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Vazamento e mortes: como maior espião russo dentro do FBI foi desmascarado

Espião russo Robert Hanssen atuou como agente do FBI - Reuters
Espião russo Robert Hanssen atuou como agente do FBI Imagem: Reuters

Colaboração para o UOL

26/06/2023 04h00Atualizada em 26/06/2023 06h21

O espião russo Robert Hanssen, que atuou como agente do FBI e vazou segredos para Moscou durante quase 20 anos, foi encontrado morto em sua cela no último dia 5, mais de duas décadas depois da sua prisão. Hanssen é considerado o agente de maior repercussão por parte dos russos, no histórico de espionagem entre as duas nações.

Foi por meio de um emprego falso que foram reunidas evidências que culminaram na prisão de Hanssen, de acordo com a versão contada à BBC por dois dos agentes que tiveram um papel central para destituí-lo.

Como o espião russo atuava?

Hanssen estudou russo na faculdade e trabalhou para o FBI em 1976. Segundo a BBC, uma década depois, ele estava traindo a agência.

A partir de 1985, ele operou dentro do governo norte-americano de forma destrutiva. Ele vendia documentos ultrassecretos para a União Soviética e para a Rússia, o que resultou no comprometimento das identidades de espiões disfarçados. Segundo o depoimento de 100 páginas que descrevia os crimes de Hanssen, a espionagem resultou na prisão de duas fontes norte-americanas e na execução de outras duas.

Hanssen deu informações à KGB, o serviço secreto da União Soviética e, mais tarde, à sua sucessora, SVR. A atuação do espião continuou após a queda do Muro de Berlim e a dissolução da URSS.

Ele utilizava métodos de espionagem à moda antiga. Hanssen usava o método conhecido como "dead drop", que consiste em deixar materiais em um local para que outra pessoa encontre. Hanssen escolhia lugares nos bairros do subúrbio da Virgínia para entregar os dados de inteligência roubados.

Pela troca de informações, o espião recebeu US$ 1,4 milhão, parte em espécie, e outra em diamantes e depósitos bancários.

Como emprego falso ajudou em captura?

Oficiais da inteligência dos EUA suspeitavam de um espião entre eles desde os anos 90, mas levaram alguns anos para chegar a Hanssen. Ainda de acordo com a BBC, foi descoberta uma gravação de uma ligação telefônica que Hanssen fez, além de impressões digitais deixadas em sacos de lixo usados para entregas de informações.

Em novembro de 2000, eles chegaram até Hanssen e, então, tiveram que provar que ele era um espião. O FBI desenhou um plano para que Hanssen ficasse sob vigilância, ao transferi-lo para fora do Departamento de Estado, onde ele trabalhava. Assim, criaram um emprego falso na agência, onde agentes poderiam acompanhá-lo.

O que queríamos fazer era coletar evidências suficientes para condená-lo, e o objetivo final era pegá-lo em flagrante.
Debra Evans Smith, ex-vice-diretora assistente da divisão de contraespionagem

O agente do FBI Richard Garcia foi direcionado para ser o falso chefe de Hanssen — somente alguns funcionários da agência sabiam que havia um espião entre eles e Garcia selecionou o agente secreto Eric O'Neill para se passar por auxiliar administrativo de Hanssen.

Ao longo da investigação, Garcia atraiu Hanssen de um escritório para um campo de tiro, enquanto agentes copiaram o conteúdo do seu Palm Pilot, um dispositivo precursor dos smartphones. Segundo relato de O'Neill, o equipamento foi substituído a tempo, antes de Hanssen voltar.

Como ocorreu a prisão e a condenação do espião?

Em fevereiro de 2001, 300 agentes atuavam no caso de Hanssen. Eles aguardavam que o espião tentasse outra entrega por meio do método "dead drop" e Hanssen o fez.

O espião foi preso no mesmo mês em Foxstone Park, na Virginia, acusado de espionagem. Ele se declarou culpado de 15 acusações e foi condenado à prisão perpétua. Depois, Hanssen foi encaminhado para a prisão, em Florence, onde ficou até a sua morte.

O ex-diretor do FBI, Louis Freeh, se referiu às traições de Hanssen como "as ações mais traiçoeiras imagináveis contra um país governado por um Estado de Direito".