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Manuais plagiados e táticas enganosas: um resumo do Instituto Trump

Divulgação via The New York Times
Imagem: Divulgação via The New York Times

Jonathan Martin

30/06/2016 06h00

Em 2005, enquanto fazia a transição de empreendimentos imobiliários para capitalizar sua fama por meio de um reality show e licenciamento de produtos, Donald Trump adotou uma estratégia dupla para entrar no campo de ensino particular. 

Ele investiu dinheiro do próprio bolso na Universidade Trump, que começou como um negócio de ensino a distância, orientando seus clientes como ganhar dinheiro em imóveis, mas deixando um longo rastro de clientes alegando terem sido fraudados. Os processos impetrados por eles lançaram uma sombra sobre a campanha presidencial de Trump. 

Mas Trump também emprestou seu nome, e sua credibilidade, a um negócio de seminários do qual não era dono, que foi chamado de Instituto Trump. Seus operadores alugavam salões de baile em hotéis por todo o país e convidavam as pessoas a pagarem até US$ 2.000 (cerca de R$ 6.500) para ouvir "os segredos e estratégias para criação de riqueza" de Trump. 

E seus clientes também têm ampla razão para perguntar se também foram enganados. 

Assim como a Universidade Trump, o Instituto Trump prometia de forma falsa que seus professores seriam escolhidos a dedo por Trump. Como mostram entrevistas, Trump fez pouco, fora aparecer em um infomercial, um que prometia aos clientes acesso ao seu vasto conhecimento acumulado. 

"Eu apresento todos meus conceitos que funcionaram tão bem para mim, novos e velhos, em nossos seminários", ele disse no vídeo de 2005, acrescentando: "Eu ensino o que aprendi". 

Mas a realidade ficou bem aquém. Na verdade, o instituto era dirigido por um casal que teve problemas com os reguladores em dezenas de Estados e era acusado de práticas enganosas de negócios e fraude por décadas. Queixas semelhantes logo surgiram contra o Instituto Trump. 

Mas havia um logro ainda mais fundamental no negócio, não divulgado até agora: grande parte do material que os estudantes recebiam após pagarem pelo seminário, supostamente contendo a sabedoria especial de Trump, foi plagiado de um manual de imóveis obscuro publicado uma década antes. 

Somados, as alegações exageradas sobre o papel dele, o passado questionável das pessoas com quem montou o negócio e o roubo de propriedade intelectual no centro do empreendimento ilustram a ficção por trás de muitos dos negócios de licenciamento de Trump: colocar seu nome nos produtos e serviços (e receber as taxas) com frequência era onde seu envolvimento com frequência começa e termina. 

"Aquele Instituto Trump, que criminosos eles eram", disse Carol Minto, de West Haven, Connecticut, uma repórter aposentada de tribunal que frequentou um seminário em 2009 e concordou em pagar US$ 1.997,94 para participar de outro, antes de começar a ter dúvidas. Ela acabou pedindo a ajuda de procuradores-gerais de dois Estados para ser reembolsada. "Eles queriam roubar meu dinheiro", ela disse. 

O instituto é outro exemplo da marca Trump ser acusada de atrair clientes vulneráveis com falsas promessas de lucro e sucesso. Outras, fora a Universidade Trump, incluem empreendimentos de marketing que vendiam vitaminas e serviços de telecomunicações, e uma editora que cobrava dos autores para publicar, que enfrentou centenas de queixas de consumidores. 

O infomercial de Trump sugeria que ele estava supervisionando pessoalmente o Instituto Trump. 

"As pessoas estão adorando", ele disse sobre o programa, intitulado "A Forma de Enriquecer de Donald Trump" e encenado como um talk show em frente a uma plateia animada. "As pessoas estão realmente se saindo bem e estão adorando." Seu nome, imagem e aforismos, como "Sou o Sonho Americano, versão extra grande" estavam presentes em todos os materiais do curso. 

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Apesar de ser dono de 93% da Universidade Trump, o Instituto Trump era de propriedade e operado por Irene e Mike Milin, um casal que vendia cursos para enriquecer rapidamente desde os anos 80. 

Os Milin eram conhecidos por comprar anúncios de página inteira que diziam "Dinheiro de Graça!" e ofereciam tutoriais sobre como obter verbas e empréstimos do governo. Eles também eram notórios por serem alvos frequentes dos reguladores estaduais. 

