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Vítima de pedofilia em carta ao papa: 'fui abusado e o padre transferido'

Papa Francisco teria recebido carta com denúncia de abuso sexual e negligência por parte da Igreja Católica - Andreas Solaro/Pool via REUTERS
Papa Francisco teria recebido carta com denúncia de abuso sexual e negligência por parte da Igreja Católica Imagem: Andreas Solaro/Pool via REUTERS

Colaboração para o UOL

09/04/2021 19h59

De acordo com a imprensa italiana, uma suposta vítima (agora já adulto) de violência sexual por membro do clero enviou uma carta ao papa Francisco, em outubro de 2020. Na mensagem, ele relata anos de abusos sofridos quando ainda era menor de idade por parte de um seminarista - hoje padre - da província de Ena, na região da Sicília, Itália.

Segundo o jornal romano Il Messaggero, que descreve a carta como "terrível", o papa nunca teria retornado ao jovem. No texto, o rapaz diz ter escrito ao pontífice considerando a sua posição de líder máximo da Igreja Católica, antes de decidir levar o caso às autoridades italianas.

Alessandro (nome fictício dado pelos jornais) queria que o papa soubesse que o bispo da diocese siciliana onde teriam acontecido os abusos, entre 2008 a 2013, Dom Rosario Gisana, mesmo "sabendo de tudo", decidiu apenas transferir o sacerdote acusado para Ferrara, no norte do país, por um período de dois anos, com a justificativa de que ele iria terminar seus estudos teológicos para se formar padre.

Na carta, Alessandro, hoje com 27 anos, descreve detalhadamente toda a burocracia ao qual foi submetido pela Igreja Católica: "em 2018, apresentei uma queixa por escrito ao monsenhor Rosario Gisana, que já havia sido informado do caso por meus pais".

Foram audiências privadas, interrogatórios e reuniões que culminaram em uma investigação preliminar pelo Tribunal Eclesiástico de Palermo, da qual "nada se sabe", conta.

Segundo a imprensa da Itália, o suposto padre abusador, Don Giuseppe Rugolo, depois de ter sido ordenado sacerdote, continuou comandando uma associação infantil com centenas de jovens e presidindo missas e cerimônias religiosas.

Os pais de Alessandro também disseram que foram contatados pela diocese siciliana, que lhes ofereceu 25 mil euros (o equivalente a cerca de 169.000 reais) em troca de uma cláusula de "sigilo e silêncio". A diocese, porém, nega essa informação.

Ao papa, Alessandro manifestou sua consternação: "a minha dor reapareceu quando vi que Don Rugolo estava sendo entrevistado, próximo ao período da Páscoa, durante o lockdown do ano passado, para falar sobre a realidade da associação juvenil de Ena", escreveu na carta.

Meses depois, o padre voltou à cidade "como se nada tivesse acontecido", revela na mensagem, participando, inclusive, de procissões e eventos públicos.

A suposta vítima ainda implora ao papa que se encarregue do caso e pede, "para o bem da Igreja", que se corrija o "comportamento negligente e arriscado" da instituição em relação aos jovens, uma vez que Don Rugolo continua tendo contato com crianças e adolescentes da província de Ena.

Ministério Público

Conforme revelou a imprensa italiana, o Ministério Público de Ena está realizando interrogatórios e investigações sobre o caso. A associação nacional para sobreviventes de abuso sexual por clérigos denunciou os dois bispos - o de Ena e o de Ferrara, que acolheu o padre acusado - por crime de omissão.

Pelas investigações já transcorridas, há indícios de que o tribunal eclesiástico teria indeferido o caso por falta de competência técnica jurídica, já que na época dos fatos, o padre ainda era seminarista.