Eleições dos EUA: Na Pensilvânia, porto-riquenhos e latinos têm papel-chave

Porto-riquenhos e latinos da Pensilvânia terão um papel-chave na disputa pela Casa Branca. Há 579 mil latinos com direito a voto no estado, que não pode ser classificado nem como republicano, nem como democrata, os candidatos intensificam as campanhas para conquistar seu apoio.

A composição latina da Pensilvânia difere da de outros Estados, onde predomina a ascendência mexicana. Ali, 53,4% são porto-riquenhos, 12,6% de origem mexicana, 11,3% dominicanos, 3% cubanos e 2,6% colombianos, segundo a plataforma de dados Latino Data Hub. Tradicionalmente, os porto-riquenhos são os mais leais aos democratas, enquanto os de ascendência cubana tendem a apoiar os republicanos.

Porto Rico é um território não incorporado dos Estados Unidos. Porto-riquenhos são cidadãos norte-americanos, embora não tenham representantes eleitos no Congresso e a ilha não participe da eleição presidencial.

Custo de vida e guinada geracional

Na cidade de Reading, considerada a 'zona zero' do voto hispânico do estado, a comunidade de cerca de 100 mil habitantes enfrenta desafios econômicos e uma mudança geracional em direção ao partido de Donald Trump, segundo relataram moradores à reportagem da RFI.

Uma mudança geracional impactou a inclinação política dos eleitores. A avaliação é de Elizabeth Torres Laviena, porto-riquenha que vive em Reading há 45 anos e trabalha em uma escola. "Quando cheguei, éramos mais democratas. Agora estou vendo que os jovens estão mais inclinados para o lado republicano. Meu filho é republicano, eu sou democrata, mas também os vejo mais indecisos", afirmou.

Altos custos de creche estão excluindo as mulheres do mercado de trabalho, diz Elizabeth. "Trabalho ajudando as pessoas na comunidade também, e há muitas mães que não podem trabalhar porque não têm os recursos para pagar a creche". Ela e o marido, Mike Toledo, semanalmente, visitam um restaurante colombiano onde se encontram com parte da comunidade da cidade, no corredor latino da Pensilvânia.

A inflação e o alto custo de vida tornam cada vez mais difíci para os latinos alcançar o sonho americano. A avaliação é do marido de Elizabeth, Mike Toledo, que nasceu nos Estados Unidos e é diretor do Centro Hispano, uma organização sem fins lucrativos que ajuda os latinos na Pensilvânia a superar barreiras de acesso à saúde, educação e finanças. Ele alerta que os eleitores latinos não são uma massa homogênea e, se os candidatos querem ganhar o voto latino, precisam estar presentes e ouvir a comunidade.

Estamos vendo que cada vez mais famílias vêm ao Centro Hispano porque seus contratos de aluguel estão terminando e os proprietários aumentam o aluguel em 20 ou 30%. A qualidade da saúde e do atendimento médico também é criticamente importante

As campanhas têm que vir ao nosso bairro. Precisam nos encontrar para entender e saber onde estamos. As campanhas não podem nos dar como garantidos. O bloco eleitoral porto-riquenho não é um bloco eleitoral homogêneo.

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A Pensilvânia é o epicentro das eleições gerais. O condado de Berks e a cidade de Reading são a zona zero. Nós já sabemos como eles vão votar na Filadélfia e em Pittsburgh, mas o centro do estado é onde se decidirá quem ganha na Pensilvânia. Mike Toledo, diretor do Centro Hispano

"Deus primeiro, Trump depois"

Em Butler, Pensilvânia, onde Trump sofreu uma tentativa de assassinato e voltou para fazer um grande discurso, o porto-riquenho Gardner Mujica orgulhosamente vestia sua camiseta de "Latinos com Trump".

A única solução para os problemas da comunidade é que Trump volte ao poder, diz Mujica, nascido no Bronx, em Nova York. "Sei que posso falar pelos latinos aqui nos Estados Unidos: precisamos de Trump. Precisamos que Trump volte ao cargo. Precisamos que Trump faça tudo o que disse que faria para que possamos voltar ao que éramos: famílias de classe média ganhando dinheiro sem ter que trabalhar em dois ou três empregos para comprar uma casa, porque agora há uma inflação excessiva nos carros e uma inflação excessiva na moradia", afirma.

Para Mujica, os democratas apenas fazem política para enriquecer. "Minha cidade, neste momento, está sofrendo por culpa dos democratas, porque estão tomando medidas políticas para seus próprios bolsos e não para o povo. Querem nos tirar nossos direitos religiosos. Querem nos tirar tantas coisas e alguns da comunidade latina nem sequer sabem. Algumas pessoas simplesmente não querem votar, e isso nos prejudica muito. Se eu tivesse algo a dizer à comunidade latina, seria para confiar em Trump, ter fé e colocar Deus em primeiro lugar e depois Trump", disse.

Rafaela Gomez, dominicana e apoiadora de Trump, viajou cinco horas para poder vê-lo em Butler, uma cidade próxima a Pittsburgh, Pensilvânia. Ao sair do evento, questionou se é Trump quem coloca em risco os direitos das mulheres, apesar de ele ter nomeado juízes que limitaram o direito ao aborto em nível federal.

