Ao defender o 'Gilmarpalooza', Flávio Dino agiu pelo jabá
O ministro do STF Flávio Dino havia sido um juiz federal independente, imparcial, equidistante das partes processuais e, também, dos interessados que usam da sedução e exploram aquilo que Santo Agostinho chamou, na Cidade de Deus, de vanglória, a glória vã.
Dino demonstrou, como juiz, que conhecia e dominava os ramos do Direito, mostrou-se culto e justo.
Renunciou à magistratura federal e foi para a vida política partidária. Venceu politicamente e triunfou, como David, a batalha contra o 'Golias', ou melhor, Sarney.
Reduziu a pó de traque a dinastia dos Sarney, conhecida por ações e espírito de senhores feudais, junto aos pobres e esquecidos cidadãos do estado do Maranhão.
Na política, Dino, e basta atentar para a sua trajetória e ao número de eleições ganhas, teve sucesso.
No Ministério da Justiça e Segurança Pública, Dino fez campanha para obter cadeira no STF, junto a Lula. Com o filolulista Ricardo Lewandowski disponível e com currículo invejável para servir no Ministério da Justiça e Segurança Pública, Dino foi ocupar a suprema vaga aberta.
Com pouco tempo de STF, Dino, como já percebido até pelos 'capinhas' que auxiliam nas sessões (usam meia capa preta e não togas talar, ou seja, compridas até o talo de Aquiles), aproximou-se do decano, ministro Gilmar Mendes.
Convidado para a 12ª edição do "Gilmarpalooza", o ministro Dino aceitou e aderiu ao grupo liderado por Gilmar Mendes, que tem o ministro Dias Toffoli como sabujo-mor, dados os infinitos elogios e deferências mostrados, via TV Justiça, nas sessões.
Até aí, vá lá. Agora, defender o "Gilmarpalooza" de unhas e dentes, em uma adesão ao corporativismo togado, Dino sujou a imagem e fez-se parecer a um aderente aos panos de sacripanta.
Defesa de ocasião
A defesa feita por Dino ao Gilmarpalooza soou um "jabá togado".
Para os que têm olhos de ver e sentir, pareceu um agrado de Dino pelo seu ingresso na "playlist" do ministro Gilmar Mendes, o magistrado e político mais poderoso do Brasil.
Além de elogiar um evento que representa uma violência à sociedade brasileira, — e a respeito não vou repetir o frisado na minha coluna anterior à presente —-, Dino soltou uma pérola. Isso ao tentar inventar uma justificativa para as realizações do "Gilmarpalloza" em Lisboa e não no Brasil.
A propósito, o evento 'Gilmarpalooza" nunca despertou o interesse dos portugueses, mas sempre foi de grande interesse a lobistas e pendurados em ações no STF. E até em manutenção da decisão monocrática de Toffoli a suspender pagamentos em bilionários acordos de leniência.
No "Gilmarpalooza", frise-se, marcou presença a elite predatória brasileira, os oportunistas de todas as ideologias e os "donos do poder", para voltar a usar o título de um dos mais importantes livros explicativos do Brasil, do saudoso jurista gaúcho Raimundo Faoro.
Newsletter
OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberNão havia segurança para a realização do "Gilmarpalooza" no Brasil, sustentou Dino, já ministro da pasta de Segurança Pública. Usou da polarização e do extremismo bolsonarista. Da violência impeditiva, da falta de tranquilidade e segurança aos participantes e quejandos delirantes.
Esqueceu-se Dino das edições anteriores, ocorridas bem antes do golpe de Estado engendrado por Bolsonaro e apoiados por alguns dos presentes nessa 12ª edição do "Gilmarpalooza".
O argumento atenta à inteligência do cidadão brasileiro. No Brasil, qualquer evento é seguro. E o "Gilmapalooza", para a população, não despertaria nenhum interesse. Manifestações de Bolsonaro e Lula ocorreram, recentemente, sem nenhum incidente e com muitos participantes.
Para usar uma expressão da predileção de Gilmar Mendes, infinitamente repetidas, a justificativa de Dino tornaria, pelo caradurismo, rubra a face de um monge de pedra.
Já não bastasse ao brasileiro saber da presença no "Gilmarpalooza" do presidente do STF, um ex-desafeto do ministro Mendes e agora aliado em questões corporativas, tivemos o jabá de Dino.
Caronte
Quando Dante Alighieri aproximou-se da barca de Caronte, isto no ingresso ao Inferno, ouviu do transportador das almas penadas, Caronte, a expressão: "Oi, você vindo a este doloroso lugar, atenção, olhe bem, como entras e em quem vais confiar e não te engana com a amplidão do ingresso". Como realizei uma tradução livre, adaptável ao descrito no comentário, segue o original: "Oh tu che vieni al doloroso ospizio... guarda com´entri e di cui tu ti fide, non t´inganni l´ampieza de l´entrare".
Dino teve as portas abertas do "Gilmarpalooza". Entrou para o grupo, mas, na foto de Lisboa, revela um lado tendencioso e até bobagem grossa falou para defender o indefensável.
Atenção! Nesta coluna fomos um dos primeiros a defender haver sido feliz a indicação do ministro Flávio Dino para o STF.
Deixe seu comentário