Como Israel assassinou o 'açougueiro' de Gaza em um encontro por acaso
Colaboração para o UOL*
18/10/2024 13h44
Yahya Sinwar foi morto "ao acaso" na última quinta-feira (17), em confronto com unidades militares de Israel em Rafah. Membro do grupo desde 1987 e atual número um do Hamas, Sinwar era considerado o "açougeiro" de Gaza, graças a sua atuação violenta em conflitos armados e durante o período em que ficou preso.
Autoridades de Israel declararam que a identificação de Sinwar aconteceu somente após a morte.
Israel não sabia do paradeiro de Sinwar
Soldados não sabiam que alvo era líder do Hamas. Segundo o jornal The New York Times, os soldados responsáveis pela missão que matou Sinwar não tinham conhecimento de que o alvo era o líder do Hamas. A unidade militar israelense estava em patrulha no bairro Tel al-Sultan, em Rafah, no sul de Gaza, quando observou três homens fugindo de uma casa para outra. Ao atirar, os soldados viram uma pessoa fugindo sozinha para um dos prédios que já havia sido destruído.
Sinwar lançou duas granadas. O jornal Times of Israel relatou que Sinwar lançou duas granadas contra os soldados, que se retiraram e enviaram um drone para revistar o prédio. Neste momento, cujas imagens foram divulgadas pelas Forças de Defesa de Israel, os soldados ainda não sabiam que o homem era Sinwar. Ao identificar uma pessoa sentada em uma poltrona, os soldados abriram fogo novamente. Somente ao realizar uma varredura no local, já com o homem morto, os soldados desconfiaram se tratar de Sinwar.
Sinwar era considerado mentor de ataque. O líder do Hamas considerado o mentor do ataque de 7 de outubro de 2023, quando o movimento armado atacou os israelenses e deflagrou o conflito que se estende até hoje.
Israel utilizou DNA para identificar corpo de Sinwar
Morte do comandante foi confirmada com a realização de teste de DNA. Para comprovar a identidade do corpo, Israel utilizou dados de Sinwar que estavam armazenados em um hospital local onde ele havia realizado uma cirurgia no cérebro em 2008, durante período em que ficou preso no país.
Exames analisaram características físicas e genética de Sinwar. Em Jerusalém, a arcada dentária e as digitais de Sinwar foram verificadas durante o processo de identificação do corpo. Segundo a rede britânica BBC, os soldados israelenses retiraram dentes e cortaram um dedo do cadáver de Sinwar. As amostras foram enviadas a Israel antes do traslado do corpo.
Corpo de Yahya Sinwar foi transferido para um necrotério em Tel Aviv. Segundo o governo de Israel, o corpo deve passar por "exames complementares" no Centro Nacional de Medicina Forense da cidade.
Violento e 'implacável'
Sinwar fez jus ao apelido de "açougueiro". Antes de ser preso, Sinwar decapitou pessoalmente 12 acusados de serem informantes do Shin Bet, o serviço de segurança interna de Israel. Preso, o comandante matou ao menos três detentos com uma lâmina de barbear.
Agente de segurança de Israel definiu Sinwar como "implacável". Micha Koubi, ex-agente do Shin Bet, interrogou Sinwar em episódios que somam 180 horas. Antes da morte de Sinwar, Koubi havia feito declarações sobre as impressões que teve do comandante durante os encontros. "Quando ele [Sinwar] entrou pela primeira vez na sala de interrogatório, dava para ver que não era um cara normal. Ele tinha os olhos de um assassino, não ria, não batia papo, só falava no islã."
Koubi responsabiliza Sinwar por "75% do ataque" de 7 de outubro de 2023, quando o Hamas invadiu Israel e capturou centenas de reféns. Segundo o ex-agente, Sinwar não tinha a intenção de ceder, fazer acordos com Israel ou libertar reféns. "Ele quer matar todos", disse.
O que aconteceu
Sinwar era um dos nomes mais procurados por Israel. O governo israelense republicou a confirmação da morte de Yahya Sinwar nas próprias redes sociais, alegando que a Justiça "havia sido feita".
Fotos do corpo do líder do Hamas foram compartilhadas por ministro de estado de Israel. Em publicação nas redes sociais, Eli Cohen afirmou que Sinwar "assinou a certidão de óbito em 7 de outubro".
Hamas reconheceu a morte de seu líder, mas afirmou que guerra com Israel não chegou ao fim. Em discurso na TV, Khalil Hayya, chefe do Hamas em Gaza, declarou que Sinwar morreu "de cabeça erguida". Já Basem Naim, membro sênior do gabinete político do grupo, afirmou que o Hamas "é um movimento de libertação liderado por pessoas que buscam liberdade e dignidade, e isso não pode ser eliminado".
*Com informações da Folha de S.Paulo