Franceses organizam cocô coletivo 'no rio Sena' antes da Olimpíada

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, quer mergulhar no Sena antes do início das Olímpiadas. Ela pretende provar para o mundo que a água do rio está apta para receber os atletas da natação em água aberta e triátlon.

Mas alguns franceses pretendem recepcioná-la com uma surpresa nada agradável: um "cagaço" no rio que corta a cidade bem no dia da visita dela. E até mesmo um algoritmo para calcular o tempo que o cocô percorreria do vaso sanitário até o esgoto foi criado.

Para o banho, Hidalgo convidou algumas autoridades. O presidente Emmanuel Macron, por exemplo, já teria confirmado presença, segundo o Le Parisien. A primeira data considerada para o banho foi 23 de junho, mas os planos foram por água abaixo.

A justificativa oficial tem a ver com a vazão do rio após muitas chuvas. Especula-se que o real motivo envolva a qualidade de água. Ela chegou a remarcar para o dia 30 de junho, mas já recuou sob a mesma alegação.

Na quinta-feira (12), Hidalgo afirmou que vai ao Sena após as eleições parlamentares, mas antes do início dos Jogos — entre 8 e 23 de julho.

Os franceses que não estão felizes com a ideia e decidiram enviar a "surpresinha" para as autoridades. Um grupo, não identificado, criou o movimento #JeChieDansLaSeineLe23Juin no X (antigo Twitter) no final de maio.

Poucos dias depois, um site com o mesmo domínio foi lançado. Na tradução, a frase significa: eu caguei no Sena em 23 de junho. Apesar de não ser mais a data oficial do mergulho, a hashtag está funcionando como um símbolo de revolta local.

Protesto dos franceses

Porque depois de nos colocar na merda, cabe a eles se banhar na nossa merda.
lema do coletivo

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O site é simples: tem uma contagem regressiva e um campo onde você consegue informar a quantos quilômetros está distante de Paris. A partir desse dado, o algoritmo entrega a que horas o cidadão deveria evacuar para o seu cocô chegar ao meio-dia (horário previsto para o mergulho) no rio Sena.

Quem for ao banheiro na cidade de Champagne, por exemplo, deve fazer cocô três dias antes às 10h30 da manhã. O local fica a 147 quilômetros da capital, mas é cortado pelo rio Marne - um dos principais afluentes do Sena. No total, são oito afluentes: Aube, Marne, Ouse, Epte, Andrelle, Yonne, Eure e Risle.

Vale destacar, no entanto, que não existem garantias que os excrementos humanos vão chegar até as autoridades. É possível até mesmo estimar o tempo entre São Paulo e Paris, que não tem qualquer ligação de esgoto. A título de curiosidade, se fosse possível, levaria mais de seis meses.

Quem está a frente do site é um engenheiro de computação que tem cerca de 20 anos e mora na região de Paris, segundo a mídia internacional. Ele não pretende revelar a sua identidade.

A única coisa que a prefeita de Paris procura é causar impacto com este tipo de eventos para esconder as políticas catastróficas da cidade. São milhões investidos para os Jogos Olímpicos e, ao mesmo tempo, todos os serviços públicos abandonados, como o transporte público ou a cidade insalubre, com ratos por todo o lado.
responsável pelo site à imprensa francesa

No X, onde tudo começou, dezenas de franceses aderiram ao movimento. Uma foto gerada com inteligência artificial mostra vasos sanitários instalados no curso do rio.

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Promessa de anos

Faz décadas que os parisienses esperam o cumprimento de uma promessa que parecia inatingível: voltar a tornar o rio Sena próprio para o banho, como era comum no século 19. A possibilidade sinaliza o fim de uma epopeia iniciada há 10 anos, quando Paris foi escolhida como a sede das Olimpíadas de 2024.

Os três maiores desafios são desviar a água de esgoto, que ainda vai parar no Sena; melhorar a eficiência das estações de tratamento; e acabar com a poluição gerada pelo tráfego fluvial, com a circulação de embarcações de turismo e transporte de pessoas e mercadorias.

Mas os dejetos dos barcos representam uma gota d'água perto do esgoto gerado por cerca de 30 mil casas, cujas canalizações não estavam conectadas como deveriam às estações de tratamento. Assim, a água poluída ia parar no Sena ou no Marne, seu afluente.

Investimento bilionário

Com o avanço das obras, a um custo total de 1,4 bilhão de euros (R$ 8 bilhões) desde 2016, Paris realizou eventos pontuais no Sena, para reconquistar a confiança dos moradores.

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Uma pesquisa realizada em 2021 apontou que apenas 12% dos moradores estariam dispostos a nadar no local —algo que era comum um século atrás. Um argumento de peso das autoridades é que 32 espécies de peixe já voltaram a viver no Sena.

No entanto, em maio deste ano, a associação Surfrider, que realizou suas próprias análises, concluiu que as taxas da bactéria E.Coli continuavam acima das normas exigidas pela federação internacional de natação —especialmente na altura da emblemática ponte Alexandre III, em pleno coração de Paris.

O mergulho de Hidalgo e Macron é simbólico, e a limpeza do Sena é vista como um legado dos Jogos Olímpicos. A expectativa do governo de Paris é que vários pontos do rio devem abrir para o público a partir do ano que vem.

*Com informações da AFP e RFI

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