O que são estados-pêndulo e qual é importância deles nas eleições dos EUA?
Colaboração para o UOL
02/11/2024 05h30
Os votos dos chamados "estados-pêndulo" podem definir o resultado das apertadas eleições presidenciais dos EUA, apontam as pesquisas mais recentes. Mas o que significa essa expressão e como este processo funciona?
Grupo dos sete
Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Geórgia, Carolina do Norte, Arizona e Nevada são os "estados-pêndulos". Eles são chamados assim porque o resultado da votação neles pode variar de um lado a outro do espectro político, elegendo tanto republicanos quanto democratas, dependendo do ano.
Outros estados têm preferências claras e raramente desviam delas: é o caso do Texas, que tem maioria republicana, ou a Califórnia, que é sempre democrata.
Nos EUA, as eleições são indiretas. Os eleitores escolhem o candidato no qual querem que os delegados de seu estado votem. Cada estado possui um número diferente de delegados do outro, proporcional à sua população. O candidato mais votado em um estado "leva" todos os delegados, exceto nos estados de Nebraska e Maine. Nestes estados, o vencedor do voto popular de cada distrito leva os delegados correspondentes e o candidato que vence a votação popular no estado inteiro leva outros dois delegados.
Por isso, os votos dos eleitores dos sete estados-pêndulo acabam tendo mais peso do que os dos demais. Como os candidatos já "sabem" quais delegados vão votar nele com base na tendência de voto de estados mais tradicionais, os "pêndulos" são os que importam mesmo para vencer a disputa — e eles representam um número significativo de delegados (são 93, de 538 delegados em todo o país). Nos EUA, é preciso que um candidato conquiste 270 votos de delegados para ser declarado vencedor.
O que está em jogo em cada estado-pêndulo?
Pensilvânia: É o estado mais disputado, onde Trump teve vitória apertada em 2016 e perdeu para Biden em 2020, também com margem estreita. Como um estado em decadência industrial, que era o principal motor de sua economia, seus operários tendem a expressar na urna a decepção com os democratas. Kamala Harris tem a seu favor os projetos de infraestrutura lançados por Biden e apoio dos sindicatos, contudo. Por isso, grandes cidades, como Filadélfia e Pittsburgh, demonstram preferência por ela, segundo a AFP. Já Trump aposta na população rural.
Número de delegados: 19
Vitória projetada até o momento*: Trump
Michigan: Antigo reduto democrata, Trump venceu ali em 2016, mas Biden o reconquistou em 2020. Kamala tem o apoio do principal sindicato da indústria automobilística, importante para a região. No entanto, ela é rejeitada pelos muitos eleitores de origem árabe ou muçulmanos, devido ao suporte oferecido pelo atual governo a Israel na guerra em Gaza. Já Trump aposta no custo de vida para mobilizar a classe média contra a adversária, que é herdeira do governo Biden marcado pela inflação.
Número de delegados: 15
Vitória projetada até o momento*: Harris
Wisconsin: Também antigo membro do "muro azul", como eram chamados estados fortemente democratas, foi local de vitória para Trump em 2016 e recuperado por Biden em 2020. Os republicanos consideraram o estado importante o suficiente para realizar sua convenção ali em julho, em Milwaukee. O motivo? Seus eleitores moderados enxergam Trump como "ameaça à democracia".
Número de delegados: 10
Vitória projetada até o momento*: Harris
Geórgia: Situado no sul religioso e conservador, sua população tende a ser mais simpática aos republicanos que se posicionam contra a garantia federal ao aborto. Mas o apoio aos "vermelhos" diminuiu graças aos movimentos antirracistas apoiados pela sua grande população negra, que preferiu Biden em 2020 e pode votar pela afro-americana Kamala. Resta saber se serão suficientes.
Número de delegados: 16
Vitória projetada até o momento*: Trump
Carolina do Norte: Outro estado sulista, religioso e conservador, a Carolina do Norte não prefere democratas na Presidência desde Obama em 2008, mas tem um governador democrata desde 2017. Aqui, Kamala conta com a população negra (20%) e com os mais jovens, enquanto Trump tem melhor performance com a população branca e mais velha.
Número de delegados: 16
Vitória projetada até o momento*: Trump
Arizona: Tradicionalmente republicano, este estado do sudoeste americano acabou preferindo Biden em 2020, com uma vantagem de 10.457 votos. Ou seja, Kamala terá que lutar por cada voto aqui. Trump tem focado em combate à imigração ilegal, um tema popular neste estado que faz fronteira com o México, o que pode diminuir as chances de vitória da democrata. No entanto, em 2022, o estado elegeu uma colega sua de partido, Katie Hobbs, para governadora.
Número de delegados: 11
Vitória projetada até o momento*: Trump
Nevada: Apesar de manter forte presença republicana, o "estado dos cassinos", no meio-oeste, não parece tão sintonizado com pautas conservadoras e não vota em um republicano desde George W. Bush em 2004. A esperança da base de Trump é conquistá-lo com sua população latina, que é antipática aos democratas. Já apoiadores de Kamala apostam na chegada dos jovens, com melhor educação, da vizinha Califórnia que migram para trabalhar no setor de tecnologia ou energia, como eleitores.
Número de delegados: 6
Vitória projetada até o momento*: Harris
Balanço dos estados-pêndulo até o momento
Caso as previsões das pesquisas se confirmem, o resultado no grupo dos sete é de:
- Donald Trump: 62 delegados
- Kamala Harris: 31 delegados
No entanto, as margens de erro são muito pequenas nas pesquisas, o que pode levar a resultados diferentes das urnas. É importante levar em consideração que não são apenas estes estados que vencem as eleições. De acordo com as projeções do jornal The New York Times, se Kamala e Trump vencerem em todos os seus estados "garantidos", ela precisaria conquistar 44 delegados nos estados-pêndulo. Já Trump precisaria de 51.
*De acordo com base que reúne dezenas de pesquisas coletadas pelo jornal The New York Times. (Com informações da agência AFP.)