Sem reconhecer vitória de Maduro, governo Lula cobra publicação de dados
Sem reconhecer a vitória de Nicolás Maduro, o governo brasileiro emitiu uma nota em relação às eleições na Venezuela e deixou claro que a publicação dos dados desagregados de cada uma das sessões é fundamental para a legitimidade do pleito.
A eleição foi concluída no domingo (28), com as autoridades venezuelanas indicando a vitória do ditador Maduro, com 80% das urnas apuradas. Boa parte da oposição questiona o resultado.
Líderes estrangeiros também denunciaram fraude, ainda que Rússia e China tenham já felicitado o venezuelano pela suposta vitória. O Brasil estava sendo pressionado desde a noite de ontem para se manifestar, já que é um ator de peso na questão venezuelana.
O governo Lula optou por não questionar e nem chancelar o resultado e insistiu sobre a necessidade de que o processo de transparência seja completo. O UOL já havia revelado na noite de ontem que o Palácio do Planalto não chancelaria a eleição enquanto não houvesse a entrega das atas.
Maduro teve 51,2% dos votos, anunciou o CNE (Conselho Nacional Eleitoral), órgão responsável pela realização dos processos eleitorais no país. Com 80% das urnas apuradas, o atual presidente foi declarado vencedor ao obter 5,150 milhões de votos contra 4,445 milhões (44,2%) de Edmundo González Urrutia. O anúncio ocorreu por volta da 1h da madrugada (horário de Brasília) e depois não foi mais atualizado.
Veja a nota do Itamaraty na íntegra:
O governo brasileiro saúda o caráter pacífico da jornada eleitoral de ontem na Venezuela e acompanha com atenção o processo de apuração.
Reafirma ainda o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados.
Aguarda, nesse contexto, a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito.
Celso Amorim se diz "incomodado"
Enviado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para Caracas, Celso Amorim afirmou que está "incomodado" com a questão da transparência na eleição venezuelana.
O assessor especial de Lula para assuntos internacionais disse que as atas das sessões eleitorais precisam ser fornecidas, como ficou combinado com as autoridades venezuelanas. Mas alertou que tampouco vai endossar a acusação da oposição de que houve fraude.
O UOL apurou que a delegação de Amorim está se reunindo neste momento com os observadores internacionais, justamente para entender o que está ocorrendo.
O problema que incomoda mais é a [falta de] transparência. O governo continua acompanhando até ter os dados necessários para fazer uma coisa com base, como em toda eleição.
Celso Amorim, diplomata enviado por Lula à Venezuela
Amorim declarou que não está colocando em dúvida o que o órgão responsável pela realização dos processos eleitorais no país divulgou, mas insistiu: "Tem que ser transparente".
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receber"O governo [da Venezuela] ficou de fornecer as atas das quais esse número resulta, mas isso ainda não aconteceu. O governo brasileiro continua acompanhando o desenrolar dos acontecimentos para poder chegar a uma avaliação baseada em fatos", acrescentou.
Também não vou endossar nenhuma narrativa de que houve fraude. É uma situação complexa, e nós queremos apoiar a normalização do processo politico venezuelano.
Celso Amorim
Risco de fraude
A precaução de Brasília é tomada diante do risco de fraude. O Brasil solicitou à missão da ONU na Venezuela e ao Carter Center que averiguem as denúncias da oposição sobre problemas na apuração dos votos. A ONU e o Carter Center foram recebidos na condição de observadores.
Após críticas de Maduro ao sistema eleitoral brasileiro, na semana passada, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) desistiu de enviar técnicos para acompanhar as eleições.
A oposição venezuelana afirma que não teve acesso a muitos boletins de urnas. Agora, o governo Lula quer que os observadores verifiquem a procedência da acusação.
Nos últimos dias, o Brasil foi informado por autoridades venezuelanas que Maduro reconheceria os resultados da eleição, considerada como estratégica para toda a região.
Os interlocutores brasileiros, porém, não receberam a mesma mensagem por parte da oposição, que cobrou garantias sobre o procedimento de contagem dos votos e sugeriu que uma apuração paralela também pode ocorrer.
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