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'Talvez seja meu último voto', diz Mujica em dia de eleição no Uruguai

Do UOL, em São Paulo

27/10/2024 13h20Atualizada em 27/10/2024 17h59

O ex-presidente uruguaio José Pepe Mujica afirmou que o voto deste domingo (27) poderia ser o último de sua vida. Uruguaios foram às urnas hoje para eleger um novo presidente.

O que aconteceu

"Talvez seja meu último voto", disse Mujica à imprensa. O ex-presidente chegou ao local de votação em uma cadeira de rodas. Ele finalizou o tratamento contra um câncer no final de setembro. Mas ainda há preocupações sobre o estado de saúde dele, considerado "frágil". "Tenho quase 90 anos e estou a lutar contra o câncer". Mujica também afirmou que se alimenta por sonda gástrica.

Mujica falou sobre a importância da participação dos jovens na política. O líder de esquerda destacou que "se os jovens não se envolverem estamos fritos". Acrescentou ainda que se essa parcela da população não se interessa pelo tema é porque os políticos não os conseguem atraí-los.

O ex-presidente também destacou a importância da democracia. Pepe declarou que o sistema não é perfeito, mas é melhor já inventado.

As democracias terão mudanças substanciais. É impossível que um parlamento represente todas as coisas da sociedade. Haverá mini-governos porque é impossível resumir [essas ideias] em 80 e 100 tipos
Pepe Mujica

O ex-guerrilheiro de 89 anos se recupera de problemas derivados de um câncer de esôfago. Ele foi muito ativo na campanha e uma das primeiras pessoas a votar neste domingo.

Eleições no Uruguai

A votação começou às 8h e prosseguirá até 19h30. Os uruguaios comparecem às urnas neste domingo para escolher o sucessor do presidente de centro-direita Luis Lacalle Pou, uma eleição que tem um pupilo do ex-presidente de esquerda José Mujica como favorito, mas que deve seguir para o segundo turno.

A segurança pública é o tema que mais preocupa a população do país. Com cerca de 3,4 milhões de habitantes, o Uruguai é predominantemente agrícola, com elevada renda per capita e baixos níveis de pobreza e desigualdade em comparação com as demais nações da região, mas que enfrenta um aumento da violência vinculada às drogas.

Onze candidatos, todos homens, disputam a sucessão de Lacalle Pou. O atual mandatáriotem índice de aprovação de 50%, mas não pode disputar um segundo mandato consecutivo de cinco anos pelas normas estabelecidas na Constituição.

Pupilo de Mujica é o favorito. O candidato da opositora Frente Ampla, Yamandú Orsi, um professor de história e ex-prefeito departamental de 57 anos, lidera as intenções de voto, com 41-47% segundo as pesquisas.

Álvaro Delgado, candidato do Partido Nacional, que lidera a atual coalizão de governo, aparece em segundo lugar nas pesquisas. O veterinário de 55 anos, que foi secretário da Presidência de Lacalle Pou, tem 20-25% das intenções de voto.

Andrés Ojeda, do Partido Colorado, que também integra a coalizão, aparece em terceiro com 15-16% das intenções de voto. O advogado midiático de 40 anos é comparado ao presidente argentino ultraliberal Javier Milei por sua forma nada convencional de fazer política.

Caso nenhum dos candidatos supere 50% dos votos, os uruguaios retornarão às urnas para o segundo turno em 24 de novembro. A coalizão de governo, que também inclui o 'Cabildo Abierto' (direita, 2-4% nas pesquisas), e o Partido Independente (centro-esquerda, 1-3%), já anunciaram que organizarão uma "festa da democracia" durante a noite, para demonstrar união.

A Frente Ampla convocou uma "celebração da esperança" em outro ato em Montevidéu. Orsi acredita no retorno da Frente Ampla à presidência, que o movimento perdeu em 2020, após três mandatos consecutivos, um deles com Mujica (2010-2015).

"Incerteza"

O voto é obrigatório no Uruguai. Uma hora após o fechamento das seções eleitorais, as primeiras projeções de resultado devem ser divulgadas. Mais de 2,7 milhões de uruguaios estão registrados para votar e escolher o presidente e vice-presidente para o período 2025-2030, além de renovar o parlamento bicameral.

Os eleitores também devem se pronunciar em dois plebiscitos. O mais polêmico, promovido pela central sindical única Pit-CNT com o apoio de setores da Frente Ampla, propõe a redução da idade mínima de aposentadoria de 65 para 60 anos e a proibição dos planos de previdência privados.

A iniciativa tem 35-47% de apoio nas pesquisas. Os três principais candidatos à presidência afirmaram que votarão contra a medida. O outro plebiscito, promovido por todos os candidatos da coalizão de governo e rejeitado pela oposição, pretende autorizar operações policiais nas residências durante a noite. As pesquisas mostram apoio de pouco mais de 50%.

"É uma eleição com muita incerteza e muito competitiva, com dois blocos muito equilibrados. Esperamos um segundo turno entre Orsi e Delgado. O que não está tão claro é se haverá maioria parlamentar, porque poucos pontos de diferença podem gerar movimentos políticos determinantes", disse à AFP o cientista político Adolfo Garcé.

"Não acreditamos na aprovação do plebiscito sobre a Previdência Social", acrescentou, mas se acontecer "poderia gerar um panorama muito complicado".

Analistas alertam para mudança constitucional. Segundo o Pit-CNT custaria 460 milhões de dólares (2,62 bilhões de reais) por ano, mas que segundo os críticos custaria mais do que o dobro, poderia prejudicar as finanças de um país que ainda está se recuperando das consequências da pandemia de covid e de uma seca recorde em 2023. Também precisa reduzir o déficit fiscal (-4,4% do PIB em agosto).

Apuração deve ser concluída amanhã. A Corte Eleitoral pode ter dados indicativos dos resultados finais durante a noite de domingo, mas espera concluir a apuração na madrugada de segunda-feira.

*Com AFP

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