As fêmeas dominam o reino animal - e algumas delas têm até pseudopênis
Colaboração para o UOL, em São Paulo
26/06/2024 04h00
Muitas vezes dominados pelo macho alfa, o grupo dos seres vivos tem mais comando de fêmeas. Além de maior, em muitas espécies, ela passa sua liderança para suas filhas, como as abelhas e as hienas malhadas. A exceção, geralmente, acontece com os mamíferos, em que os machos são, normalmente, maiores.
No caso de insetos, sapos, cobras, peixes, as fêmeas são sempre maiores. Muitos desses animais crescem a vida inteira, e quanto maior é a fêmea, mais ovos ela coloca e gera mais filhotes. Ao longo do tempo, as fêmeas maiores foram selecionadas e há algumas que podem ter de dez a cem vezes o peso do macho.
Relacionadas
Sabe o Nemo, do filme? Então, no caso do peixe-palhaço, a fêmea é de duas a três vezes maior que o macho.
E, curiosamente, em algumas espécies as fêmeas chegam a ter órgãos reprodutivos que se assemelham a um pênis.
Psocoptera
Os insetos da espécie psocoptera são pequenos e alguns deles vivem até mesmo dentro de nossas casas ou no tronco das árvores. Alguns deles vivem em cavernas e, em 2016, o pesquisador brasileiro Rodrigo Ferreira, da Universidade Federal de Lavras, e cientistas japoneses descobriram que a fêmea tem um dos pseudopênis mais eficientes já vistos.
Os autores do estudo inclusive propõem mudar o próprio conceito de pênis e defendem que deveria ser expandido para as fêmeas que o possuem.
São quatro espécies (Neotrogla curvata, N. aurora, N. truncata e N. brasiliensis) e todas desenvolveram órgãos com formato semelhante para que as fêmeas segurassem o macho em uma posição quando o pênis incha.
O macho continua sendo quem passa o esperma, mas ele tem um orifício genital. Além de passar o esperma, ele oferece uma série de nutrientes importantes. É chamado de presente nupcial, uma comida que o macho transfere para a fêmea durante a cópula.
Esse conjunto de estruturas especializadas faz com que a transferência seja mais eficiente e que a fêmea consiga ter controle sobre a transferência, pois a fêmea segura o macho.
Eles vivem em cavernas secas, com pouco alimento disponível além de carcaças de morcegos. A teoria é que a falta de nutrientes tornou o macho mais seletivo e a fêmea precisou se adaptar ao longo de milhares de anos.
Hienas malhadas
Se a dominância de tamanho nem sempre acontece entre os mamíferos, há também entre nós sociedades matriarcais, como é o caso das hienas. Além de ser maior e mais agressiva do que os machos, as fêmeas da hiena malhada possuem um pseudopênis.
Nos grupos de hienas, existe uma fêmea alfa, líder do clã e passa seu reinado para a cria fêmea. Além disso, a fêmea tem em média de 44 kg a 64 kg, podendo chegar a 90 kg. O macho é, em média, 12% menor em termos de massa que a fêmea, com 40 kg a 55 kg.
O pseudopênis é um clitóris aumentado que os biólogos ainda não sabem por que existe. O órgão chega a quase 18 cm e chega a ficar ereto. Só que a pseudo-ereção da hiena não serve para a cópula, mas sim para mostrar dominância perante fêmeas e machos do grupo.
Para procriar, a hiena fêmea precisa recolher seu pseudopênis para que o macho consiga realizar a penetração.
É pelo pseudopênis que essas hienas urinam e também dão à luz. Como o canal é muito estreito, as primeiras crias geralmente morrem sufocadas ao nascer. A taxa é de mortalidade é de 10% no primeiro parto.
Outros mamíferos cujas fêmeas têm pseudopênis são a do urso-gato-asiático e dos lemures-de-cauda-anelada, mas as pesquisas sobre esse assunto e sobre os motivos dessas características ainda são escassas.
A hipótese, no caso das hienas, é que para conseguirem ser mais fortes que os machos e ser a fêmea alfa do grupo, as mães passam uma grande carga de testosterona para as filhotes fêmeas durante a gestação.
Esse hormônio promove aumento de tamanho, de massa muscular e agressividade, características associadas aos machos. Aumentos de testosterona no útero causam alterações genitais no filhote.
A filhote da hiena tem muitas vantagens em nascer forte, grande. A líder do bando tem uma série de vantagens: acesso à comida primeiro e sempre tem o direito de se reproduzir. As fêmeas mais abaixo no ranking às vezes sequer consegue se reproduzir e a função delas é ficar ajudando a fêmea dominante.
Outra curiosidade sobre as hienas é que elas são muito boas de caça, não são apenas "carniceiras", se aproveitando do resto da comida dos leões. Depois do advento de filmagens dos animais à noite, descobriu-se que elas são muito mais ativas no período noturno, caçando, cercando presas de forma sofisticada.
Fonte: Glauco Machado, biólogo.
*Com informações de matéria publicada em abril de 2017