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2021 está ruim? Historiador aponta que 536 foi o pior ano para estar vivo

Migração de pessoas, causada pela fome, proliferou peste que matou um terço do Império Romano do oriente - Reprodução
Migração de pessoas, causada pela fome, proliferou peste que matou um terço do Império Romano do oriente Imagem: Reprodução

Colaboração para o UOL, em São Paulo

13/04/2021 11h10Atualizada em 14/04/2021 12h27

O início da pandemia de covid-19 marcou 2020 como um ano obscuro para a humanidade. A angústia causada pelas mazelas do vírus e aspectos geopolíticos e ambientais conturbados contribuiu para que no fim do ano muitos olhassem para trás e pensassem: "Pode ter um ano pior do que esse?".

Para Michael McCormick, professor de história da Universidade de Harvard, a resposta é sim. Segundo ele, o ano de 536 foi não apenas um ano catastrófico como também "o início de um dos piores períodos para se estar vivo".

O que desencadeou o período literalmente sombrio foi a erupção de um vulcão na Islândia, que alastrou cinzas que cobriram vários quilômetros da atmosfera, bloqueando a luz do Sol. Com isso, além de viver na escuridão, as pessoas tiveram de se adaptar a mudanças climáticas severas, que deram início à década mais fria dos últimos 2,3 mil anos.

A erupção na Islândia, país europeu, causou problemas não só em seu continente, tal como o Oriente Médio e a China sofreram com a densa neblina. Os padrões climáticos imprevisíveis causaram, por exemplo, registros de neve em pleno verão chinês.

Além de respirar um ar sufocante, as pessoas da época se viam sob o céu escuro, que, sem Sol, não provia a vitamina D para os seus corpos, facilitando o desenvolvimento de doenças como o raquitismo.

A magreza também foi inevitável por conta da fome. Safras de cereais foram perdidas em diversas regiões, fomentando a miséria e o pesadelo diário que era viver nas regiões afetadas pela erupção no século 6.

A cada mês de 2020, as notícias sobre o mundo pareciam ficar piores. No período após a erupção do vulcão Eyjafjallajökull, o ciclo vicioso não foi tão diferente, com uma segunda erupção abaixando as temperaturas novamente. Logo, em 541, os dias escuros, o frio e a fome ganharam uma nova companheira para atormentar os cidadãos da época: a pandemia Justiniana.

Embora o surto da peste bubônica no século 6 possa ser menos lembrado do que a recorrência da doença no século 14, a pandemia do século 6 ainda foi responsável por destruir pelo menos um terço da população do Império Romano oriental.

É provável que a escassez de alimentos tenha enfraquecido as populações e as tornado mais suscetíveis ao patógeno. "A fome quase certamente levou a migrações em massa de pessoas também", disse o professor McCormick para o site UPI. Fato esse que teria contribuído para a proliferação da doença.

McCormick não nega que a pandemia da covid-19 "é terrível". No entanto, ele chama atenção para a diferença taxa de mortalidade da peste do século 6, que variava entre 40% a 60% dos infectados. Nos países que têm dados da pandemia reunidos pela Universidade John Hopkins, por exemplo, a pandemia de covid-19 é fatal para 2,1% dos infectados.

"[O ano] 536 foi apenas o começo de um período muito difícil", disse o professor, que acredita que a chegada da peste às costas da Europa, em 541, provocou uma paralisia econômica no continente até 640.

Entrevistado pelo History, o professor McCormick afirmou que nem mesmo as Guerras Mundiais do século passado, somadas as pandemias que assolaram a humanidade no último século possam ser comparadas ao terrível período desencadeado pela erupção do vulcão em 536.

Para ele, as pessoas não estavam histéricas por imaginarem o fim do mundo em meio a tantos desastres naturais e sociais na sequência.