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Ativista brasileira do Greenpeace é indiciada na Rússia por pirataria

De Moscou

02/10/2013 06h50Atualizada em 02/10/2013 11h12

A justiça russa indiciou nesta quarta-feira (2) por "pirataria" cinco ativistas do Greenpeace, incluindo a bióloga brasileira Ana Paula Maciel, detidos na semana passada ao lado de outros 25 integrantes da organização após uma ação contra uma plataforma de petróleo no Ártico.

A bióloga brasileira Ana Paula Alminhana Maciel, o cinegrafista britânico Kieron Bryan, o sueco-americano de origem russa Dmitri Litvinov, a finlandesa Sini Saarela e o russo Roman Dolgov foram indiciados por "pirataria em grupo organizado", informou o Greenpeace.

Na Rússia, o crime de pirataria pode ser punido com uma pena de entre 10 e 15 anos de prisão e render multas de até 500 mil rublos (cerca de R$ 33 mil). Dos 30 detidos, quatro são russos e 26 estrangeiros, incluindo a bióloga gaúcha de 31 anos.

"Os indiciamentos por pirataria não têm fundamento e não são apoiados por nenhuma prova", declarou Irina Isakova, advogada do Greenpeace.

Isakova afirmou que a ONG pretende apresentar uma demanda contra as "ações ilegais dos investigadores e dos órgãos judiciais". Também apontou várias irregularidades no caso, especialmente no momento da detenção dos ativistas.

Kumi Naidoo, diretor executivo do Greenpeace International, denunciou uma decisão "irracional, que pretende intimidar e silenciar" a organização.

Ele disse ainda que esta é a ameaça mais grave contra a atividade pacífica da associação desde o caso Rainbow Warrior, afundado em 1985 no porto de Auckland, na Nova Zelândia, pelos serviços secretos franceses quando protestava contra os testes nucleares na Polinésia.

"Três décadas depois, os militantes do Arctic Sunrise protestaram contra a indústria petroleira e se arriscam a uma longa pena em uma prisão russa", completou, antes de pedir à opinião pública mundial que exija a libertação dos ativistas.

Entre os detidos está o capitão do Arctic Sunrise, o norte-americano Peter Willcox, que comandava o Rainbow Warrior em 1985.

Brasileira do Greenpeace é indiciada na Rússia por pirataria

Entenda o caso

Os 30 ativistas estão detidos em Murmansk e proximidades do noroeste da Rússia desde 19 de setembro, quando um comando da guarda costeira russa abordou o barco Arctic Sunrise, no qual navegava pelo mar de Barents, região do Ártico russo.

Vários ativistas tentaram escalar uma plataforma petroleira da empresa russa Gazprom para denunciar o risco ecológico da atividade petroleira.

O Comitê de Investigação russo, responsável pelas investigações criminais, iniciou processos por pirataria. Os militantes negaram as acusações e atribuíram à Rússia uma ação ilegal no barco em águas internacionais.

O presidente russo, Vladimir Putin, reconheceu na semana passada que os militantes não são piratas, mas violaram "as normas da lei internacional".

Após as declarações, o comitê de investigação informou que as acusações poderiam ser reduzidas durante investigação.

O governo brasileiro anunciou na terça-feira (1º) que instruiu o embaixador do país em Moscou, Fernando Mello Barreto, a assinar uma carta de garantia que "deverá contribuir para o encaminhamento positivo do caso".

O ministério das Relações Exteriores informou à AFP que a carta de garantia assegura que Ana Paula Maciel comparecerá a todas as audiências da investigação.

Ainda na terça-feira (1º), diretora de uma comissão de vigilância penitenciária, Irina Paikacheva, explicou à AFP que os militantes estão quase em "estado de choque" e não compreendem a acusação.

"Não podiam imaginar estas consequências depois de uma ação pacífica em um país democrático", explicou Paikatcheva.

De acordo com Alexander Morozov, chefe de redação do site Rousski Journal, "a severidade das acusações está relacionada com o fato do Kremlin estar convencido que, por trás das ações do Greenpeace, se desenvolve um complô mundial", declarou.

"As autoridades russas acreditam que não se trata de associações civis, e sim de artimanhas da CIA, que é um 'comando'."