'Completo pesadelo': EUA simulam guerra entre grandes potências no Ártico
Do UOL, em São Paulo
17/04/2024 04h00
As forças de operações especiais dos Estados Unidos estão participando de uma simulação de guerra entre grandes potências no Ártico, uma região situada no polo Norte, com baixas temperaturas. A equipe de reportagem do jornal The Washington Post acompanhou o treino de equipes da elite da Marinha do país, os SEALs, além do exército e da equipe da aeronática.
Foram enviados cerca de 400 militares dos comandos norte-americanos e da Otan, uma aliança militar comandada pelas potências do Ocidente.
"Completo pesadelo"
A primeira e "desanimadora" conclusão da reportagem é que um conflito na região seria um "completo pesadelo para aqueles enviados para combatê-lo".
Os testes ocorreram no Alasca, sob pressão das "incontáveis limitações impostas pela vasta e inclemente paisagem", incluindo as cidades de Kodiak e Fairbanks.
O capitão Bill Gallagher, comandante de uma unidade dos SEALs, descreveu ao The Post o Ártico como possivelmente o local mais inóspito e extremo para qualquer operação militar, dizendo que até as funções mais básicas podem se tornar uma ameaça.
"Aqui, o ambiente pode nos matar mais rápido que qualquer inimigo", disse o capitão à reportagem.
Um dos exercícios envolvia um salto rumo à Baía da Marmota, no Alasca, na qual a temperatura da água estava pouco acima do ponto de congelamento.
Os soldados usavam roupas de mergulho sob o uniforme para protegê-los dos efeitos da na água a 3?C. Sem esse tipo de equipamento, uma pessoa em condições semelhantes estaria diante de uma corrida contra a morte.
Um comandante das Forças Especiais do Exército explicou que o tempo, o principal fator de limitação em uma missão, é ainda mais importante em condições difíceis de suportar.
"Temos que chegar aos feridos mais rápido, temos que tratá-los mais rápido, temos que chegar mais rápido ao calor de um abrigo", disse à reportagem.
Por que no Ártico?
As crescentes ambições de Rússia e China no Ártico, rico em recursos, levaram os EUA a intensificar o foco nas operações na região.
O Ártico está se inserindo em atividades comerciais e militares, evoluindo rapidamente, segundo o The Post. Isso obrigaria o Pentágono a acompanhar a movimentação, criando assim o potencial para disputas e conflitos entre Washington, Moscou e Pequim.
O desafio, então, obrigou o Departamento de Defesa dos EUA a analisar suas próprias limitações, algumas das quais são reveladas no Ártico.
Um exemplo são os satélites que monitoram a atividade ao norte do Círculo Polar Ártico com "pontos cegos", limitando a capacidade do governo americano de rastrear as ameaças.
Além disso, uma parte dos recursos de petróleo e gás que tornam a Rússia uma potência no setor de energia se situa no Ártico, defendida por submarinos nucleares no Mar Branco.
Já a China também informou que o status de "país próximo do Ártico" garante a Pequim o direito de participar da governança da região, já que países asiáticos também estão envolvidos no transporte das commodities pela Rota do Mar do Norte.
O fortalecimento dos laços entre as duas potências, em destaque desde a invasão da Ucrânia, também se manifestou no Ártico. Eles chegaram a enviar uma patrulha naval conjunta que passou perto das Ilhas Aleutas, do Alasca, surpreendendo alguns observadores.
Os EUA provavelmente seriam desafiados por um desses dois governos. A Rússia, ferida, mas recuperando sua força na Ucrânia, obteve uma útil experiência de combate contra um adversário habilidoso, e sua competência está aumentando em áreas como guerra eletrônica, de acordo com Mark Cancian, importante conselheiro do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
A China, por sua vez, está ultrapassando os EUA em tecnologias como mísseis hipersônicos, como o Pentágono admitiu. E o simples tamanho de suas forças militares representa uma grande preocupação ao país.