Como é o processo de impeachment na Coreia do Sul? Presidente está em risco

O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, colocou seu futuro político em risco após decretar a lei marcial no país na terça-feira (3), e voltar atrás horas depois. Seis partidos da oposição apresentaram nesta quarta (4) uma moção para iniciar um processo de impeachment contra ele.

O que acontece agora?

A proposta foi anunciada na Assembleia Nacional e deve ser votada até o fim da semana. A Constituição sul-coreana prevê que o parlamento pode apresentar uma moção contra o presidente ou altos funcionários públicos se houver indício de que "violaram a Constituição ou qualquer lei no desempenho de suas funções oficiais".

A moção precisa de uma maioria de dois terços dos votos dos membros do parlamento para seguir adiante. Atualmente, o parlamento unicameral é controlado pelo principal partido de oposição, o Democrata. Ele e outras legendas menores têm 192 assentos, pouco menos que os 200 necessários para fazer o impeachment do presidente.

Alguns membros do Partido do Poder Popular de Yoon se opuseram fortemente à declaração de lei marcial. No entanto, ainda não ficou claro se ou quantos deles se juntarão aos deputados oposicionistas para aprovar a solicitação de destituição.

Na sequência, o Tribunal Constitucional realiza um julgamento para confirmar ou rejeitar o pedido de impeachment. A corte deve ouvir as evidências do parlamento, do próprio acusado e de seu advogado para determinar se de fato o chefe de Estado violou alguma lei.

O Tribunal tem até seis meses para confirmar o impeachment pelo voto de seis dos nove juízes, ou recusar. Atualmente, o Fórum tem seis juízes em exercício com três cargos a serem preenchidos. A exigência de sete juízes para deliberar casos foi dispensada, mas ainda não se sabe se a moção de impeachment seria aceita sem os nove juízes completos.

E se o presidente for derrubado?

Uma nova eleição deve ser realizada em até 60 dias. Em maio de 2017, eleição presidencial foi realizada após a decisão do Tribunal Constitucional de aceitar o impeachment da então presidente Park Geun-hye.

O mesmo acontece se Yoon renunciar antes. O primeiro-ministro, Han Duck-soo, assume o cargo temporariamente e uma nova eleição é realizando em até dois meses.

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Apenas uma presidente sofreu impeachment na história da Coreia

25.ago.2017 - A ex-presidente da Coreia do Sul Park Geun-hye
25.ago.2017 - A ex-presidente da Coreia do Sul Park Geun-hye Imagem: Kim Hong-Ji/Reuters

Park Geun-hye foi a primeira líder eleita democraticamente a ser destituída do cargo. Ela foi acusada de envolvimento com um confidente em um esquema de tráfico de influência e de abuso de sua autoridade presidencial.

O Parlamento votou pelo seu impeachment em dezembro de 2016, com alguns membros do partido da presidente votando a favor. Mais tarde, Park foi julgada separadamente por acusações criminais e sentenciada a 20 anos de prisão. Ela cumpriu quase cinco anos antes de ser liberada por motivos médicos, aos 69 anos, e foi perdoada em 2021.

Park é filha do ex-presidente e ditador Chung-hee, assassinado em 1979. A política se tornou a primeira mulher a liderar o país em 2013, apresentando-se ao eleitorado como incorruptível e independente.

Onde tudo começou

Presidente da Coreia do Sul decretou a lei marcial no país nesta terça-feira (3) e recuou horas depois. Yoon Suk Yeol justificou que a decisão era necessária para proteger o país de "forças comunistas" em meio a constantes disputas com o parlamento, controlado pela oposição. A medida surpreendente ocorreu no momento em que o Partido do Poder Popular de Yoon e o Partido Democrático, principal legenda de oposição, travam uma queda de braço em relação ao projeto de lei orçamentária do próximo ano.

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Duras proibições foram anunciadas. "Todas as atividades políticas, incluindo as da Assembleia Nacional, dos conselhos locais, dos partidos políticos e das associações políticas, bem como assembleias e manifestações, são estritamente proibidas", disse comunicado do governo sul-coreano.

Os meios de comunicação estavam sujeitos a controle. "Para proteger a Coreia do Sul liberal das ameaças impostas pelas forças comunistas da Coreia do Norte e para eliminar elementos antiestatais", disse o presidente. Anúncio foi feito em um discurso televisionado ao vivo para a nação. Yoon Suk Yeol não especificou quais ameaças seriam essas.

Parlamento foi fechado. Em resposta, o presidente da casa legislativa afirmou que faria uma sessão de urgência na noite de terça para debater o anúncio do presidente. O parlamento, com 190 de seus 300 membros presentes, aprovou uma moção exigindo que a lei marcial declarada pelo presidente Yoon Suk Yeol fosse suspensa, mostrou a TV ao vivo.

Parlamentares aprovaram a revogação da lei e documento foi enviado ao gabinete presidencial. Apesar disso, o episódio deixou o país em uma das piores crises políticas de sua história moderna e colocou o futuro de Yoon em suspense.

O que é a lei marcial?

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A medida é adotada em cenários de guerra. O presidente usou a justificativa de um esforço para proteger o país de ameaças impostas por "forças comunistas" e eliminar elementos "antiestatais" no território sul-coreano.

A medida altera as regras de funcionamento de um país, deixando de lado as leis civis e colocando em vigor leis militares. As principais consequências da lei marcial são a suspensão de parte ou de todas as liberdades fundamentais dos cidadãos que moram na área afetada.

Sob a lei marcial, ficam restritos o direito de se deslocar, se reunir, manifestar opinião e até mesmo o direito de não ser preso sem fundamentação jurídica. A Ucrânia, por exemplo, em 2022, proibiu que homens de 18 a 60 anos deixassem o país sob a justificativa da lei marcial adotada no país.

Frequentemente introduzida como medida temporária durante guerras, essa resolução também pode ser aplicada após catástrofes, como desastres naturais, e situações de caos. De forma geral, ao retirar as funções de autoridades como políticos e diplomatas, a lei marcial concentra o poder em membros de alta patente das Forças Armadas.

* Com informações da Reuters

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