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Biden oficializa saída de tropas do Afeganistão: 'Hora de a guerra acabar'

"Nossas razões para continuar no Afeganistão foram se tornando cada vez mais obscuras", justificou Biden - Saul Loeb/AFP
"Nossas razões para continuar no Afeganistão foram se tornando cada vez mais obscuras", justificou Biden Imagem: Saul Loeb/AFP

Do UOL, em São Paulo*

14/04/2021 16h07Atualizada em 14/04/2021 21h11

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou hoje o plano para retirada das tropas americanas que ainda estão no Afeganistão, a ser iniciada em 1º de maio. A previsão, segundo o democrata, é de que o processo seja concluído até 11 de setembro — exatamente 20 anos depois dos atentados terroristas contra os EUA coordenados pela Al-Qaeda.

"Sou agora o quarto presidente dos EUA a ocupar o cargo em meio à presença de tropas no Afeganistão. Dois [presidentes] republicanos, dois democratas. Não passarei essa responsabilidade a um quinto", disse Biden em pronunciamento transmitido em rede nacional. "Cheguei à conclusão de que é hora de acabar com a guerra mais longa dos EUA. É hora de as tropas americanas voltarem para casa."

Logo após o anúncio de Biden, a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) emitiu uma nota confirmando que os aliados envolvidos na missão no Afeganistão — EUA, Alemanha, Itália e Turquia — começarão a retirar suas tropas a partir de 1º de maio. Segundo o jornal The New York Times, a organização mantém quase 7 mil soldados no Afeganistão.

Para Biden, os motivos para manter as tropas no Afeganistão foram se tornando "cada vez mais obscuros" nos últimos anos, acrescentando que, desde que visitou o país, ainda como vice de Barack Obama, é defensor que apenas a população afegã "tem o direito e a responsabilidade de conduzir seu país".

Ele lembrou que Osama bin Laden foi morto há dez anos e, mesmo assim, as tropas americanas permaneceram no Afeganistão até então.

"Eu acreditava que nossa presença no Afeganistão deveria ser focada no motivo pelo qual fomos até lá: assegurar que o país não fosse usado como uma base de onde pudessem atacar nossa pátria novamente. Nós fizemos isso, cumprimos esse objetivo. Eu disse, assim como outros, que seguiríamos Osama bin Laden até os portões do inferno, se fosse necessário. Foi exatamente o que fizemos, nós o pegamos", acrescentou.

Nós fizemos justiça com Bin Laden há uma década, e permanecemos no Afeganistão por uma década desde então. Nossas razões para continuar no Afeganistão foram se tornando cada vez mais obscuras, mesmo com a ameaça terrorista que fomos combater envolvida
Joe Biden, presidente dos EUA

A data para o início do processo já havia sido acordada com o Taleban pelo governo de Donald Trump, derrotado nas urnas por Biden em 2020. Segundo o atual presidente, a retirada das tropas será feita sem pressa, de forma "segura" e "coordenada".

"Não vamos nos precipitar com a saída. Vamos fazer isso de forma responsável, deliberada e segura. Vamos fazer isso em plena coordenação com nossos aliados, que agora têm mais tropas no Afeganistão que nós. Que o Taleban saiba que, se nos atacarem enquanto retiramos as tropas, nós vamos nos defender e defender nossos aliados com todas as ferramentas que tivermos", alertou.

O presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, disse que falou com Biden antes de seu discurso e falou em parceria com os EUA. "A República Islâmica do Afeganistão respeita a decisão dos EUA e trabalharemos com nossos parceiros americanos para garantir uma transição tranquila", disse Ghani, em post no Twitter.

Proteção às mulheres

Sem dar muitos detalhes, Biden anunciou ainda que os EUA continuarão oferecendo ajuda humanitária às mulheres e meninas afegãs, mesmo depois da retirada completa das tropas. Uma "significativa" rede de assistência será mantida no país, de acordo com o presidente americano.

"Vamos pedir que os outros países da região façam mais para apoiar o Afeganistão, especialmente o Paquistão, mas também a Rússia, a China, a Índia e a Turquia", listou o democrata. "Nos próximos meses, também definiremos como será a presença diplomática dos EUA no Afeganistão".

Após o pronunciamento de Biden, a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, divulgou uma nota em apoio ao plano de retirada das tropas, que classificou como "uma evolução bem-vinda".

"O cronograma anunciado pelo governo Biden para uma saída segura, estratégica e ordenada das tropas americanas do Afeganistão é uma evolução importante e bem-vinda. Como presidente da Câmara, eu apoio essa transição e a liderança do presidente Biden para proteger a segurança de nossas tropas e a segurança do povo americano, que deve ser nossa prioridade", afirmou.

[O Congresso americano] Segue comprometido com a busca pela paz e segurança no Afeganistão e na região, incluindo um governo afegão que respeite os direitos humanos de toda a população. Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos EUA

(Com ANSA e Estadão Conteúdo)