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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Jornalista que protestou em TV da Rússia contra guerra teme por sua vida

Mulher invadiu telejornal russo para protestar contra a guerra da Rússia com a Ucrânia - Reprodução/ Twitter @maxseddon
Mulher invadiu telejornal russo para protestar contra a guerra da Rússia com a Ucrânia Imagem: Reprodução/ Twitter @maxseddon

Colaboração para o UOL, em São Paulo*

16/03/2022 09h30Atualizada em 16/03/2022 10h08

A manifestante Marina Ovsyannikova, que protestou contra a guerra na Ucrânia durante uma transmissão da TV estatal russa, disse à Reuters nesta quarta-feira que está extremamente preocupada com sua segurança e espera que seu protesto não seja em vão e que os russos abram seus olhos para a propaganda.

Em sua primeira entrevista na televisão desde seu extraordinário protesto ao vivo na emissora Channel One na segunda-feira à noite, Ovsyannikova disse que não tinha planos de fugir da Rússia e que espera não enfrentar acusações criminais.

"Eu acredito no que eu fiz, mas agora entendo a escala dos problemas que eu vou ter que lidar e, claro, estou extremamente preocupada com a minha segurança. Eu não me sinto como uma heroína... você sabe, eu quero realmente sentir que esse sacrifício não foi em vão, e que as pessoas abram seus olhos", disse.

Trecho da invasão foi compartilhado por Max Seddon, chefe da sucursal em Moscou da Financial Times. "Uma mulher invadiu o principal noticiário da noite ao vivo na Rússia com uma placa que diz: 'Pare a guerra'", escreveu ele em seu Twitter.

A mensagem na placa trazia um "sem guerra" em inglês e o restante escrito em russo. "Pare a guerra. Não acredite em propaganda. Eles estão mentindo para você aqui", traduziu o jornalista.

"Pare a guerra! Não à guerra", clamou Ovsyannikova no cartaz, em poucos segundos que esteve ao ar. Ela seria editora do canal.

O protesto inusitado ocorreu no 19º dia da guerra, iniciada quando a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro no que tem chamado de operação militar especial. Hoje, a guerra segue pelo 21º dia.

Na ocasião, o Channel One disse que estava realizando uma revisão interna do incidente, informou a agência de notícias Tass.

A produção do noticiário cortou as imagens do estúdio e passou a exibir um corredor de um hospital enquanto a âncora continuava lendo uma notícia no teletrompter com a mulher falando atrás dela. "Pare a guerra. Não à guerra", gritou novamente a manifestante, de acordo com a Reuters.

Zelensky agradece a jornalista que protestou na TV; Rússia aplica multa

Um tribunal de Moscou multou em cerca de R$ 1,5 mil e libertou a jornalista russa Marina Ovsyannikova ontem, informou a própria instituição. A editora de notícias do canal estatal russo Channel One foi presa depois de protestar ao vivo contra a guerra na Ucrânia.

Na saída do tribunal, Ovsyannikova afirmou que foi mantida em isolamento durante todo o interrogatório e que foram "horas terríveis".

"Foi minha decisão protestar contra a guerra e tomei ela sozinha porque eu não gosto do fato da Rússia ter iniciado essa invasão."

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, agradeceu à jornalista, e o presidente da França, Emmanuel Macron, ofereceu proteção consular a ela.

"Sou grato por esses russos que não param de tentar mostrar a verdade, e pessoalmente à mulher que entrou no estúdio do Channel One com um pôster contra a guerra", disse o ucraniano em vídeo publicado nas redes sociais.

O presidente da França, Emmanuel Macron, também saiu em defesa de Ovsyannikova, e propôs proteção diplomática para ela. Desde o ato, o paradeiro dela é desconhecido.

"Obviamente, vamos lançar medidas diplomáticas para oferecer proteção na embaixada ou um asilo na França. Terei a oportunidade, durante minha próxima reunião com o presidente Putin, de propor esta solução de forma direta e muito concreta", disse Macron.

Segundo a agência de notícias Tass, a mulher poderia ser processada por "desacreditar o uso das forças armadas russas". Ovsyannikova pode pegar até 15 anos de prisão pela manifestação, de acordo com a recente lei russa que criminaliza o que Moscou chama de "informações falsas" sobre os militares do país.

Para o Kremlin, o ato foi "hooliganismo". "No que diz respeito a essa mulher, isso é hooliganismo", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, que elogiou o canal estatal como um pilar de notícias objetivas e oportunas.

Quem é Marina Ovsyannikova?

Marina Ovsyannikova, cidadã russa residente em Moscou, foi produtora do Channel One, um canal estatal com um grande número de seguidores na Rússia, de acordo com o The Atlantic. Em um vídeo pré-gravado publicado após mostrar o cartaz ao vivo, a jornalista disse lamentar ter ajudado a divulgar a "propaganda do Kremlin", ao trabalhar para um veículo ligado ao estado russo por vários anos.

Em sua página no Facebook, ela diz que estudou na Universidade Estatal de Kuban, uma universidade pública na cidade de Krasnodar, antes de passar para a Academia Russa de Serviço Público e Economia Nacional (RANEPA), uma universidade de economia e ciências humanas do governo russo, na qual se formou em 2005.

No vídeo que ela publicou para explicar sua ação, Marina Ovsyannikova disse ter origens ucranianas.

"Meu pai é ucraniano, minha mãe é russa. Eles nunca foram inimigos. O colar que uso é um símbolo da necessidade da Rússia de parar imediatamente com essa guerra fratricida. Nosso povo fraternal ainda pode fazer a paz", disse ela, com um acessório nas cores ucranianas.

A página dela no Facebook se encontra cheia de mensagens de apoio de pessoas do mundo inteiro, agradecendo-lhe e chamando-a de "heroína".

"Infelizmente, tenho trabalhado para o Pervy Kanal nos últimos anos, fazendo propaganda para o Kremlin. Estou muito envergonhada com isso hoje", diz ela. "Tenho vergonha de ter permitido que mentiras fossem transmitidas na televisão, vergonha de ter permitido que o povo russo fosse 'zumbificado'", acrescentou ela.

Na biografia de seu perfil no Instagram, Marina Ovsyannikova se descreve como uma "mãe feliz". Em suas postagens nas redes sociais, duas crianças pequenas, um menino e uma menina, aparecem regularmente ao seu lado, relata a emissora francesa BFM TV.

*Com AFP, Ansa, RFI e Reuters