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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Zelensky agradece a jornalista que protestou na TV; Rússia aplica multa

Do UOL*, em São Paulo

15/03/2022 12h27Atualizada em 15/03/2022 15h18

Um tribunal de Moscou multou em cerca de R$ 1,5 mil e libertou a jornalista russa Marina Ovsyannikova hoje, informou a própria instituição. A editora de notícias do canal estatal russo Channel One foi presa depois de protestar ao vivo contra a guerra na Ucrânia.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, agradeceu à jornalista, e o presidente da França, Emmanuel Macron, ofereceu proteção consular a ela.

"Sou grato por esses russos que não param de tentar mostrar a verdade, e pessoalmente à mulher que entrou no estúdio do Channel One com um pôster contra a guerra", disse o ucraniano em vídeo publicado nas redes sociais.

Ontem, ela invadiu o estúdio de um telejornal do Channel One e exibiu uma placa dizendo 'Pare a guerra. Não acredite em propaganda. Eles estão mentindo para você aqui'. Ela seria editora do canal, e foi presa por autoridades locais após a manifestação.

A cena ocorreu durante o telejornal noturno do Pervy Kanal, chamado "Vremia" ("Tempo"), um programa diário visto por milhões de russos desde a era soviética. A aparição da jornalista realizando o protesto é um caso raro, em um país onde a informação é estritamente controlada.

O presidente da França, Emmanuel Macron, também saiu em defesa de Ovsyannikova, e propôs proteção diplomática para ela. Desde o ato, o paradeiro dela é desconhecido.

"Obviamente, vamos lançar medidas diplomáticas para oferecer proteção na embaixada ou um asilo na França. Terei a oportunidade, durante minha próxima reunião com o presidente Putin, de propor esta solução de forma direta e muito concreta", disse Macron.

Segundo a agência de notícias Tass, a mulher poderia ser processada por "desacreditar o uso das forças armadas russas". Ovsyannikova pode pegar até 15 anos de prisão pela manifestação, de acordo com a recente lei russa que criminaliza o que Moscou chama de "informações falsas" sobre os militares do país.

Para o Kremlin, o ato foi "hooliganismo". "No que diz respeito a essa mulher, isso é hooliganismo", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, que elogiou o canal estatal como um pilar de notícias objetivas e oportunas.

Quem é Marina Ovsyannikova?

Marina Ovsyannikova, cidadã russa residente em Moscou, foi produtora do Channel One, um canal estatal com um grande número de seguidores na Rússia, de acordo com o The Atlantic. Em um vídeo pré-gravado publicado após mostrar o cartaz ao vivo, a jornalista disse lamentar ter ajudado a divulgar a "propaganda do Kremlin", ao trabalhar para um veículo ligado ao estado russo por vários anos.

Em sua página no Facebook, ela diz que estudou na Universidade Estatal de Kuban, uma universidade pública na cidade de Krasnodar, antes de passar para a Academia Russa de Serviço Público e Economia Nacional (RANEPA), uma universidade de economia e ciências humanas do governo russo, na qual se formou em 2005.

No vídeo que ela publicou para explicar sua ação, Marina Ovsyannikova disse ter origens ucranianas.

"Meu pai é ucraniano, minha mãe é russa. Eles nunca foram inimigos. O colar que uso é um símbolo da necessidade da Rússia de parar imediatamente com essa guerra fratricida. Nosso povo fraternal ainda pode fazer a paz", disse ela, com um acessório nas cores ucranianas.

A página dela no Facebook se encontra cheia de mensagens de apoio de pessoas do mundo inteiro, agradecendo-lhe e chamando-a de "heroína".

"Infelizmente, tenho trabalhado para o Pervy Kanal nos últimos anos, fazendo propaganda para o Kremlin. Estou muito envergonhada com isso hoje", diz ela. "Tenho vergonha de ter permitido que mentiras fossem transmitidas na televisão, vergonha de ter permitido que o povo russo fosse 'zumbificado'", acrescentou ela.

Na biografia de seu perfil no Instagram, Marina Ovsyannikova se descreve como uma "mãe feliz". Em suas postagens nas redes sociais, duas crianças pequenas, um menino e uma menina, aparecem regularmente ao seu lado, relata a emissora francesa BFM TV.

*Com informações da AFP e RFI