Filho de magnata da banana: presidente do Equador é de direita ou esquerda?
Colaboração para o UOL*
11/01/2024 12h57
O presidente equatoriano Daniel Noboa decretou ontem (10) que o país latino-americano está em "estado de guerra" contra as gangues criminosas ligadas ao tráfico de drogas.
Praticamente um desconhecido na política, ele chegou de surpresa ao poder do país em novembro de 2023, prometendo quebrar a lógica do correísmo, movimento de esquerda liderado pelo ex-presidente Rafael Correa, e do anti-correísmo.
De direita ou esquerda?
Durante sua campanha, Noboa se autointitulou como de centro-esquerda. Ele se apresentou como um "empresário com coração" e um "social-democrata moderado", embora tenha sido apoiado por forças de direita que pediam medidas mais vigorosas contra as organizações criminosas do país.
Ele fugiu da polarização. Ao UOL, Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Inteligência Internacional da FGV, disse acreditar que o atual líder equatoriano se apresentou desta maneira na tentativa de se distanciar da lógica dos candidatos mais à direita, que eram mais agressivos, e também da esquerda do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), que foi condenado por corrupção e vive exilado na Bélgica. "Ele se apresentou como centro, tentou se distanciar dos dois polos e fugir da polarização", afirma.
Quando Noboa discute a questão da violência, tem sempre uma retórica mais em respeito ao Estado de direito e colocando o 'correísmo' como 'amigo do crime'. Mas ele não colocou um posicionamento muito duro à esquerda ou à direita. Ele sempre tenta usar uma lógica de saber números do país, de saber que é um bom gestor.
Leonardo Paz, pesquisador da FGV
Recebeu apoio da direita. Ainda durante a corrida presidencial, a direita e as elites empresariais equatorianas também estabeleceram como objetivo impedir a todo o custo o retorno de Correa —e a rival de Noboa, Luisa González, era apadrinhada pelo ex-presidente no âmbito político.
Noboa também prometeu uma política de linha dura contra os grupos de narcotraficantes. Sua proposta mais comentada foi a de criar navios-prisão para isolar os detentos de suas redes criminosas. Esse aumento do punitivismo é visto como uma solução clássica da direita.
Discurso econômico e a origem empresarial de Noboa também podem ser lidos como da direita liberal. À Deutsche Welle, o diretor do escritório da Fundação Friedrich Ebert no Equador, Constantin Groll, reforçou que Noboa pode ser atribuído ao campo da direita porque "defende políticas pró-negócios e valores conservadores".
Nesse contexto, Noboa representaria "uma nova geração para um novo Equador". "Ele conseguiu encarnar o novo, mesmo sendo um homem de negócios, filho de um magnata da banana", explicou Alexis Medina, professor de civilização latino-americana na Universidade de Franche-Comté, à RFI.
Quem é Daniel Noboa?
Nascido em Guayaquil, ele é filho da médica Anabella Azin e do magnata Álvaro Noboa, o empresário mais rico do país cuja fortuna começou com o comércio de bananas, do qual o Equador é o principal exportador mundial. Hoje, o conglomerado da família soma 128 empresas em dezenas de países.
Estudou administração de empresas na Universidade de Nova York e administração pública na Harvard Kennedy School. Também tem pós-graduação em governança e comunicação política na Universidade George Washington.
Aos 18 anos, Noboa criou sua primeira empresa dedicada à produção de eventos. Depois, vinculou-se à Corporação Noboa, a grande empresa familiar, como diretor das áreas comercial e de transporte naval.
Perfil jovem. Bastante ativo no Instagram, Noboa é "sommelier", entende de música, tentou ser vegetariano, coleciona pimentas e é apaixonado por carros e cavalos.
É casado com Lavinia Valbonesi, uma nutricionista, modelo e influenciadora digital em temas de nutrição, com quem tem um filho de dois anos e espera outro. De seu primeiro casamento, tem uma filha de quatro anos.
Seu pai, Álvaro Noboa, tentou ser presidente do Equador cinco vezes —ele tentou vencer o ex-mandatário Rafael Correa (2007-2017), sem sucesso. Portanto, além da fortuna, o atual presidente do Equador também é herdeiro do capital político do pai.
A mãe do novo presidente, Annabella Azín, também foi legisladora e candidata a vice-presidente. O avô de Noboa, Luis Noboa Naranjo, foi um dos empresários mais importantes do país no século passado.
Praticamente um desconhecido na política, Noboa chegou ao poder no Equador em novembro como um dos dirigentes mais jovens do mundo, com o compromisso de enfrentar um tráfico de drogas encorajado e de deter a onda de violência no país, que teve 2023 como seu ano mais violento, com cerca de 7.800 homicídios e uma taxa de assassinatos superior a 40 para cada 100.000 habitantes.
Até então, ele só tinha ocupado o cargo de congressista por um breve período (2021-2023). Durante essa época, foi questionado por um suposto conflito de interesse ao financiar de seu próprio bolso a viagem de sete deputados à Rússia, um dos principais destinos da banana produzida pela empresa de sua família.
*Com AFP, RFI e Deutsche Welle