Jamil Chade

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Reportagem

China e Rússia reconhecem Maduro; EUA e UE cobram transparência

A eleição na Venezuela escancarou o racha nas potências mundiais em relação à situação na América do Sul. Nesta segunda-feira, China e Rússia se apressaram por felicitar Nicolás Maduro pela vitória na eleição, enquanto americanos e europeus indicaram sua preocupação diante do risco de fraude.

China: o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian, destacou a organização exitosa do pleito na Venezuela e mencionou que os dois países são "bons amigos e parceiros que se apoiam mutuamente". Lin também sinalizou que Pequim "atribui grande importância ao desenvolvimento das relações entre a China e a Venezuela" e que vai trabalhar com Caracas para "enriquecer o conteúdo" de sua parceria estratégica.

Rússia: o presidente Vladimir Putin fez questão de parabenizar Maduro por sua reeleição. "As relações russo-venezuelanas têm o caráter de uma parceria estratégica", disse Putin em uma mensagem a Maduro, informou o Kremlin. "Tenho certeza de que suas atividades à frente do Estado continuarão a contribuir para seu desenvolvimento progressivo em todas as direções", afirmou.

"Isso atende plenamente aos interesses de nossos povos amigos e está de acordo com a construção de uma ordem mundial mais justa e democrática", disse Putin. "Eu gostaria de confirmar nossa disposição de continuar nosso trabalho conjunto construtivo em questões atuais da agenda bilateral e internacional", completou.

Brasil: O governo Lula (PT) vai aguardar que as atas da eleição presidencial na Venezuela estejam disponibilizadas para reconhecer os resultados do voto em Caracas. Isso, segundo o UOL apurou, pode levar algumas horas para ocorrer. A precaução de Brasília é tomada diante da sensibilidade do processo.

Críticas e cobranças pelos ocidentais

A União Europeia e os EUA cobram transparência por parte das autoridades venezuelanas, no que se refere à contagem de votos. Em ambos os lados do Atlântico, qualquer reconhecimento dos resultados apenas ocorrerá se houver algum sinal de segurança sobre o processo de apuração.

União Europeia: "Os venezuelanos votaram sobre o futuro do país de forma pacífica e em grande número. A vontade deve ser respeitada. É essencial garantir a total transparência do processo eleitoral, incluindo a contagem pormenorizada dos votos e o acesso (aos documentos) das assembleias de voto", afirmou alto representante da diplomacia da UE, Josep Borrell.

EUA: "Vimos o anúncio há pouco tempo pela comissão eleitoral venezuelana. Temos sérias preocupações de que o resultado anunciado não reflita a vontade ou os votos do povo venezuelano", disse Antony Blinken, chefe da diplomacia americana.

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Espanha: Quem também se pronunciou foi o ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, que pediu "transparência total" e exige que as atas sejam divulgadas "tabela por tabela para que os resultados possam ser verificados". O governo espanhol é liderado pelo socialista Pedro Sanchez.

Por enquanto, diversas capitais europeias têm se mantido cautelosas sobre os resultados divulgados.

Relação de Biden com Maduro

Depois de uma estratégia desastrada por parte de Donald Trump na região, o governo de Joe Biden optou por uma nova forma de lidar com a crise na Venezuela. O tema foi tratado entre Lula e o presidente americano em março de 2023, abrindo caminho para uma reavaliação da postura da Casa Branca.

Após meses de conversas sigilosas, um acordo foi fechado em outubro de 2023 para permitir que as eleições pudessem ocorrer, em troca de gestos por parte da Casa Branca sobre aliados de Maduro detidos nos EUA e até a liberação da compra de determinados produtos venezuelanos.

A guerra na Ucrânia e a necessidade por um substituto aos russos no fornecimento de petróleo também levaram Emmanuel Macron, presidente da França, a buscar uma aproximação ao governo Maduro.

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Tanto europeus como americanos apostaram na eleição como forma de superar a crise política venezuelana, sinalizando que poderiam até mesmo flexibilizar as sanções caso o processo de voto fosse transparente.

China e Rússia: aliados estratégicos

Nos últimos anos, o caos venezuelano abriu um vácuo na geopolítica, e tanto russos como chineses tentaram se aproveitar para se instalar no que um dia chegou a ser o quintal dos EUA. A decisão do governo de Jair Bolsonaro de romper com Caracas e fechar sua embaixada por anos ampliou o espaço de manobra para potências estrangeiras.

Nada do que Donald Trump tramou para a região funcionou. Juan Guaidó, apoiado pelos americanos, não vingou como presidente autodeclarado. As sanções não derrubaram Maduro e apenas ampliaram o fluxo de refugiados e imigrantes, inclusive para os EUA. Se não bastasse, Caracas reconduziu completamente seu comércio e apoio financeiro ao eixo Pequim, Teerã e Moscou.

A China passou a exportar armas no valor de US$ 700 milhões para a Venezuela, enquanto mais de US$ 20 bilhões foram investidos por Pequim no país, principalmente no setor de energia. Xi Jinping chegou a perdoar parte da dívida da Venezuela, mas iniciou nos bastidores diálogos inclusive com a oposição. A meta: garantir sua posição de maior parceiro do país, independente do destino que o voto tomar.

A aliança chegou a preocupar diplomatas brasileiros nas negociações para a ampliação do Brics. Nos debates, ficou claro que Pequim poderia favorecer a adesão da Venezuela ao bloco dos emergentes, o que ampliaria o sentimento de que a aliança é uma iniciativa contra os EUA.

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Moscou, por seu lado, também usou o isolamento criado pela Casa Branca contra Maduro para ampliar suas relações com Caracas, inclusive coordenando posições sobre sanções que ambos enfrentam por parte do Ocidente.

Assim que a ofensiva de americanos começou contra o governo de Vladimir Putin por conta do risco de uma invasão ao território ucraniano, o Kremlin não excluiu a possibilidade de enviar soldados para Cuba e Venezuela.

O vice-ministro das Relações Exteriores Sergei Ryabkov deixou a porta aberta para a possibilidade de que Moscou estabeleça uma estrutura militar em Cuba e na Venezuela, como uma espécie de retaliação ou uma estratégia de equilíbrio de forças. A lógica é clara: se americanos querem contar com aliados como a Ucrânia e a Geórgia, nas portas do território russo, Moscou então também teria suas bases na América Latina.

Documentos obtidos pela coluna ainda revelaram como estatais russas e do regime chavista usaram uma rede de intermediários com base em paraísos fiscais para criar empresas. Num dos casos, o braço financeiro do Kremlin usou uma empresa implicada em corrupção e lavagem de dinheiro para fechar um acordo de US$ 1 bilhão com a PDVSA.

Em 2013, a instituição financeira Gazprombank ainda anunciou a criação da PetroZamora, na Venezuela. O banco faz parte da Gazprom, a estatal de energia do governo russo e pilar da estratégia política e econômica de Vladimir Putin.

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