Topo

Reputação desgastada de Bush representa fardo a ser minimizado por Romney na corrida à Casa Branca

O ex-presidente dos Estados Unidos, George W.Bush  - G.J. McCarthy/The Dallas Morning News/AP
O ex-presidente dos Estados Unidos, George W.Bush Imagem: G.J. McCarthy/The Dallas Morning News/AP

John Harwood

23/10/2012 06h00

Ele não fala em palanques e nem aparece em propagandas de televisão. O público da campanha raramente ouve seu nome.

Mas além do presidente Barack Obame e de Mitt Romney, ninguém moldou a eleição de 2012 mais do que George W. Bush –na economia e nas questões de política externa .
 
Para Romney, a reputação desgastada de Bush, o último presidente republicano, representa um fardo a ser minimizado na disputa acirrada pela Casa Branca. Os dois não apareceram juntos neste ano.

Quando um membro da plateia perguntou sobre Bush no debate na semana passada, Romney se distanciou do que caracterizou como as falhas de Bush no déficit orçamentário e no comércio com a China.
 
Para Obama, o retrospecto econômico de Bush representa um escudo contra a ira dos eleitores com o desemprego elevado e com o baixo crescimento; a maioria nas pesquisas descreve os problemas econômicos do país como algo que o presidente herdou e não causou. Mas como seu adversário republicano, Obama raramente cita o nome de seu antecessor.   

 Obama também se beneficia do cansaço dos americanos com as longas guerras no Iraque e no Afeganistão, que foram iniciadas por Bush. Ao encerrá-las –e ao ter sucesso onde Bush fracassou, na caçada a Osama Bin Laden– Obama obteve ultimamente melhor avaliação dos eleitores em política externa do que no seu desempenho geral no cargo. 

É uma situação incômoda para os seguidores leais de Bush ativos na campanha republicana deste ano.
 
“Eu não tenho interesse em participar desse exercício tolo”, disse Karl Rove, um ex-estrategista de Bush que atualmente lidera os esforços do super-PAC (comitê de ação política) republicano para ajudar Romney, ao se recusar a ser entrevistado sobre a influência de Bush nesta eleição. Ele deixou que os democratas avaliassem o impacto de seu ex-chefe e eles se mostraram mais dispostos em fazê-lo.
 
“Não há dúvida de que George Bush manchou nacionalmente a marca republicana tanto na segurança nacional quanto na economia”, disse Mark Mellman, um especialista em pesquisas de opinião para muitos candidatos democratas, incluindo John Kerry, o adversário de Bush em 2004. “Os republicanos convivem com esse problema.”     

Saiba mais

  • Arte UOL

    Entenda o processo eleitoral dos Estados Unidos

Menos de quatro anos depois que Bush deixou a Casa Branca, o problema é ao mesmo tempo presente e pouco notado –como o ex-presidente tem se mantido desde que deixou a Casa Branca. Como ele colocou em uma rara entrevista há alguns meses, “Eu me arrastei para fora do pântano” de Washington.
 
“Ele raramente é mencionado nos grupos de foco”, disse um alto assessor de campanha de Bush que pediu para que seu nome não fosse citado. Quando os eleitores pensam atualmente na identidade do Partido Republicano, eles têm maior tendência de apontar para o movimento Tea Party (movimento que faz referência à Festa do Chá de Boston, um protesto antitaxação no século 18).
 
Mas por causa de Bush, acrescentou o assessor, os eleitores dão a Obama “muito desconto” ao atribuírem a responsabilidade pela economia ruim.
 
Os estrategistas democratas pensam o mesmo.  “Eu não vejo como Obama poderia ter sobrevivido nessas condições econômicas sem essa história”, disse Stan Greenberg, um especialista em pesquisas de opinião democrata e ex-conselheiro de Bill Clinton.
 
Obama se refere às políticas de Romney como sendo iguais às de Bush, mas ainda mais à direita, em impostos, regulação e predileção por confrontos militares com outros países. Ele geralmente não menciona Bush nominalmente, para evitar parecer estar tentando culpar seu antecessor.   

“A questão não é voltar a discutir os anos Bush”, disse David Axelrod, o estrategista político do presidente. “É argumentar que não devemos repeti-los.”
 
Romney tem uma tarefa difícil ao tentar mobilizar os republicanos conservadores que apoiaram Bush e ao mesmo tempo argumentar que suas políticas são diferentes. Com os democratas acusando que seu plano econômico é semelhante aos cortes de impostos de Bush de 2001 e 2003, mas “anabolizados”, Romney diz que sua proposta de impostos “difere do que foi tentado antes”, por casar a redução das alíquotas com a eliminação de algumas deduções.
 
“O presidente Bush e eu somos pessoas diferentes e estes são tempos diferentes”, disse Romney no debate na semana passada. No comércio, ele disse: “Eu vou reprimir a China. O presidente Bush não fez isso”. Quanto ao déficit, ele disse: “Eu vou nos colocar em um orçamento equilibrado. O presidente Bush não fez isso”.
 
Neil Newhouse, o especialista em pesquisas de opinião de Romney, disse: “Nós estamos fazendo uma campanha pelo futuro”.
 
Distanciar-se dos aspectos impopulares da postura intervencionista em segurança nacional de Bush pode provar ser complicado para Romney, que carece de experiência em política externa. Aconselhado por alguns veteranos do governo Bush, Romney usa linguagem forte ao descrever Obama como fraco em projetar a liderança dos Estados Unidos.
 
Mas ele apoia o plano de Obama de encerrar a guerra no Afeganistão, removendo as tropas em 2014.
 
Ao discutir o Afeganistão em seu debate com o vice-presidente Joe Biden, o companheiro de chapa de Romney, o deputado Paul Ryan, prometeu assegurar que “não projetaremos fraqueza no exterior”. Ao mesmo tempo, Ryan enfatizou que “nós concordamos com o governo em sua transição de 2014”.
 
Por ora, ao menos, a posição reflete o legado do governo Bush na opinião americana.
 
“Quem for eleito terá que conviver com a realidade do que poderíamos chamar de fadiga de intervenção”, disse Richard N. Haass, um assessor do Departamento de Estado no governo Bush, que atualmente serve como presidente do Conselho de Relações Exteriores. “Há um senso real de que nossas intervenções militares não produziram resultados à altura dos custos humanos e econômicos”.
 
Os ex-assessores de Bush se irritam com as críticas tanto de republicanos quanto de democratas ao ex-presidente. Tony Fratto, um porta-voz da Casa Branca de Bush e do Departamento do Tesouro, refutou ambas as farpas de Romney no debate da semana passada.
 
“Há bons motivos para não termos equilibrado o orçamento”, como a guerra contra o terrorismo, disse Fratto. Quanto ao comércio, “nós fomos bastante eficazes com os chineses”, ao abrirmos o caminho para a valorização da moeda deles, para benefício das empresas americanas.
 
Mas assim como seu antigo chefe, que ofereceu apenas um breve apoio a Romney, ele prefere não dizer muito.
 
“Eu vou seguir o exemplo do presidente Bush”, disse Fratto, que agora é sócio na empresa de consultoria Hamilton Place Strategies. “Ele não está interessado em tornar mais difícil para que o candidato republicano seja eleito.”
 
“Nós trabalharemos com os historiadores e deixaremos que os candidatos sejam candidatos.”