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México vai às urnas com desafios que vão do narcotráfico à relação com EUA

Nativo Wixarika participa de 'dia de treinamento' para eleições do México, que serão realizadas em 2 de junho Imagem: ULISES RUIZ / 18.mai.2024-AE / AFP

Do UOL, em São Paulo

26/05/2024 04h00

O México vai às urnas no próximo domingo (2) eleger o próximo presidente do país, que ocupará a vaga do progressista Andrés Manuel López Obrador do Movimento Regeneração Nacional (Morena). Leia, abaixo, os principais desafios debatidos para estas eleições.

O que aconteceu

Duas mulheres lideram as intenções de voto para corrida presidencial. A governista Claudia Sheinbaum, do Morena, tem 64% das pretensões. A conservadora Xóchitl Galvez, do Partido de Ação Nacional (PAN), tem 28%, segundo pesquisa do De las Heras Demotecnia.

Apoiada por López Obrador, Claudia Sheinbaum é uma candidata progressista, que deve seguir com as políticas sociais do atual governo. Ela tem 61 anos e é ex-prefeita da Cidade do México, capital do país.

Da oposição, Xóchitl Galvez, é considerada conservadora. Ela também tem 61 anos, é descendente de povos indígenas, senadora e ex-prefeita de Miguel Hidalgo, que fica na região da Cidade do México.

Além de presidente, 128 senadores e 500 deputados federais também serão escolhidos pelo pleito. Se as projeções se concretizarem, esta será a primeira vez em que uma mulher presidirá o México.

À esquerda, candidata Claudia Sheinbaum, que lidera pesquisa eleitoral no México; à direita, opositora Xochitl Galvez, que está em segundo lugar Imagem: REUTERS/Quetzalli Nicte-Ha

País lida com onda de violência ligada ao narcotráfico

Mais de 200 assassinatos por motivação política foram registrados no México desde 2023. Na "reta final" para a corrida eleitoral, o número de candidatos assassinados chega a 27. O problema da segurança pública nas eleições tem relação direta com o narcotráfico no país, explica o professor de direito internacional João Amorim, da Unifesp.

Domínio do narcotráfico tem crescido desde o começo do século. Segundo a professora de relações internacionais Regiane Bressan, da Unifesp, o controle territorial do crime organizado acaba infiltrando grupos na política e refletindo nos assassinatos de quem se mostra como contrário ao crime organizado.

Cidades do interior são as mais afetadas pela violência política. O professor de história econômica Leonardo Trevisan, da ESPM, afirma que, apesar de ser um problema de todo o país, o interior do México é a região mais afetada pela violência relacionada ao narcotráfico.

Domínio dos cartéis também causa fragilidade das instituições. Movimentando bilhões de dólares ao ano, principalmente com o tráfico de cocaína e fentanil para os EUA, o narcotráfico se tornou um negócio poderoso, cada vez mais infiltrado em instituições não só da política, mas também da segurança pública do país.

Candidatas têm soluções diferentes para o problema do narcotráfico. Enquanto Sheinbaum defende a punição do narcotráfico aliada a uma política de paz, Galvéz prega um combate de "linha dura" contra o crime, respeitando o estado de direito.

Assim como em outros lugares do mundo (Brasil inclusive), a violência política exercida pelo crime organizado contra agentes políticos está relacionada à presença, cada vez maior e mais ampla, do crime organizado na gestão política estatal dos territórios onde atuam.
João Amorim, professor de Direito Internacional da Unifesp

Eles dominam algumas áreas para operar o tráfico de drogas e fazem, de fato, extorsão, sequestros, atividades ilegais. Isso, claro, acaba comprometendo qualquer tentativa democrática de eleição de um prefeito, que não seja do grupo deles, ou mesmo alguém que se oponha a essa situação.
Regiane Bressan, professora da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da Unifesp

No interior do México, há visões políticas muito fortes e arraigadas, principalmente em relação à proximidade com os narcotraficantes. A maioria desses assassinatos, são de políticos que prometem, no interior do país, linha dura contra o narcotráfico.
Leonardo Trevisan, professor do curso de Relações Internacionais da ESPM

Desigualdade social

A luta contra a desigualdade também é um tema debatido pelas candidatas. Sheinbaum deve seguir com políticas públicas assistencialistas de Obrador, o que para especialistas explica parte da liderança dela no pleito.

