Piloto da OceanGate diz que implosão de submersível Titan era 'inevitável'
Do UOL, em São Paulo
18/09/2024 15h47Atualizada em 18/09/2024 15h47
O piloto de submersível David Lochridge, que trabalhava para a OceanGate, afirmou em depoimento hoje (18) que o desastre do Titan era "inevitável" após as medidas de segurança necessárias serem ignoradas.
O que aconteceu
"Ideia da OceanGate era ganhar dinheiro", afirma ex-funcionário. Lochridge afirmou também que tinha preocupações sobre as capacidades do submersível desde sua construção, em 2017: "Não tinha nenhuma confiança [no Titan] e fui muito vocal sobre isso, e ainda sou".
Lochridge foi demitido após alertar empresa sobre problemas de submersível em 2018. O piloto havia alertado que o submarino não era capaz de descer a profundidades extremas, e acabou sendo demitido da empresa. À época, trabalhava como diretor de operações marítimas na época e era "responsável pela segurança de toda a tripulação e clientes".
Piloto foi processado por OceanGate por divulgar informações confidenciais. Lochridge recorreu, alegando que a rescisão de contrato foi injusta por ser um denunciante sobre a qualidade e segurança do submersível. No processo, Lochridge ainda detalhou uma reunião de engenheiros da empresa, na qual outros funcionários expressaram preocupação sobre a segurança do submersível.
Inquérito para investigar caso Titan começou na última segunda-feira (16). A audiência da Guarda Costeira dos Estados Unidos que investigará as causas da implosão do submersível Titan, da OceanGate, em 2023. As autoridades vão analisar questões prévias ao acidente, examinar a estrutura da embarcação e ouvir testemunhas ao longo das próximas duas semanas.
Objetivo é evitar que casos como o do Titan voltem a acontecer. Jason Neubauer, presidente do Conselho de Investigação Marinha dos EUA, disse no domingo (15) que a ideia é fornecer a agências federais e internacionais as recomendações de segurança necessárias para que "nenhuma família passe por uma perda como esta novamente".
Circunstâncias tornam a investigação complexa para a Guarda Costeira. A profundidade extrema em que o Titan implodiu, por exemplo, dificulta a recuperação de provas, acrescentou Neubauer.
Audiência vai determinar a dimensão de uma eventual negligência. Durante o processo, serão analisados eventos prévios ao acidente, a conformidade do Titan á regulamentação, as qualificações da tripulação, os sistemas mecânicos e estruturais e a resposta à emergência, segundo a Guarda Costeira. Se a investigação identificar algum crime, o caso será encaminhado ao Departamento de Justiça.
Especialistas já apontaram fatores que podem ter levado à implosão. Entre eles, de acordo com a NBC News, estão o fato de que o submersível de 23 mil libras (cerca de R$ 170 mil, pela cotação atual) foi feito com materiais experimentais, como fibra de carbono, que ainda não foi testada em profundidades extremas. Vale lembrar que os destroços do Titanic estão a cerca de 4 km da superfície do mar.
Caso Titan, da OceanGate
Submersível Titan implodiu em junho de 2023. O anúncio foi feito no dia 22 daquele mês pela OceanGate, responsável pelo submersível, que também admitiu a morte dos cinco ocupantes. O comunicado foi divulgado minutos antes de uma entrevista coletiva da Marinha americana, logo após os familiares das vítimas terem sido informados. O Titan havia submergido quatro dias antes, em 18 de junho.
Guarda Costeira encontrou cinco grandes partes do Titan. "Primeiro, encontramos a ponteira sem o casco pressurizado. Essa foi a primeira indicação de que houve um evento catastrófico", explicou o contra-almirante John Mauger à época. Pouco antes, no mesmo dia, partes do submersível haviam sido encontradas a 3,2 km de profundidade e a cerca de 480 metros do Titanic.
Um piloto e quatro passageiros faziam parte da expedição. São eles: Stockton Rush, presidente da OceanGate; o bilionário Hamish Harding; Shahzada e Suleman Dawood, um empresário paquistanês e seu filho; e Paul-Henry Nargeolet, ex-comandante da Marinha Francesa e considerado um dos maiores especialistas do naufrágio do Titanic.
OceanGate definia o submersível como 'seguro e confortável'. Antes do acidente, a empresa descrevia o Titan como uma embarcação feita de titânio e fibra de carbono capaz de "suportar a enorme pressão do fundo do oceano". Atualmente, porém, o site oficial da OceanGate diz apenas que a companhia "suspendeu todas as operações comerciais e de exploração".