Bilionário, Piñera teve gestão marcada por protestos e resgate de mineiros
Do UOL, em São Paulo
06/02/2024 19h31Atualizada em 07/02/2024 00h02
Ex-presidente do Chile, Sebastián Piñera morreu nesta terça-feira (6), aos 74 anos, na queda de um helicóptero na comuna de Lago Ranco, no Chile. A informação foi confirmada por sua família.
Protestos estudantis e resgate de mineiros soterrados
Piñera comandou o Chile por dois mandatos (2010-2014 e 2018-2022), até ser sucedido pelo atual chefe de governo, Gabriel Boric.
Primeiro presidente de direita desde a redemocratização. Ele chegou ao poder com a Coalición por el Cambio (Coalizão pela Mudança), derrotando o candidato Eduardo Frei Ruiz-Tagle, da Concertación, em 2009.
Seu primeiro mandato foi marcado por um rápido crescimento econômico e uma queda acentuada no desemprego. Era um momento em que muitos dos parceiros comerciais e vizinhos do Chile enfrentavam um crescimento mais lento.
Foi em seu primeiro governo que o movimento estudantil chileno levou mais de 200 mil pessoas às ruas, em protestos pedindo a reforma do sistema educacional.
Resgate de mineiros soterrados. Piñera era presidente quando, em 2010, o mundo parou para assistir ao drama do resgate dos 33 mineiros chilenos que ficaram soterrados por mais de dois meses em uma mina de cobre de 700 metros de profundidade. Ele acompanhou a operação de perto e apareceu ao vivo em TVs do mundo todo abraçando os mineiros resgatados.
O caso lhe rendeu grande popularidade. Quando viajou a Londres, ainda em 2010, numa visita marcada meses antes, o jornal The Guardian o chamou de "possivelmente o político mais popular do mundo no momento". Esteve também na França e na Alemanha - e por onde ia, fazia questão de mostrar uma cópia de um bilhete escrito pelos mineiros quando estavam soterrados.
Também era o presidente quando ocorreu o segundo maior terremoto na história do Chile. Em 2010, o fenômeno atingiu 8,8 graus na escala Richter, seguido de um tsunami com ondas de mais de 3 metros. Mais de 500 pessoas morreram na ocasião. Dez anos depois, em seu segundo mandato, Piñera visitou um dos locais mais afetados e encontrou familiares das vítimas.
Manifestações pararam o país em seu 2º mandato
Em 2017, Piñera se elegeu presidente novamente, ao vencer o candidato de centro-esquerda, o jornalista Alejandro Guillier.
Sua segunda passagem pela presidência foi mais turbulenta. Em 2019, ele havia alcançado o menor índice de aprovação desde a redemocratização no país.
Enfrentou manifestações em 2019, que pediam a sua renúncia. Os protestos, que registraram mortes e milhares de detidos, começaram contra um aumento na tarifa do metrô, mas logo passaram a contestar as políticas do governo Piñera.
No mesmo ano, foi acusado de crimes contra a humanidade cometidos em razão de manifestações que pararam o país entre outubro e novembro daquele ano. Na ocasião, Forças Armadas foram às ruas conter e reprimir os protestos e 20 pessoas morreram.
Membros dessas forças teriam cometido pelo menos nove tipos de delitos, entre homicídios, torturas, prisões ilegítimas, abusos sexuais, violações, além da destruição do globo ocular de mais de 150 pessoas causados por balas de borracha.
Em 2021, a Câmara dos Deputados aprovou a abertura de processo de impeachment contra o então presidente, por suspeita de corrupção. A medida, no entanto, foi barrada pelo Senado.
Empresário de família bilionária
Filho do embaixador José Piñera, o ex-presidente vem de uma das famílias mais ricas do Chile, segundo a revista Forbes. Em 2023, ele era o quinto mais rico do país, com fortuna avaliada em US$ 2,9 bilhões (R$ 14,96 bilhões, na cotação atual).
Piñera combinou durante muitos anos a gestão pública com suas empresas. Foi o principal acionista da companhia aérea Lan Chile (atual Latam), do canal de televisão Chilevisión e da Blanco y Negro, empresa que administra um dos clubes de futebol mais populares do país, o Colo-Colo. Também foi representante daApple.
Antes de entrar na política, Piñera atuou como empresário e engenheiro. Ele era formado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Chile, com mestrado e doutorado na Universidade de Harvard, onde também foi professor assistente.
O ex-presidente também foi professor universitário e consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), entre 1974 e 1976, e do Banco Mundial (1975-1978). Ele trabalhou na Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (Cepal).
Começou na política em 1989, sendo eleito senador em candidatura independente. Entre 2001 e 2004, foi presidente do Partido Renovación Nacional. Em 2005, disputou sua primeira eleição presidencial, mas perdeu para Michelle Bachelet.
Em nota divulgada nesta terça, a ex-presidente Michelle Bachelet lamentou o falecimento de Piñera. "Nestes momentos difíceis, minhas condolências à sua família, amigos e entes queridos, à Renovación Nacional e todos os chilenos que hoje sofrem com sua perda. Sempre valorizei o compromisso do ex-presidente Piñera com o nosso país e com a democracia, bem como o seu trabalho incansável e serviço à nação. Que ele descanse em paz".
Casado desde 1973 com Cecilia Morel, Piñera deixa quatro filhos.
(Com RFI e Agência Brasil)