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O que pode acontecer com a Venezuela após a reeleição de Maduro

Bruno Luiz e Robson Santos

Do UOL, em São Paulo

29/07/2024 03h20Atualizada em 29/07/2024 11h43

Após eleições tensas, Nicolás Maduro foi reeleito presidente da Venezuela para seu terceiro mandato com duração de seis anos, declarou o CNE (Conselho Nacional Eleitoral), órgão responsável pela realização dos processos eleitorais no paí.

O que pode acontecer

O ditador venezuelano teve 51,2% dos votos, diz CNE, sem apresentar as atas da eleição. Com 80% das urnas apuradas, o atual presidente foi declarado vencedor ao obter 5,150 milhões de votos (51,2%) contra 4,445 milhões (44,2%) de Edmundo González Urrutia. A oposição contesta a decisão e exige que as atas sejam apresentadas.

China e Rússia reconhecem vitória de Maduro; EUA e União Europeia cobram transparência. Nesta segunda-feira, China e Rússia se apressaram por felicitar Nicolás Maduro pela vitória na eleição, enquanto americanos e europeus indicaram sua preocupação diante do risco de fraude.

O governo brasileiro cobra a divulgação das atas da eleição. A apuração é do colunista do UOL Jamil Chade. A precaução de Brasília é tomada diante da sensibilidade do processo. O Itamaraty informou que ainda não tomou conhecimento sobre a transparência das eleições venezuelanas neste ano.

Principal candidato de oposição ao chavismo, Urrutia pode alegar fraude nas eleições e pedir uma nova apuração das urnas, avalia especialista. "A oposição pode alegar fraude, não exatamente na contagem de votos, embora também possa pedir a recontagem, mas alegando a dificuldade dos residentes no exterior em se registrar previamente e em votar", disse Carolina Pedroso, professora de relações internacionais da Unifesp.

Denúncias de fraude na Venezuela podem pressionar ou isolar o regime de Maduro perante outros países, avalia Pedroso. "Perder o reconhecimento de pares de esquerda da América Latina, como Lula, Petro, Boric, Sheinbaum etc. tem peso", comenta a professora, citando os presidentes do Brasil, Colômbia, Chile e México, que são de esquerda.

Pelos sinais dados pelo Brasil, a postura da nossa diplomacia deve mudar, até para nos preservar de corroborar um processo eleitoral questionável, além da perspectiva de saída massiva de pessoas que tende a ocorrer e que também nos afeta
Carolina Pedroso, professora de relações internacionais da Unifes

"A comunidade internacional, não teria muito jeito, a não ser reconhecer o pleito, desde que não houvesse evidências de fraude", disse Paulo Velasco, professor de Relações Internacionais da UERJ.

Acusações de fraude e pedido de contestação das eleições podem criar "um clima de convulsão e até mesmo de violência". "A Venezuela pode enveredar por um caminho de manifestações constantes, violência, em termos de repressão por parte do governo", conclui Velasco.

Mesmo não sendo declarado vencedor, o partido de Urrutia apresenta um maior preparo e avanço no pleito venezuelano. "Depois de alguns anos com uma oposição mais desarticulada e, de certa maneira, emudecida, sem tanta vontade de lutar, depois de tanta frustração, voltamos a ver uma oposição mais articulada, mais coordenada, com uma disposição renovada para combater o regime e os excessos autocráticos de Maduro", analisa Paulo Velasco.

Com 80% das urnas apuradas, o resultado seria irreversível, segundo o CNE. O anúncio foi feito por volta da 1h da madrugada desta segunda-feira (29), horário de Brasília. Vantagem de Maduro era de cerca de 700 mil votos no momento em que a parcial foi divulgada.

Ameaça de Maduro antes das eleições

Para Maduro, apenas sua vitória garantiria a "paz" no país. No dia 18 deste mês, o presidente da Venezuela chegou a alertar para a possibilidade de um "banho de sangue" e uma "guerra civil", caso não vencesse as eleições. "Quanto mais contundente for a [nossa] vitória, mais garantias de paz vamos ter", disse Maduro durante discurso na ocasião.

Lula (PT) reagiu à declaração do aliado Maduro. A fala do venezuelano foi criticada pelo presidente do Brasil, apesar de o petista ser um aliado tradicional de Maduro.

De 21 milhões de venezuelanos aptos a votar, 59% compareceram às urnas neste domingo (28), segundo o CNE. O voto é facultativo na Venezuela. Mais cedo, após o encerramento da votação, a oposição falou em votação massiva.

Maduro governa a Venezuela desde a morte de Hugo Chávez em 2013. Se cumprir o novo mandato até o final, terá permanecido por 17 anos ininterruptos no poder.

O chavismo completou 25 anos no poder. Os últimos 11 foram liderados por Nicolás Maduro. A reeleição do chavista em 2018 foi chamada de fraudulenta pela oposição —que boicotou a votação—, pela União Europeia e pelos Estados Unidos, que impuseram uma bateria de sanções para tentar tirá-lo do poder.

Houve atraso e intimidação em algumas cidades. Centros eleitorais chegaram a registrar atraso de uma hora para início da votação em Táchira, estado que faz fronteira com a Colômbia. Na região, também foram registradas intimidações de grupos de homens encapuzados que realizaram disparos para o alto em meio às filas de eleitores. No município de Antonio Rómulo Costa, por exemplo, homens não identificados espalharam panfletos com mensagens intimidatórias próximo a centros de votação.

Observadores internacionais foram barrados às vésperas do pleito. O governo de Maduro proibiu a entrada de avião com ex-presidentes e uma comissão formada por dez deputados e senadores da Europa. No sábado (27), um ex-deputado espanhol —que participaria como observador das eleições a convite da oposição— também foi expulso.

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