Galvéz, por sua vez, deve seguir uma linha mais conservadora, remetendo aos anos sequenciais de governo de direita do México. Apesar disso, ela tende a manter, segundo projeção da professora Regiane Bressan, algumas políticas de Obrador, como o Sistema Universal de Proteção Social, uma espécie de "INSS".

Se eu tenho uma economia instável, pobreza ou desemprego, eu abro muita margem para o emprego informal e para gente envolvida no tráfico de drogas. Então acho que a desigualdade é um ponto importante para o debate.
Regiane Bressan, professora da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da Unifesp

Relação comercial e fronteiriça com os EUA

A aliança comercial com o país presidido por Joe Biden é um ponto importante a ser ministrado pelo próximo presidente. Os Estados Unidos são hoje o país que mais importa produtos do México, um reflexo da briga comercial de Washington com Pequim e do Tratado Norte-Americano de Livre-Comércio.

Candidatas têm visões diferentes sobre como lidar com os EUA. Economicamente, enquanto Claudia Sheinbaum tem pouco interesse em alterar as relações estáveis com o país, Xóchitl Gálvez adota um tom nacionalista à economia, que pode sinalizar um leve distanciamento entre as nações. As análises são do professor Leonardo Trevisan, da ESPM.

China pode desestabilizar relação entre os dois países. Marcas chinesas têm adotado uma prática de "nearshoring", entrando no México para vender produtos mais baratos aos EUA. Apesar do resultado dessa prática ser a produção de "produtos 100% mexicanos" com tecnologia chinesa, a Casa Branca começa a sinalizar incômodo com a manobra, o que pode amargar a relação econômica entre os dois países, afirma o professor.

Os Estados Unidos reclamam muito dessa medida, mas o México não pode abrir mão da entrada de capital chinês no país. O quanto o México vai permitir a entrada da China e o quanto o México vai, de alguma forma, se indispor com os Estados Unidos por causa disso, é o ponto mais sensível da escolha do futuro governo.
Leonardo Trevisan, professor do curso de Relações Internacionais da ESPM

O controle da fronteira com os Estados Unidos também é outro tema delicado que envolve México e Estados Unidos. Somente em dezembro de 2023, 250 mil imigrantes tentaram entrar no país pelo México, segundo dados da Fiscalização de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA.

Sheinbaum fala em "construir pontes" para a migração legal entre os dois países. Em entrevistas, a candidata alegou que países como os EUA precisam de mão de obra mexicana e citou que trabalharpa para uma "relação de iguais", sem submetimentos aos EUA.

Para a opositora Galvéz, um novo acordo migratório com o país vizinho é necessário. Em campanha, ela afirmou que o México precisa de mais recursos econômicos para lidar com a questão e criticou a violência com que o Instituto Nacional de Migração trata aqueles que vêm da América Central e América do Sul para tentar cruzar a fronteira.

Mesmo com a diferença entre as candidatas, a relação entre México e EUA será influenciada por quem for eleito "do lado de lá" da fronteira. Para todos os especialistas, a escolha de Joe Biden deve manter as relações dos dois países aprazível, mas a possível (e provável) escolha de Donald Trump pode fortalecer o estremecimento das relações.

Relação com o Brasil seguirá estável. Nenhum dos professores ouvidos pelo UOL apontou grande risco às relações entre os dois países, que, segundo os especialistas, foi construída de forma sólida ao longo de anos.

Acho que, em um governo Biden, a tendência é a relação continuar próspera, até porque independente da mulher que ganhar, que for a próxima presidente do México, ela sempre vai ter interesses importantes com os Estados Unidos. Então, não vai mudar muito partindo do México, mas, partindo dos Estados Unidos, pode mudar bastante.
Regiane Bressan, professora da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da Unifesp

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