O curioso 'pássaro-dragão', que tem fama de chupa-cabra e primo 'satânico'
Colaboração para o UOL
30/09/2024 05h30
Um pássaro virou uma estrela inusitada nas redes sociais nas últimas semanas, por sua semelhança com o dragãozinho Banguela, da franquia de animação "Como Treinar o Seu Dragão".
Assim como o personagem, que é um "Fúria da Noite", a espécie em questão tem hábitos noturnos, tanto que era conhecida como o "chupa-cabra" durante o século 19.
Afinal, que pássaro é este?
Este é o Noitibó-orelhudo (Lyncornis macrotis), um pássaro que pertence à familia Caprimulgidae. Ela é composta por espécies de asas longas, pernas e bicos curtos. Espalhados por quase todo o globo, com exceção da Antártida, eles se dividem em dois subtipos: os bacuraus, comuns na América do Sul, e os noitibós populares nos EUA, na Ásia e na Europa.
A primeira vez que ele foi descrito formalmente em um livro foi pelo zoólogo irlandês Nicholas Aylward Vigors, em 1831. Ele então o chamou de Caprimulgus macrotis, nome que só foi trocado em 2010, depois de um estudo genético que reclassificou seu gênero.
Fama de chupa-cabra era sucesso nos EUA do século 19. De acordo com o livro U.S.: An Index to The United States of America - Historical, Geographical and Political", publicado por Malcolm Townsend em 1890, a origem em latim do nome "caprimulgus" significaria "chupa-cabras", já que os noitibós tinham fama de sugar o leite de cabras e vacas e eram tidos por isso como uma espécie de morcego amaldiçoado, que traria maus presságios às populações rurais.
Lenda teria nascido com os gregos. A má reputação já era documentada desde os tempos de Aristóteles, de acordo com o Observatório de História Natural do Maine, uma organização sem fins lucrativos de pesquisa e preservação ambiental. Poetas europeus dos séculos 18 e 19 ainda apelidaram o noitibó-orelhudo de "pássaro do cadáver" porque o associavam de maneira mágica com a morte.
O noitibó-orelhudo não é dragão, mas tem hábitos e origens um tanto diferentes e um parente "satânico". Segundo a revista Australian Geographic, ele costuma incubar seus ovos no solo de florestas e é comum no sul da Ásia, especialmente em partes da Índia, do Vietnã, da Tailândia e da Indonésia. Neste último país, aliás, ele possui um outro primo polêmico, o noitibó satânico cuja reputação é bem explicada pelo nome — e que emitira um som que lembraria o olho de uma pessoa sendo bicado e arrancado.
Seu principal superpoder é bem menos sobrenatural. O noitibó é um mestre da camuflagem e, consegue com sua coloração amarronzada se esconder entre folhas secas com perfeição.
Visão noturna dele é acima da média. Além disso, ele possui uma camada de tecido sob o seu olho chamada "tapetum lucidum" que, ainda segundo a Geographic, reflete a luz visível de volta pela sua retina e torna a sua visão noturna espetacular. Não à toa, outros animais que também são considerados "maravilhas da evolução" como gatos, crocodilos e morcegos possuem o mesmo tecido — e habilidade de distinguir imagens com pouca luz.
Pequeno e letal — mas não para humanos. Os noitibós-orelhudos, com apenas 31 a 41 centímetros, fazem voos baixos espetaculares em que são capazes de beber água enquanto no ar e são bastante efetivos em caçar insetos. Ele é totalmente inofensivo para seres humanos.
Vive pouco. Em média, o dragãozinho sobrevive por cinco a seis anos, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza, que monitora suas populações. Atualmente, os noitibós-orelhudos não estão ameaçados de extinção.