Cinco países aumentaram arsenal nuclear nos últimos 4 anos, diz organização
Desde 2018, cinco países aumentaram a quantidade de armas nucleares em estoques militares: Rússia, China, Índia, Israel e Paquistão. O levantamento foi feito pela FAS (Federação de Cientistas Americanos, na sigla em inglês). O número não inclui armamentos em processo de desativação.
Dos cinco, Rússia e China (assim como EUA, França e Reino Unido) assinaram o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. "Foi um golpe nesse tratado", alerta físico José Goldemberg, professor e ex-reitor da USP (Universidade de São Paulo).
A FAS registrou o seguinte aumento entre 2018 e 2022:
- Rússia: de 4.350 para 4.477
- China: de 290 para 350
- Índia: de 150 para 165
- Israel: de 80 para 90
- Paquistão: de 140 para 160
Total de bombas vem diminuindo, mas de forma mais lenta
O maior número de armamentos nucleares já registrado no planeta foi de 70.374, em 1986, durante a Guerra Fria. Desde então, o número só vem diminuindo. No entanto, a velocidade desta redução já não é a mesma. Tanto porque há menos bombas sendo desmanteladas, quanto pelo aumento do arsenal destes cinco países.
No ano passado, o Sipri (Instituto Internacional de Pesquisas para a Paz de Estocolmo) já havia divulgado um relatório alertando para desaceleração na redução mundial de armas nucleares.
Entre as razões deste fenômeno estão conflitos como a anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, diz José Goldemberg. "A desaceleração parou porque recomeçou uma espécie de guerra fria e acredito que ainda vai piorar", afirma.
"O que aconteceu na Ucrânia enfraqueceu o regime de Não Proliferação de Armas Nucleares. Isso pode ser revisto em países que não possuem bombas nucleares, mas têm tecnologia para produzi-las, como a Alemanha, por exemplo", diz o professor.
Há menos bombas, mas mais poderosas
Atualmente há 12.705 armamentos nucleares pertencentes a nove países: Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte. Os números correspondem a uma estimativa, já que os países não divulgam esses dados oficialmente.
Quase 90% das armas são da Rússia (47%) e dos EUA (42%). Parte das bombas nucleares americanas estão instaladas em bases militares de Bélgica, Alemanha, Itália, Holanda e Turquia.
"O fato de ter caído de 70 mil para 12 mil não mudou nada. Essas bombas de hoje são muito mais poderosas do que no passado. Não são bombas do tipo a que devastou Hiroshima, mas sim bombas com potências maiores", observa Goldemberg.
Do total de armamentos, a FAS estima que 9.440 (74,3%) estão estocados para uso militar. Isso significa que os outros 3.265 (25,7%) estão em processo de desmantelamento, ou seja, não são computadas como bombas que podem ser utilizadas em caso de ataques.
Segundo a organização, muitas das armas que ainda estão em processo de desmantelamento já eram apresentadas como desativadas em relatórios anteriores —em especial pelos EUA—, o que prejudica uma noção exata da redução de armamentos.
Na década de 1990, após a dissolução da União Soviética, a Ucrânia abriu mão do poderio nuclear em troca da integridade territorial. As ações russas, no entanto, levaram alguns países a retomarem discussões sobre a necessidade de manter um arsenal nuclear.
2 mil armas nucleares em alerta máximo
Um relatório da FAS indica que, atualmente, há cerca de 2 mil armas nucleares em "alerta máximo", ou seja, que podem ser acionadas com rapidez e disparadas em até 15 minutos.
A organização não indica quantas armas deste tipo se encontram em cada país; apenas informa que pertencem à Rússia, aos EUA, ao Reino Unido e à França.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou em 27 de fevereiro ter colocado as forças nucleares do país em alerta máximo. Após invadir a Ucrânia, os russos tomaram as usinas de Chernobyl e Zaporizhia.
Golbemberg observa que em Chernobyl há grande quantidade de plutônio, e que o material pode ser utilizado para fazer bombas nucleares ou mesmo provocar um acidente por meio da emissão de ondas de radioatividade. A Ucrânia afirma que os níveis de radiação aumentaram na região após a invasão dos russos.
"Na minha visão, um dos motivos para que a Rússia tenha invadido as usinas foi pelo domínio de áreas que têm produtos que podem servir para fazer uma bomba nuclear", avalia o professor da USP.
Béatrice Fihn, diretora da Ican (Campanha Internacional pela Abolição de Armas Nucleares) e vencedora do Nobel da Paz, afirmou à AFP que Putin faz uma chantagem perigosa e que o nível de ameaça nuclear hoje é mais elevado do que durante a Guerra Fria.
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