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Socialismo: o que é e quais países hoje podem ser considerados socialistas?

Pessoas pedalam em Copenhague (Dinamarca) - Divulgação/Copenhagenize Design Co.
Pessoas pedalam em Copenhague (Dinamarca) Imagem: Divulgação/Copenhagenize Design Co.

Rafael Souza

Colaboração para o UOL

26/10/2022 10h58

O vídeo de uma entrevista sobre política ganhou repercussão e trouxe à tona questionamentos sobre o significado de socialismo e quais países podem ser considerados adeptos desse sistema.

Na gravação, um homem cuja identidade não é revelada é questionado por outro sobre seu voto e posicionamento político. O entrevistado diz votar "na esquerda" e afirma ser a favor do socialismo "porque iguala as pessoas".

As imagens viralizaram nos últimos dias — com quase 1,5 milhão de visualizações — e foram compartilhadas pelo humorista Paulo Vieira.

O entrevistado seria um enfermeiro de Bacabal (MA). Quando ele revela ser socialista, o entrevistador pergunta se ele acha que "esses países socialistas do mundo inteiro já tiraram a fome e a violência e trouxeram igualdade".

Antes de responder, o enfermeiro questiona quais países socialistas o entrevistador conhece. A resposta é: "Venezuela, Cuba, China, Coreia [do Norte], onde as pessoas não podem sair do país."

O entrevistado tenta argumentar que esses países são ditaduras. "Conhece a Noruega? Onde o filho do pobre estuda no mesmo lugar que o filho do presidente? Na mesma escola, com o mesmo patamar? Conhece a Finlândia?", rebate.

Mas quem tem razão?

Não existe uma definição fechada sobre o que é o socialismo. Em linhas gerais, é uma corrente ideológica que se contrapõe ao capitalismo, sistema baseado na propriedade privada dos meios de produção e no lucro.

O modelo capitalista seria responsável pela desigualdade de renda e a divisão da sociedade entre um grupo mais rico e poderoso e outro mais pobre e dependente, segundo parte dos pesquisadores.

Nesse sentido, o socialismo seria uma forma de compartilhamento dos meios de produção e o fim da propriedade privada, para garantir distribuição de riquezas e renda.

Essa ideia de socialismo começou em meados do século 18, quando ocorria a transformação dos modos de produção na Europa —do mercantil e braçal para as grandes fábricas e suas máquinas.

A produção crescia em larga escala, mas a riqueza se concentrava nos donos das fábricas. Nessa época, pensadores começaram a questionar as condições de trabalho e propriedade.

Os primeiros estudos foram desenvolvidos pelo filósofo e economista francês Henri de Saint-Simon e seus seguidores, o galês Robert Owen e o francês Charles Fourier, que desenvolveram o socialismo utópico.

Depois, no século 19, surgiu o socialismo científico, cujos principais expoentes foram o economista e sociólogo alemão Karl Marx e Friedrich Engels.

Na visão marxista, somente uma revolução dos trabalhadores e a destruição do capitalismo, com a posterior tomada do poder, garantiria o fim das desigualdades.

Nessa visão, o socialismo não é o fim, mas o meio para um estágio mais elevado: o comunismo, onde não há mais propriedade privada, os meios de produção são de todos e não há mais divisão de classes.

Socialismo no mundo

Uma das tentativas de implementar o socialismo ocorreu em 1917 na Rússia, na chamada Revolução Comunista. O modelo da União Soviética se tornou o principal contraponto ao modelo capitalista dos Estados Unidos até os anos 1990.

Outros movimentos ocorreram pelo mundo, como a Revolução Chinesa, vitoriosa em 1949, liderada por Mao Tsé-tung, que implementou políticas marxistas.

Já a Revolução Cubana derrubou uma ditadura em 1959 e implementou um governo socialista no país latino.

Uma crítica feita ao sistema socialista/comunista é a de que ele só existe por meio da derrubada dos governos e a centralização do poder no Estado, o que transforma os países em ditaduras.

Além disso, hoje em dia, mesmo nos países ditos socialistas, a economia cada vez mais se abre ao mundo capitalista.

Parte dos países que se inspiraram nas ideias de Marx se diz socialista atualmente, como Cuba e Vietnã.

Em outros países, o socialismo é visto mais como um ideal do que como um sistema aplicado na economia, afinal, a predominância ainda é o capitalismo. É o caso da Finlândia e da Noruega, citados no vídeo viral.

Esse modelo dos países nórdicos (os três escandinavos — Suécia, Noruega e Dinamarca — mais Finlândia e Islândia), a chamada social-democracia, tem como característica a presença de um Estado de bem-estar social e negociações coletivas, mas prevê a manutenção do sistema capitalista.

Nesses países, a desigualdade social é uma das menores do mundo e eles são conhecidos por políticas públicas mais efetivas para garantir a igualdade entre homens e mulheres, por exemplo, e investir em espaços públicos.

Houve ênfase na construção de sociedades mais iguais, disse à BBC David Pinder, professor de estudos urbanos na Universidade Roskilde, na Dinamarca, com "uma forte disciplina de participação".

Na Finlândia, que sempre fica com o primeiro lugar no ranking que país mais feliz do mundo, o governo recolhe muitos impostos, mas garante um sistema de saúde universal bom e barato, educação gratuita e igualitária e creches acessíveis.

Os moradores dizem que conseguem sentir o retorno: uma sociedade com pouca desigualdade, muitas oportunidades e um sentimento forte de solidariedade, segundo constatou reportagem do The New York Times na cidade mais feliz do planeta.