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Acusado de assassinar brasileira na Austrália vai a júri popular no Rio

Cecília Müller Haddad, morta na Austrália - Divulgação - 7.jul.2018
Cecília Müller Haddad, morta na Austrália Imagem: Divulgação - 7.jul.2018

André Rosa

Colaboração para o UOL, de Sydney, na Austrália

29/04/2019 18h17Atualizada em 29/04/2019 18h18

Sete jurados vão decidir o futuro do engenheiro Mário Marcelo Ferreira dos Santos Santoro, 41, acusado de ter assassinado a também engenheira e sua ex-namorada Cecília Müller Haddad, 38, há um ano em Sydney, na Austrália. Santoro será julgado por homicídio qualificado por meio de asfixia, feminicídio e ocultação de cadáver.

Cecília desapareceu no dia 28 de abril de 2018. Seu corpo foi localizado um dia depois por canoístas na beira de um rio a oito quilômetros de sua casa. A vítima foi amarrada com pesos de mergulhador para que o corpo não flutuasse.

De acordo com a denúncia oferecida pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ), com base na investigação da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Marcelo Santoro não concordou com o fim do relacionamento com Cecília e a matou asfixiada.

Após o crime, Marcelo viajou para o Brasil, antecipando a passagem aérea, já que o retorno estava previsto para a semana seguinte.

Ainda não há data para a realização do júri. João Paulo Martinelli, advogado criminalista e doutor em direito penal pela USP e professor da Escola de Direito do Brasil, acredita que a questão emocional dos jurados, a repercussão do caso na mídia e até mesmo a presença de mulheres no júri são fatores que podem influenciar na decisão.

Cecília relatava para os amigos ter medo de Santoro

No domingo, amigos de Cecília Haddad que moram na Austrália organizaram uma missa em Perth, cidade australiana onde Cecília morou por anos, em homenagem a ela. "É uma dor sem tamanho. Sofro todos os dias. Ela faz muita falta na minha vida", Carolina Câmara, amiga de Cecília desde que ambas chegaram à Austrália, em 2007.

Familiares também fizeram uma cerimônia religiosa em Ipanema, cidade-natal da engenheira.

Familiares e alguns amigos próximos de Cecília relatam que ela sofria terror psicológico, ciúme doentio e perseguições em seu dia a dia, mesmo após o fim do relacionamento.

"Eu sempre falava para ela avisar a polícia e contar o que ele estava fazendo com ela. Eu dizia para ela não ter medo, apenas para ela ser vigilante. A Cissa não via o Marcelo como um perigo na vida dela, apenas como uma pessoa chata que vivia no pé dela, mesmo ela não querendo mais nada com ele", conta Carolina.

"Depois que ela passou a trabalhar longe de casa, ela preferiu dormir na casa de amigos e, quando ela retornava para casa, ela dormia com a porta trancada do quarto, com receio de que a qualquer momento pudesse chegar ao apartamento dela, batendo na porta e implorando, chorando para ela abrir. Até a fechadura da porta ela disse que avisou a imobiliária para trocar para impedir a entrada dele", diz.

O medo que Cecília dizia sentir de Marcelo Santoro também era percebido pela sua família que vive no Rio de Janeiro.

"Sempre fomos muito próximos. Nos falávamos praticamente todos os dias. Em algumas vezes ela disse para mim e para a minha esposa que ele [Santoro] estava perseguindo ela na rua. Então a gente pedia para ela procurar a polícia", diz João Müller Haddad, irmão de Cecília.

Segundo João, Santoro chegou a dizer que se mataria se ela não retomasse o relacionamento. "Ela nunca fez nada contra ele, pelo contrário, sempre o ajudou, pois sempre teve muita pena dele, por conta das filhas que ele tem no Brasil e por ele não ter emprego fixo", completou.

Depressão na cadeia

Marcelo Santoro está preso no Presídio Pedrolino Werling de Oliveira (Bangu 8), do Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio, numa ala exclusiva para detentos com curso superior.

O UOL apurou que ele está depressivo e faz uso de medicamentos controlados. Um pedido de instauração de incidente de insanidade foi formulado pelos seus advogados de defesa, mas foi negado pela Justiça.

No início deste mês, os advogados que defendiam Marcelo Santoro renunciaram ao caso. Agora, ele deverá apresentar novos advogados de defesa ou será assistido por um defensor público.

O UOL tentou conversar com familiares de Marcelo Santoro por meio de uma lista de números de celulares e telefones residenciais a que a reportagem teve acesso.