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Do México ao Japão, máfias mais poderosas do mundo têm interesse no Brasil

De boné, no centro da imagem, Nicola Assisi, apontado como líder da máfia italiana 'Ndrangheta, ao ser preso, na Praia Grande, litoral de SP Imagem: 08.jul.2019 - Jota Erre/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

14/01/2024 04h00Atualizada em 14/01/2024 11h36

A complexa teia das organizações criminosas transcende fronteiras e representa uma ameaça global. Antes alvo apenas do interesse da máfia italiana, o Brasil se tornou foco das maiores e mais poderosas organizações internacionais, do México ao Japão.

Quando se pensa em máfia no Brasil, a primeira ideia que surge é a da máfia italiana, eternizada no cinema com os filmes da série O Poderoso Chefão. Afinal, a Cosa Nostra teria sido a primeira máfia conhecida a se formar no mundo, em meados do século 19, tornando-a popular no imaginário coletivo.

Recentemente, um homem foi executado na frente do filho e da esposa na cidade de Santos, litoral de São Paulo, posteriormente identificado pela polícia como membro de uma máfia da Europa.

Máfia é um grupo criminoso que opera secretamente, sendo dirigido por membros que se infiltram na sociedade e nas instituições. No caso do homem morto em Santos, a polícia acreditava tratar-se do esloveno Dejan Kovan, mas após investigações descobriu-se tratar do sérvio Darko Geisler, um assassino de aluguel que integrava a máfia dos Balcãs.

Darko Geisler Nedeljkovic, 43, é procurado no país de origem por ser matador de aluguel, segundo as investigações Imagem: Reprodução

Por que Brasil atrai?

Para o especialista em Relações Internacionais e fundador do Instituto Global Atittude, Rodrigo Reis, a presença de estruturas clandestinas e a diversidade geográfica podem facilitar o esconderijo de indivíduos envolvidos em atividades criminosas.

Embora não haja informações específicas sobre crimes cometidos contra membros de máfias internacionais no Brasil, semelhante ao que aconteceu em Santos, não podemos descartar o fato disso já ter acontecido com outros criminosos estrangeiros, que também podem estar em terras brasileiras, buscando por refúgio, dada a vasta extensão do país e desafios na aplicação da lei. Aliás, importante lembrar, que a complexidade do crime organizado e a clandestinidade das operações dificultam a obtenção de informações precisas sobre atos ilícitos
Rodrigo Reis, diretor do Instituto Global Attitude

Essas organizações, ao estenderem seus tentáculos para o Brasil, exploram as fragilidades do sistema, contribuindo para um ambiente propício ao crime transnacional, explica o especialista. O combate a essas redes exige cooperação internacional e a implementação de estratégias integradas de segurança.

A máfia italiana, especialmente a Cosa Nostra, tem uma longa história de influência nos Estados Unidos e na Europa, envolvendo-se em atividades como extorsão, tráfico de drogas e corrupção. No Brasil, a presença de descendentes de italianos facilita conexões com essas redes criminosas. Caminho livre para atuação da 'Ndrangheta por aqui, que hoje se tornou até parceira do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Todavia, vale ressaltar também, a máfia sérvia. Com sua presença global, destaca-se pelo envolvimento em crimes como tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e contrabando. Sua atuação no Brasil é observada especialmente em esquemas de corrupção e comércio ilegal, representando uma ameaça significativa que demanda atenção das autoridades de segurança
Rodrigo Reis, diretor do Instituto Global Attitude

Máfias no Brasil

Entre as cinco principais máfias mais relevantes e perigosas do mundo, que estendem seus tentáculos sobre o Brasil, Reis cita a máfia italiana, a Yakuza japonesa, o Cartel de Sinaloa no México, a Tríade Chinesa e a máfia russa.

Máfia italiana

A máfia italiana, especialmente a Cosa Nostra, tem uma longa história de influência nos Estados Unidos e na Europa, envolvendo-se em atividades como extorsão, tráfico de drogas e corrupção. A 'Ndrangheta é conhecida como "a joia da coroa" do crime organizado italiano. Com uma receita anual impressionante e uma presença em quase todos os continentes, é a organização criminosa mais poderosa do mundo.

Máfia japonesa

No Japão, a Yakuza é conhecida por suas operações ilícitas, incluindo jogo, prostituição e extorsão. Sua influência pode ser sentida em comunidades japonesas no Brasil, onde atua principalmente no tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Sua origem data do século 17. Todos os membros são marcados com tatuagens, e alguns ainda ostentam esses desenhos no corpo inteiro. Estimativas de 2021 das forças de segurança estimam que ela tenha atualmente cerca de 12 mil membros.

Máfia mexicana

O Cartel de Sinaloa, no México, é um dos maiores e mais violentos cartéis de drogas do mundo, de modo que alcança o Brasil através de suas rotas de narcotráfico, com impactos significativos na segurança e na estabilidade social. Os cartéis vivem uma grande luta pelo poder desde que El Chapo, líder dos cartéis de Sinaloa, foi preso. Desde então, Sinaloa está se dividindo e outros cartéis estão se movendo, até mesmo em direção ao Brasil, como mostram relatórios recentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

Máfia chinesa

As Tríades Chinesas, com suas ramificações internacionais, envolvem-se em atividades como tráfico de drogas, contrabando e lavagem de dinheiro. A presença chinesa no Brasil proporciona um terreno propício para suas atividades ilícitas. Embora haja várias Tríades diferentes, os três principais grupos globais são o Wo Shing Wo, o Sun Yee On e o 14K.

Máfia russa

A máfia russa, ou Bratva, com suas operações globais, influencia o Brasil por meio de esquemas de lavagem de dinheiro e tráfico de armas, aproveitando-se das relações comerciais entre os dois países. O maior grupo é o Solntsevskaya Bratva, liderado pelo "chefe dos chefes" nascido na Ucrânia, Semion Mogilevich. Ele já foi definido pelo FBI como "o gângster mais perigoso do mundo".

Errata: este conteúdo foi atualizado
As estimativas das forças de segurança são de que a Yakuza conte, desde 2021, com cerca de 12 mil membros e não 110 mil, como o texto apontava anteriormente. A informação foi corrigida.

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