Israel banir UNRWA é nova maneira de matar crianças em Gaza, diz Unicef
Do UOL*, São Paulo
29/10/2024 12h36
Agências da ONU (Organização das Nações Unidas) alertaram nesta terça-feira (29) que a decisão de Israel de proibir a agência de ajuda humanitária UNRWA pode resultar na morte de mais crianças e representar uma forma de punição coletiva para os moradores da Faixa de Gaza.
O que aconteceu
A lei aprovada por Israel que determina o banimento da UNRWA levantou preocupações sobre o oferecimento de ajuda em Gaza. O trabalho da agência de refugiados palestinos da ONU é tido como indispensável pelas organizações, empregando milhares de pessoas na região e fornecendo suprimentos básicos no enclave.
O porta-voz da Unicef, James Elder, disse que a medida pode ser o ''colapso do sistema humanitário''. Ele ainda falou que, se implementada, isso aumentaria os atos de punição coletiva - termo que se refere a sanções ou assédio contra um grupo, tomadas em retaliação por atos cometidos por membros individuais daquela comunidade.
A Unicef ficaria efetivamente incapaz de distribuir suprimentos que salvam vidas. Estou falando de vacinas, roupas de inverno, kits de higiene, kits de saúde, água e saneamento. Então, uma decisão como essa significa de repente que uma nova maneira foi encontrada para matar crianças. James Elder
Proibição de operação no país
A decisão do parlamento israelense vem após anos de críticas de Israel à UNRWA, que se intensificaram com o começo da guerra. A lei que designa a agência como terrorista foi aprovado no Knesset — parlamento israelense — por 87 votos a 9. O texto também prevê a proibição de laços entre as autoridades israelenses e a agência, além de retirar imunidades legais do grupo. Ao todo, o Knesset tem 120 membros.
Co-autor de um dos projetos comemorou as aprovações. "A lei que aprovamos agora não é apenas mais um projeto de lei. É um chamado por justiça e um chamado para despertar", disse o legislador Boaz Bismuth. "A UNRWA não é uma agência de ajuda para refugiados. É uma agência de ajuda para o Hamas", acrescentou, sem apresentar provas.
A lei de proibição foi aprovada por 92 votos favoráveis e 10 contrários. Houve um acalorado debate entre quem apoiava ou não a medida. A aprovação ocorreu mesmo com as objeções dos Estados Unidos e da própria ONU.
O texto proíbe que a agência conduza "qualquer atividade" em Israel. A medida inclui que a agência não possa "operar nenhuma instituição, fornecer nenhum serviço ou conduzir nenhuma atividade, direta ou indiretamente" no país e em Jerusalém Leste, setor da cidade ocupado e anexado por Israel desde 1967.
Israel já alegou que alguns dos milhares de funcionários da UNRWA participaram dos ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023. O país ainda acusa os funcionários de terem laços militares e denuncia ter encontrado objetos militares do Hamas perto ou sob instalações da agência.
A UNRWA já chegou a demitir nove funcionários após uma investigação, mas nega que ajude grupo armados e reforça que atua para expulsar rapidamente quaisquer militantes suspeitos em sua organização. Acusações de Israel já fizeram com que alguns dos principais doadores internacionais cortassem o financiamento da agência, mas parte foi restaurado.
*Com informações da Reuters