Brasil mundo afora", escreveu o presidente e pai do parlamentar em rede social na sexta-feira (18). "O presidente da Comissão de Relações Exteriores foi recebido hoje pelo premiê húngaro Viktor Orban, que se colocou à disposição e dividiu experiências positivas de abertura econômica na Hungria", continuou.

A assessoria do Itamaraty disse ao UOL neste sábado (20) que não comentaria a viagem de Eduardo Bolsonaro, os agradecimentos do presidente ou os motivos de Araújo não ter participado da ida à Europa. Afirmou que se tratava de agendas diferentes. Os assessores de Araújo disseram que, como o chanceler dos EUA não estava no encontro com Trump, o ministro brasileiro também não necessitaria estar lá.

Eduardo Bolsonaro não retornou os contatos feitos pela reportagem hoje. Os deputados Marcel Van Hattem (Novo-RS) e Carlos Zarattini (PT-SP), membros da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, disseram não saber se a viagem de Eduardo Bolsonaro foi uma missão oficial da Casa ou do colegiado. "Não é missão da comissão", garantiu Zarattini.

Programa de rádio de Orbán é "inspirador", diz deputado

Na Hungria, Eduardo Bolsonaro se encontrou com o primeiro-ministro Viktor Orbán. Lá, o deputado disse que aprendeu com o político de direita sobre o "trato com a imprensa sem [ser] politicamente correto". Ele ainda disse que aprendeu com a cultura do país e considerou "inspirador" a fala semana que Orbán faz em redes de rádio semanalmente.

#brasil #bolsonaro

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"A política externa brasileira e húngara está colocada em bases completamente novas", disse o ministro das Relações Exteriores da Hungria, Péter Szijjártó, de acordo com o jornal Magayar Nemzet. A notícia foi notícia compartilhada por Eduardo Bolsonaro.

"A Hungria está prestando mais atenção ao Brasil", continuou o húngaro.

Vice-premiê italiano agradeceu o fato de Battisti estar na cadeia

Na sexta-feira (19), Eduardo Bolsonaro foi à Itália. Lá, em Milão, gravou uma transmissão ao vivo pelo Facebook com o vice-premiê e ministro do Interior, Matteo Salvinini

"Trago aqui um pedido sincero de desculpas pelo terrorista Cesare Battisti", anunciou Eduardo Bolsonaro, na conversa interpretada pelo deputado do Parlamento Italiano, Roberto Lorenzato. "Trinta e sete anos, o Battisti que estava na praia e agora está na cadeia, para não sair mais", agradeceu o vice-premiê Salvini, depois do pedido de desculpas.

A Itália é governada pelo premiê Giuseppe Conte, considerado um populista pelos estudos do "Team Populism". Mas os líderes de fato são Salvinni da Lega Norte, e Luigi di Mayo, do Movimento Cinco Estrelas, explica a advogada e ex-deputada ítalo-brasileira Renata Bueno, que faz pós-doutorado em Direito Internacional na Universidade de Roma.

Ela contou ao UOL que a Salvini foi contraditório no vídeo ao prometer abrir espaço para brasileiros emigrarem para a Itália e obterem cidadania. Existe uma proposta que a Lega entregou ao Parlamento para restringir esses benefícios, inclusive aos brasileiros. "Temos muitos brasileiros que sofrem aqui com essa nova política de imigração. Eles estão radicalmente duros com isso."

Chanceler tomou café com presidente chileno

Do lado de cá do hemisfério, o chanceler Ernesto Araújo tomou café com o presidente do Chile, Sebastián Piñera, na segunda-feira pela manhã. Passou o dia em negociações com chanceleres no Chile. Entre terça-feira e quinta, estava no Brasil, quando se reuniu com assessores, militares, parlamentares e foi a uma cantata de Páscoa no Palácio do Planalto. Não teve compromissos a partir de sexta-feira.

Na quarta-feira, porém, Araújo se reuniu com empresários e ruralistas sobre o tema da China. O país é o principal parceiro comercial do Brasil, mas volta e meia é atacado com declarações do próprio chanceler.

Um dos coordenadores da bancada ruralista no Congresso, o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) disse ao UOL que essa reunião do chanceler deve ser tratada pela Frente Parlamentar Agropecuária na próxima terça-feira. Ele disse que questões "ideológicas" do governo se somam a outros problemas do agronegócio. "É um erro essa questão ideológica de Jerusalém [entrar dentro do conflito israelo-palestino, o que ameaça exportações para países árabes] e China", avaliou Goergen. "Tem que vender para quem quer comprar e paga bem pelos nossos produtos."

A assessoria do Itamaraty disse ao UOL que o encontro de Araújo com empresários chineses e ruralistas foi preparatório a "reunião de alto nível Brasil-China", ainda sem data para ocorrer. Os temas a serem tratados são variados e incluem comércio, agricultura, ciência e tecnologia, saúde e educação.