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Reitor do pré-seminário do Vaticano nega abuso sexual: ?vingança pessoal?

Para responsável pelo instituto, denúncias de um suposto caso de abuso sexual teriam sido inventadas por um ex-aluno Imagem: Vincenzo Pinto/AFP

Colaboração para o UOL

14/04/2021 22h27

O Tribunal do Vaticano realizou hoje a nona audiência de um suposto caso de abuso sexual contra um menor no pré-seminário São Pio X, localizado dentro dos muros da Cidade-Estado.

Entre outras testemunhas, os juízes vaticanos ouviram o atual reitor da instituição, Dom Angelo Magistrelli, que negou que qualquer tipo de violência sexual tenha acontecido dentro do internato entre 2007 e 2012. Magistrelli falou em "vingança pessoal" contra a escola.

Este é o primeiro processo contra um suposto caso de abuso sexual realizado dentro da sede mundial da Igreja Católica. Os magistrados do Vaticano tentam esclarecer o que teria acontecido no pré-seminário situado não muito longe da atual residência do pontífice, a Casa Santa Marta, e conhecido por fornecer os "coroinhas do papa".

Os réus são os padres Gabriele Martinelli, hoje com 29 anos, e Enrico Radice, 71, ex-reitor da instituição. Martinelli é acusado de ter violentado repetidas vezes um colega de internato, identificado pelas iniciais L.G., um ano mais novo do que ele.

Segundo os relatos, o acusado e a vítima tinham 14 e 13 anos no momento dos fatos, que se prolongaram por cinco anos. Martinelli foi ordenado padre em 2017. Radice é acusado de encobrir o suposto crime.

De acordo com Magistrelli, que administra a 'Opera Don Folci', instituição responsável pelo seminário, as acusações de abuso sexual são frutos de uma "feroz vingança pessoal".

Questionado por mais de uma hora pelo presidente do Tribunal Vaticano, Giuseppe Pignatone, ele acusou um ex-estudante da escola, o jovem polonês Kamil Jarzembowski, expulso do seminário em 2014, de ser o autor da "enxurrada de denúncias".

Dom Magistrelli afirmou que Kamil foi expulso por sua "conduta imprópria" - que incluiria uma fuga da escola, em 2013, para se encontrar com um ex-pré-seminarista com quem ele estava "emocionalmente ligado" -, e que nunca aceitou a expulsão, o que motivou as falsas denúncias.

Já o polonês sustenta que foi banido do seminário antes de concluir os estudos, depois de ter alertado as autoridades eclesiásticas e do Vaticano sobre o crime que presenciava. Ele é a única testemunha ocular dos fatos.

O reitor de São Pio X garantiu em audiência que, após a expulsão, Jarzembowski "prometeu se vingar". Também foram ouvidos hoje o ex-presidente de uma escola na qual Martinelli, L.G. e Kamil estudaram, assim como o vice-reitor do pré-seminário. Ambos afirmaram nunca terem recebido reclamações ou denúncias sobre possíveis abusos sexuais cometidos pelo padre.

A próxima audiência está marcada para o dia 27 de abril e ainda há doze testemunhas a serem ouvidas. A sentença, portanto, ainda está muito longe.

Entenda o caso:

O escândalo veio à tona pela primeira vez em 2017, com a publicação do livro "Pecado Original", do jornalista italiano Gianluigi Nuzzi. Na obra, Nuzzi relata as supostas tentativas de Kamil de denunciar as agressões sofridas pelo colega L.G.

Segundo os depoimentos do jovem polonês no livro, Martinelli era autorizado a visitar o pré-seminário várias vezes durante a noite — totalizando pelo menos até 140 "visitas" — para ter relações sexuais com seu colega de quarto, que "se sentia obrigado a ceder às exigências" do suposto agressor, de acordo com Jarzembowksi.

Com a confiança do bispo reitor do lugar, o jovem exercia "uma forma de poder e de intimidação" sobre os mais jovens, impondo "bullying, ou atos sexuais", afirma a testemunha.

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