Militares bolivianos tentam golpe por procuração, analisa professor

O professor de relações internacionais Leonardo Trevisan, da ESPM, afirmou no UOL News desta quarta (26) que a tentativa de golpe de militares na Bolívia esconde interesses num momento-chave da economia do país, pautado por acordos internacionais em torno do lítio e de hidrogênio verde.

Havia uma reunião ministerial e uma pretensão de fazer uma remodelação no governo boliviano que incluía a destituição de todos os ministros. Esse é o ponto. De todos os ministros, mas tem ministros e ministros. Os três ministros militares não se incluíram nesse movimento. O que é que tem por trás disso? A Bolívia está num momento decisivo para acordos internacionais pra lítio, acordos internacionais para outros metais, acordos internacionais, inclusive, para hidrogênio verde. É esse o quadro. Quem é que fica com a glória desses acordos? Os militares bolivianos estão, de alguma forma, fazendo um golpe, eu não tenho muita dúvida disso, por procuração. Há outros interessados. O golpe não se consumou por inteiro. Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais

Leonardo Trevisan explica que a Bolívia repete seu histórico de golpes de Estado.

De algum modo, a gente pode olhar pra esse quadro e lamentar que é a Bolívia sendo Bolívia, como sempre foi. Uma história enorme de muitos golpes. Por outro lado, podemos comentar que há um novo formato de inserção da Bolívia no cenário internacional que está despertando muitas intenções políticas, uma delas está aparecendo por intermédio desse golpe.

É esse o ponto: quem é que está interessado em? As forças democráticas bolivianas, em Miraflores, fizeram já algumas manifestações, e ele [o presidente Luis Arce] convocou aquilo que é o sustentáculo do governo Arce e que era o sustentáculo do governo Morales, que são os mineiros, que são as forças sociais e, principalmente, a população indígena, muito difícil de conter. Eles já impediram, nos últimos 10 anos, mesmo depois do final do governo de Evo Morales, de alguma forma, esse tipo de ação. Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais

Leonardo Trevisan disse estar ainda tentando entender em nome de quem se deu a ação dos militares.

Quem foram os derrotados por Arce? Eles eram de um outro modelo de inserção da Bolívia. Isso tem a ver com quanto cobra de imposto, quais são as taxas de exportação. E é exatamente isso que, de alguma forma, fica mais claro nesse golpe. Se observar bem, é um meio golpe, porque ele derruba as portas do palácio, mas não prende o presidente. Ele quer que o presidente termine o mandato, porque ele não quer uma grande confusão que prejudique o investimento internacional. Mas, não quer a reforma ministerial que, de certa forma, sinalizaria um outro perfil para as relações bolivianas. É esse quadro que precisamos entender.

De verdade, podemos dizer que a Bolívia está sofrendo as dores da mudança no cenário econômico mundial. Ela, infelizmente, ou felizmente, é dona da 3ª reserva de lítio da América Latina - a primeira é argentina, a segunda é peruana —, pra dar um exemplo. Não é só o lítio. Toda a transformação em torno de carro elétrico — e isso é só a ponta do iceberg das grandes mudanças com energia. É nesse contexto que a gente precisa entender um pouquinho a situação boliviana. Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais

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