"Minorias indecisas serão determinantes"

Os latinos são a minoria que menos participa das eleições. Nos EUA, há 65 milhões de latinos, sendo 36 milhões são habilitados para votar. No entanto, apenas 17 milhões exercerão seu direito ao voto, segundo projeção da plataforma Latino Data Hub. Para o diretor da plataforma, Rodrigo Dominguez-Villegas, em um estado onde o vencedor do voto popular leva todos os votos eleitorais, as minorias ainda indecisas serão determinantes.

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Os latinos têm muito, muito poder na Pensilvânia. Lembremos que este ano há mais ou menos 580 mil ou 600 mil possíveis eleitores latinos e a última eleição, a eleição de 2020, foi decidida por mais ou menos 81 mil votos.

Se os eleitores latinos saírem para votar, claro que podem ser os que determinam o resultado da eleição presidencial no estado da Pensilvânia, que é um dos estados mais importantes, e está claro que a eleição está muito apertada de acordo com as pesquisas. Rodrigo Dominguez-Villegas, diretor da plataforma Latino Data Hub

Ambos os candidatos sabem que cada voto conta. Trump venceu na Pensilvânia por 44.000 votos em 2016. "É uma simplificação extrema atribuir uma margem de vitória estadual ou nacional a apenas um grupo demográfico", explica o professor universitário A.K. Sandoval-Strausz em um artigo na plataforma digital independente The Conversation. Mas ele faz uma ponderação.

Em uma eleição muito disputada como esta, pequenas mudanças nas margens entre grupos-chave, como os eleitores latinos na Pensilvânia, podem determinar quem se torna presidente. A.K. Sandoval-Strausz, professor universitário

Nos Estados Unidos, o voto popular não elege o presidente. Em vez disso, os eleitores escolhem os 270 delegados do Colégio Eleitoral que elegerão o próximo mandatário por maioria absoluta. Por isso republicanos e democratas buscam conquistar os eleitores de estados como a Pensilvânia, chamados de "chave" ou "pêndulo", que votam em um ou outro partido dependendo do candidato.

A diferença na intenção de voto entre Kamala Harris e Donald Trump na Pensilvânia varia entre 1% e 3%, dentro da margem de erro. O resultado leva os candidatos a intensificarem eventos e gastos de campanha no estado. As campanhas devem gastar US$ 10,7 bilhões em publicidade nestas eleições, segundo estimativa é do site Adimpact. Grande parte desse dinheiro será direcionada para a Pensilvânia e outros estados decisivos.

Salsa e reggaeton para atrair o eleitorado

Nas últimas semanas, Donald Trump e Kamala Harris têm recorrido às personalidades do reggaeton para atrair o voto latino. Trump foi fortemente criticado e ridicularizado pela comunidade por confundir Nicky Jam, um famoso cantor do gênero, com uma mulher, ao convidá-lo ao palco em um de seus eventos políticos. "A superestrela da música latina, Nicky Jam, vocês conhecem o Nicky? Ela é sexy. Onde está o Nicky? Oh, olha só, estou feliz que ele tenha subido", disse Trump.

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Por sua vez, Kamala Harris conseguiu o apoio de Marc Anthony, lendário cantor de salsa porto-riquenho. Ele atacou Donald Trump em um comercial de televisão pelo tratamento ruim que deu à ilha quando era presidente. "Olá, sou Marc Anthony, embora alguns tenham esquecido. Eu lembro de como era quando Trump era presidente. Eu lembro do que ele fez e disse sobre Porto Rico, sobre a retórica contra o nosso povo. Lembro que, depois que o furacão Maria devastou nossa ilha, Trump bloqueou bilhões de dólares em ajuda enquanto milhares morriam", relembrou.

A imagem de Trump saiu arranhada com artistas latinos e porto-riquenhos em evento na último domingo (27). Em comício no Madison Square Garden, o comediante Tony Hinchcliffe chamou Porto Rico de uma "ilha flutuante de lixo". O rapper, cantor e produtor porto-riquenho Bad Bunny, disputado pelos dois candidatos, fez seu primeiro gesto aparente de apoio a Kamal Harris. A atriz e cantora Jennifer Lopez, de pais nascidos em Porto Rico, e o cantor, compositor e ator porto-riquenho Ricky Martin se manifestaram contra a fala.

Aumento de 40% na participação dos latinos nesta eleição

Os dados do Latino Data Hub e do Latino Policy and Politics Institute mostram que haverá um aumento de 40% na participação dos latinos nesta eleição em comparação com 2016.

Os eleitores latinos são muito mais jovens do que outros eleitores no estado. E o que acontece com os eleitores jovens? Independentemente da raça, não importa onde. Isso acontece na América Latina, no mundo todo: os eleitores jovens tendem a participar menos das eleições.

Por estarem sobre-representados na população jovem, os eleitores latinos, não quero dizer que só por serem jovens, mas, bem, demograficamente são mais jovens e os jovens tendem a votar menos Rodrigo Dominguez-Villegas, diretor da plataforma Latino Data Hub

Historicamente, os latinos na Pensilvânia apoiaram o Partido Democrata. No final desta campanha presidencial, 57% dos eleitores latinos registrados dizem que votariam pela vice-presidente Kamala Harris e 39% pelo ex-presidente Donald Trump, segundo o Pew Research Center.

(Com informações da RFI e AFP)

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