'Não cabíamos': ilha no Caribe é esvaziada após elevação do nível do mar

As frentes das 300 novas casas, construídas em cima de um campo de mandioca na costa do Panamá, começaram a receber redes na última semana. Quem vai morar ali são famílias indígenas da etnia Guna, que antes habitavam a ilha de Gardi Sugdub.

O local é o primeiro a ser evacuado no Caribe por causa do aumento do nível do mar. Agora, os antigos moradores transportam fogões, cilindros de gás, colchões e pertences em barcos e caminhões para Isberyala.

O povo indígena que vivia na ilha é o primeiro de 63 comunidades ao longo das costas do Caribe e do Pacífico do Panamá que devem ser forçadas a se mudar nas próximas décadas, conforme preveem autoridades e cientistas.

Todos os anos, o nível da água sobe, enche as ruas e entra nas casas. Durante os meses de novembro e dezembro, chove forte na região. As alterações climáticas também aquecem os oceanos e alimenta tempestades cada vez mais fortes.

Quem vai morar no novo espaço são famílias indígenas da etnia Guna
Quem vai morar no novo espaço são famílias indígenas da etnia Guna Imagem: MARTIN BERNETTI/AFP

Os moradores já veem diferença na nova residência. "Aqui é mais fresco. Lá (na ilha) a essa hora do dia está um forno", afirmou Augusto Walter, de 73 anos, à Associated Press. Ele vai dividir a casa com a esposa e mais três membros da família.

Em Gardi Sugdub, cerca de 200 famílias escolheram ficar enquanto a retirada não é obrigatória. Quem optou por permanecer construiu um novo imóvel, com dois andares. A maioria das famílias já migrou completamente para Isberyala ou está em processo de mudança.

Honestamente, não sei por que as pessoas querem morar lá [em Isberyala]. É como morar na cidade, trancado e não dá para sair, e as casas são pequenas. Augencio Arango, mecânico de barcos

Continua após a publicidade

Para Augencio, que tem 49 anos, ficar na ilha é mais relaxante. Seus parentes, no entanto, resolveram sair de lá. Segundo ele, as mudanças climáticas não são as responsáveis pelas mudanças no nível do mar.

Boat que leva os moradores no trajeto ilha-continente
Boat que leva os moradores no trajeto ilha-continente Imagem: MARTIN BERNETTI/AFP

"O homem é quem prejudica a natureza. Agora eles querem derrubar todas as árvores para construir casas em terra firme", disse Augencio à Associated Press. Outras famílias, como a de Ernesto López, de 69 anos, sentem-se mais confortáveis após a mudança.

Em Gardi Sugdub estávamos realmente espremidos em casas com muita gente. Não cabíamos mais, e o mar chegava todo ano. Ernesto López

Famílias como a dele, no entanto, ainda não têm eletricidade nem água em Isberyala. O governo afirma que o local dispõe da infraestrutura, mas as famílias tiveram que abrir contas próprias. Na primeira noite, eles dormiram com uma lanterna movida a bateria e queimadores de gás que trouxeram da ilha.

Continua após a publicidade

A mudança aconteceu, mas isso não significa que a ilha será abandonada por completo. Os ex-moradores planejam visitar as terras de vez em quando. E tem quem esteja fazendo isso com frequência enquanto a eletricidade e outros insumos não são plenamente estabelecidos.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.