Em 1993, o procurador-geral do Texas acusou a empresa deles, na época chamada de Information Seminars International, de tomar o dinheiro dos clientes e fugir. Pessoas que compraram o pacote "Método Milin" de US$ 499 recebiam a promessa de financiamento para revenda de imóveis comprados em leilões do governo, disseram as autoridades, mas quando os clientes procuravam a empresa, os Milin tinham desaparecido. 

Em 2001, operando como Conferência Nacional de Concessões, os Milin fecharam um acordo com as autoridades da Flórida após serem acusados de violar a Lei de Práticas Comerciais Injustas e Enganosas do Estado. E em 2006, o procurador-geral de Vermont processou os Milin por fraude ao consumidor, no final os multando em US$ 65 mil e permitindo aos clientes pedirem mais de US$ 325 mil em reembolso. 

Os problemas regulatórios prosseguiram depois dos Milin rebatizarem seu negócio de seminários com o nome do empreendedor imobiliário mais conhecido do país: em 2007, 33 procuradores-gerais estaduais assinaram uma carta à Comissão Federal de Comércio acusando os Milin de práticas comerciais enganosas. Um ano depois, a empresa deles pediu recuperação judicial, devendo US$ 2,1 milhões aos credores. O empreendimento prosseguiu por mais alguns poucos anos. 

Alan Garten, o advogado de Trump, disse que os executivos não tinham conhecimento da história dos Milin quando o relacionamento de negócios entre eles teve início, mas que não conseguia se lembrar quando foi que descobriram os problemas do casal com os reguladores. 

Operando como Instituto Trump, os Milin empregaram táticas familiares e atraíram queixas familiares, no final recebendo uma nota F do Better Business Bureau (Birô de Melhores Negócios, empresa de pesquisa que avalia as práticas das empresas). 

Sem que os clientes soubessem na época, até mesmo os materiais impressos distribuídos no seminário eram baseados em uma mentira. O Instituto Trump indicava o "copyright" de sua publicação, com cada página marcada com "Billionaire's Road Map to Success" (Mapa do Bilionário para o Sucesso, em tradução livre) e distribuía os materiais para os participantes dos seminários. 

Mas grande parte do conteúdo do manual era copiado, sem atribuição da autoria, de um guia obscuro publicado pela revista "Success" em 1995, chamado "Real Estate Mastery System" (Sistema para Domínio do Setor de Imóveis, em tradução livre).  

Pelo menos 20 páginas do livro do Instituto Trump foram copiadas na íntegra ou em parte de "Real Estate Mastery System". Até mesmo seus cenários hipotéticos ("Vendedor A está pedindo US$ 80 mil por um imóvel financiado") foram repetidos na íntegra. 

Ao ser perguntada sobre o plágio, que foi descoberto pelo super Comitê de Ação Política democrata American Bridge, a editora da publicação do Instituto Trump, Susan G. Parker, negou responsabilidade e sugeriu que um advogado dos Milin, que forneceu a ela o material para o livro, poderia ser o culpado. 

O advogado, Peter Hoppenfeld, que não mais representa os Milin, disse que a culpa provavelmente é de Parker, mas reconheceu que passou para ela informação do escritório dos Milin. Contatada em sua casa em Boca Raton, Flórida, Irene Milin disse ao repórter, "Estou muito ocupada", e desligou. Ela não atendeu as chamadas posteriores e nem respondeu às mensagens de voz. 

Garten disse que Trump "obviamente" não estava ciente do plágio. Mas mesmo ao minimizar a ligação de Trump com o Instituto Trump, o chamando de "acordo de licenciamento de curto prazo", Garten expressou orgulho pelo empreendimento. 

"Eu apoio o currículo lecionado tanto na Universidade Trump quanto no Instituto Trump", ele disse. 

Parker, uma advogada e escritora jurídica em Briarcliff Manor, Nova York, disse que longe de ter sido escolhida a dedo por Trump, ela foi contratada para escrever o livro após responder a um anúncio no site de classificados Craigslist. Ele disse que nunca falou com Trump, muito menos recebeu orientação dele sobre o que escrever. Ela disse que fez uso de seu próprio conhecimento do mercado de imóveis e de uma leitura rápida dos livros de Trump. 

Parker disse que foi até um dos seminários do Instituto Trump e ficou atônita: os palestrantes mais pareciam vendedores de carros usados, ela disse, e seus conselhos se resumiam a banalidades. 

"Era como se eu estivesse na América desprezível", ela disse. "Era tudo enganação."

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