Ex-detento muçulmano denuncia tortura em 'campo de reeducação' chinês
Um ex-detento muçulmano cazaque denuncia que foi torturado em um "campo de reeducação" chinês. Omir Bekail, do Cazaquistão, é uma das poucas pessoas que conseguiu sair do campo na região de Xinjiang, na China. Ele foi preso em 2017, mas foi solto sete meses depois e relata que nesse tempo sofreu torturas e acredita que seria vítima de tráfico de órgãos.
De acordo com o site Mirror Online, acredita-se que aproximadamente um milhão de muçulmanos estejam presos forçadamente nesse local chamado pelo PCC (Partido Comunista Chinês) de "campos de reeducação".
Omir conta que entre as agressões sofridas no local estavam as mãos sendo esmagadas por martelos e as costas machucadas com chicote de ferro. Ele afirma que as autoridades chinesas querem fazer uma limpeza étnica no país e pediu para que o Ocidente realize ações contra a prisão de muçulmanos porque isso pode ser um presságio de algo pior que pode ser feito no país.
"Eles [as autoridades] estão cometendo genocídio agora, mas quando forem fortes o suficiente, todos os humanos sofrerão por seu regime brutal. Vai acontecer muito em breve se o mundo não se encurralar contra isso", disse o ex-detento.
A prisão
Omir costumava viajar frequentemente entre o Cazaquistão e a China devido à empresa que administrava. Em março de 2017, ele foi visitar a sua mãe na região chinesa de Xinjiang quando foi detido por cinco policiais e colocado forçadamente dentro de um carro.
Segundo o site, Omir era suspeito de ter convidados chineses a irem ao Cazaquistão, além de os ajudar com visto para a entrada no país. O homem então foi acusado de "instigar o terrorismo".
Ele conta que foi levado para uma delegacia de polícia onde ficou preso por oito dias. Depois, ele teve as mãos algemadas e um capuz preto colocado na cabeça. Sem conseguir se mexer, um médico foi chamado para tirar o sangue dele e verificar seus órgãos. Para Omir, isso foi feito para verificar se ele era um bom candidato para a retirada dos órgãos.
Após a análise, ele começou a ser torturado. "Fui amarrado a uma cadeira chamada cadeira tigre. Toda a minha pele foi apertada com madeira e minhas mãos foram esmagadas com alguns martelos. Com chicotes de ferro, eles me chicotearam nas costas e na frente [do meu corpo]", conta.
Em outro momento, o homem de 40 anos explicou que teve as mãos e os pés arramados e foi içado para que o seu estômago fosse espancado, na tentativa de que admitisse que fazia parte de uma organização terrorista.
"Nos primeiros três meses, fui algemado nos pés. Uma corrente de ferro estava ligada a uma espécie de pau. Não conseguia me mexer. Quase fiquei com medo e perdi as esperanças por um tempo. Fui torturado apenas nos pés, mas não nos órgãos internos. Eles [torturadores] os deixaram perfeitos. Eles nunca os tocaram."
Omir ainda contestou a versão das autoridades chinesas de que o lugar seria para reeducar as pessoas. Segundo a AFP, as autoridades evitam falar sobre os campos, mas alguns deles são comentados na mídia estatal com o argumento de que mudanças ideológicas são precisas para combater o extremismo islâmico e o separatismo.
"É uma mentira completa que eles reeduquem as pessoas. Existe apenas tortura, estupro, e assédio físico e mental. Não há nada a ensinar. Eu experimentei muitas vezes um grande número de detidos sendo transferidos para algum lugar. Eu suspeito que eles foram para outras províncias, para o comércio ou extração de órgãos. Nunca mais os vi em sete meses. Eles nunca mais voltaram."
O preso foi liberto depois que a sua mulher falou sobre a prisão em uma rádio do Cazaquistão e escreveu ao embaixador chinês no país, que encaminhou a demanda ao país, que permitiu a liberação do homem.
Apesar das torturas serem impossíveis de provar devido a falta de acesso a esses campos, o fato de ele ter sido detido foi confirmado por um comunicado oficial do centro de detenção preventiva de Karamay. O documento ainda informa que Omir foi detido por colocar a segurança nacional em perigo, mas foi libertado sem acusações.
Após a libertação, o homem fugiu para a Turquia, onde começou a expor para a mídia e órgãos sobre a situação que viveu no campo de reeducação. Ela ainda explica que depois da exposição começou a ser ameaçado de morte por autoridades chinesas.
Agora, Omir conta que espera que os governos ocidentais pressionem o PCC para libertar os muçulmanos presos em Xinjiang.
"Os governos deveriam se manifestar ou minha nação desaparecerá muito em breve. O mundo ocidental não conhece muito bem o governo chinês. Os países ocidentais precisam agir imediatamente", finalizou.
*Com informações da AFP
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