Relato de palhaços que tentam atrair crianças para floresta causa pânico nos EUA
Na borda de escuras florestas na Carolina do Sul, crianças disseram aos adultos que um grupo de palhaços vem tentando atraí-las para o meio das árvores. Segundo elas, os palhaços vivem no fundo da floresta, perto de uma casa à margem de um lago.
Essa história parece uma mistura de notícias de jornal com páginas dos livros de Stephen King, mas na verdade são detalhes tirados de um relatório apresentado na semana passada ao delegado do condado de Greenville, na Carolina do Sul (sudeste dos EUA), depois que vários moradores de um conjunto de apartamentos disseram que pessoas fantasiadas de palhaços têm aterrorizado crianças e adultos.
Diversas crianças disseram que os palhaços lhes ofereceram dinheiro para acompanhá-los até a floresta, perto da casa na beira do lago. (A polícia disse que não encontrou na casa evidências de objetos relacionados a palhaços.)
Uma mulher que voltava a pé para casa tarde da noite disse que viu uma "grande figura" de palhaço acenando para ela embaixo de um poste de iluminação, segundo a polícia. (Ela acenou de volta.) E outra mulher disse que seu filho ouviu barulho de correntes e batidas na porta de sua casa. Nesses casos, as pessoas que relataram ter avistado palhaços se recusaram a dar seus nomes à polícia.
A polícia não sabe se as histórias estão vindo da imaginação das crianças ou se algo sinistro está acontecendo, mas os moradores em pânico pareciam dispostos a fazer justiça com as próprias mãos: a delegacia de Greenville investigou relatos de que moradores dos apartamentos teriam disparado tiros na direção da área florestal.
O vice-delegado Ryan Flood disse na terça-feira (30) que as autoridades não confirmaram nenhum desses avistamentos, mas que policiais estavam patrulhando o conjunto de apartamentos. Os síndicos também distribuíram panfletos advertindo as crianças para que não andem sozinhas pela floresta à noite.
E as ligações para a polícia continuam: na segunda-feira, uma criança de outro condomínio telefonou para relatar outro avistamento de palhaço.
Como os palhaços --supostamente agentes de humor e diversão-- causam esse caos? Em todos os EUA, visões de palhaços surgem sem explicação, e nosso medo coletivo de palhaços malignos tem o dom de elevar um problema local a um assunto para a imprensa nacional.
Em 2014 houve vários avistamentos relatados, de Albuquerque, no Novo México, a Fishers, em Indiana. No ano passado, um palhaço foi visto vagando por um cemitério de Chicago. E algumas semanas atrás os moradores de Green Bay, em Wisconsin, relataram que um palhaço foi visto pela cidade segurando um monte de balões pretos. (Em algum lugar deve haver muitas histórias sobre palhaços bons, também, mas um e-mail pedindo comentários da Palhaços da América Internacional, um grupo setorial, não foi respondido na terça-feira.)
Alguns moradores adotaram o hobby de localizar o palhaço de Green Bay, que apelidaram de Gags. Mas outros pegaram suas armas de fogo, segundo C.J. Guzan, um ator local que disse que o projeto Gags era apenas um recurso de marketing para um filme.
"Está ficando meio assustador, porque as pessoas começam a acreditar nisso um pouco mais, e começamos a ver algumas dessas fotos perturbadoras no Facebook", disse Guzan à afiliada local da rede ABC. "Não do palhaço, mas das pessoas armadas preparando-se para se defender, dizendo 'Não posso sair de casa por medo dos palhaços' ou coisa parecida. Isso é ir longe demais."
Os brincalhões, marqueteiros e criminosos podem estar aproveitando o medo cultural de palhaços, com exemplos incluindo "A Coisa" de Stephen King e John Wayne Gacy, um assassino serial que se vestia de palhaço. Mas Steven Schlozman, um psiquiatra infantil que dá um curso sobre a psicologia dos filmes de terror na Universidade Harvard, sugere que pode haver algo mais primal em ação.
Os seres humanos reconhecem padrões desde tenra idade, e as feições humanas exageradas de um palhaço acionam uma advertência primal em nossos "cérebros de crocodilo", disse Schlozman em uma entrevista na terça-feira.
"Ele tem essa capacidade de pegá-lo emocionalmente antes que o pegue cognitivamente", disse ele. "É a chave para tornar algo viral online, na verdade: envolver emocionalmente as pessoas antes que elas se envolvam intelectualmente."
Em seus anos de pesquisa sobre as coisas que nos assustam, Schlozman também descobriu outra verdade: o terror raramente é sobre a coisa que é assustadora. Ele se desenvolve quando pessoas aterrorizadas reagem.
Quando os moradores pegam suas armas e disparam em direção à floresta, não é diferente de pessoas que vão à floresta com seus forcados atrás do monstro de Frankenstein, disse ele, acrescentando: "Isso nunca acaba bem".
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