Suspeito de matar Shinzo Abe é preso; polícia cita uso de arma improvisada
A polícia identificou Tetsuya Yamagami como o suspeito de matar o ex-premiê do Japão Shinzo Abe, durante evento de campanha hoje na cidade de Nara. Um porta-voz da polícia disse que o suspeito, que tem 41 anos, foi preso às 11h32, horário local, por suspeita de tentativa de homicídio —Abe foi baleado e a morte foi confirmada mais de cinco horas após o ataque.
A polícia japonesa disse em entrevista coletiva que Yamagami confessou o crime, e que ele odiava um grupo que pensava que Abe fazia parte.
Ainda segundo a corporação, o suspeito teria usado uma arma de fabricação caseira. "É uma declaração do suspeito e determinamos que (a arma) é claramente feita à mão, embora nossa análise esteja em andamento", relatou um policial da região de Nara, onde ocorreu o assassinato.
O Ministério da Defesa informou que uma pessoa com o mesmo nome do morador de Nara integrou a Marinha japonesa, conhecida como Autodefesa Marítima, de 2002 a 2005.
Investigadores citados pela imprensa local disseram que Yamagami afirmou que estava "frustrado e insatisfeito" com Abe, que renunciara ao cargo de primeiro-ministro em setembro de 2020 por motivos de saúde.
O hospital para onde Abe foi levado informou que o ex-premiê morreu às 17h03, no horário local (5h03, em Brasília). Um médico disse que Abe sangrou até a morte, devido a dois ferimentos profundos, um deles no lado direito de seu pescoço. Ele não tinha sinais vitais quando deu entrada no hospital.
Reação da comunidade internacional
Antes da confirmação do falecimento de Abe, líderes de todo o mundo já reagiam ao ataque. O presidente da França, Emmanuel Macron, disse estar "profundamente chocado com o ataque hediondo" contra o ex-primeiro-ministro japonês. "A França está ao lado do povo japonês", acrescentou Macron em um tuíte, dirigindo seus "pensamentos à família e entes queridos de um grande primeiro-ministro".
O secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Jens Stoltenberg, também se disse "profundamente chocado com o ataque hediondo ao ex-premiê enquanto se dirigia aos eleitores". "Meus pensamentos vão para ele e sua família. A Otan está com o povo de nosso parceiro próximo, o Japão, e seu primeiro-ministro Fumio Kishida", tuitou.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, expressou tristeza e preocupação com o caso. Abe era tido como um aliado de Washington. "Este é um momento muito, muito triste", declarou Blinken à imprensa durante a reunião do G20 em Bali.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, classificou o ato como "abjeto".
A trajetória de Shinzo Abe
Vítima do ataque, Shinzo Abe bateu recordes como o primeiro-ministro mais longevo do Japão, resistindo a vários escândalos político-financeiros.
Abe tinha 52 anos quando assumiu o cargo de primeiro-ministro em 2006 e se tornou a pessoa mais jovem a ocupar a posição.
Ele era considerado um símbolo de mudança e juventude, mas também apresentava o pedigree de um político de terceira geração, preparado desde cedo para exercer o poder dentro de uma família conservadora de elite.
Seu primeiro mandato foi turbulento, marcado por escândalos e disputas, e terminou com sua renúncia abrupta após um ano.
Inicialmente ele declarou que renunciou por motivos políticos, mas depois admitiu que tinha um problema de saúde, que mais tarde foi diagnosticado como colite ulcerativa. A condição exigiu meses de tratamento, superado graças a um novo medicamento, segundo Abe.
Recuperado, ele voltou a ser candidato e retornou ao cargo de primeiro-ministro como um salvador do país em dezembro de 2012. Sua vitória encerrou um período turbulento em que os primeiros-ministros se sucediam ao ritmo de de até um por ano.
Afetado pelos efeitos do tsunami em 2011 e o desastre nuclear de Fukushima, o Japão encontrou em Abe uma mão confiável.
*Com informações da AFP, Reuters e Ansa
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