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Raridade: fotógrafo flagra medusa 'comedora de águas-vivas' de 10 m em SP

Do UOL, em São Paulo

05/12/2024 05h30

Uma água-viva da espécie Drymonema gorgos, a maior medusa presente na costa brasileira, foi flagrada pelo fotógrafo Rafael Mesquita, 39, na Ilha do Montão de Trigo, divisa entre as cidades de São Sebastião (SP) e Bertioga (SP).

Eu vi uma mancha na água e achei que fosse uma tartaruga, a princípio. Mas depois eu vi que se tratava de uma água-viva gigante e quis mergulhar para registrar.
Rafael Mesquita, fotógrafo

Como foi encontrada

Rafael costuma sair de barco quase todos os dias para fazer registros de dentro e fora do mar nas cidades do litoral paulista de São Sebastião, Bertioga e Ilhabela. Dentre seus registros, é possível encontrar bichos como jubartes, raias, tubarões, golfinhos e até aves costeiras, como os abrolhos.

A "sorte" do fotógrafo ao encontrar a água-viva gigante pode ter a ver com a temperatura do mar. "Nos dias anteriores a água estava bem clara e quente, em torno de 24ºC", conta. Mas no dia do registro da Drymonema gorgos, Rafael registrou 15,5º C.

Para Alberto Lindner, professor de oceanografia, ciências biológicas e engenharia de aquicultura na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), a temperatura da água é a explicação mais plausível por essa espécie de água-viva estar menos submersa, já que elas vivem em lugares mais profundos do oceano.

Lindner explica que, quando vista na superfície, é possível que esteja acontecendo um fenômeno chamado ressurgência, que consiste na subida de águas profundas e frias para a superfície do oceano.

Rafael viu não apenas uma, mas três águas-vivas naquele dia. "Não era a maior e nem a menor, essa era a mais 'bonita' para fazer a imagem", conta.

A estimativa é de que o animal tinha pelo menos 60 cm de diâmetro e tentáculos ultrapassando os 10 metros de comprimento - o que é comum para esse tipo de espécie, que chega pode chegar a até um metro de diâmetro.

O que se sabe sobre a espécie?

Os primeiros registros da espécie no Brasil se dão em 1857, quando o naturalista Fritz Müller descreveu a espécie. Até 1861 foram encontradas por ele três medusas da espécie Drymonema gorgos na Ilha de Santa Catarina, em Florianópolis.

Até hoje foram registradas apenas 63 aparições desse animal no país desde sua descoberta por Müller. É o que aponta um estudo publicado em 2023 e liderado pela oceanógrafa Lorena Nascimento, pós-doutoranda em Zoologia pela UFPB (Universidade Federal da Paraíba).

O nome grego faz referência às górgonas, da mitologia grega, mais famosas pelo apelido "medusa", que são monstros femininos com serpentes no lugar dos cabelos e o poder de transformar em pedra quem as olha.

"Ela é uma água-viva que come outras espécies de água-viva", diz Lindner, também participante do estudo sobre a espécie. Ele conta também que, além de ser predadora, é fonte de alimento para a tartaruga-verde - conhecida também como aruanã.

Perigo para o ser humano

Embora seja uma água-viva gigante e com tentáculos que chegam a ser até sete vezes maiores do que um homem de altura média brasileira, os perigos da Drymonema gorgos são muito pequenos.

"Ela não é das mais perigosas, mas também não é das mais tranquilas", conta Lindner, que também explica que o envenenamento - chamado popularmente de queimadura - pode existir, mas em menor escala do que a caravela-portuguesa, por exemplo.

Perguntado se sofreu queimaduras dos tentáculos da água-viva, Rafael que já está acostumado a levar queimaduras por ser surfista, diz não ter sentido nenhuma reação ao tocar no animal.

Embora o animal não pareça tão perigoso, o biólogo alerta para o cuidado que se deve ter ao avistar um animal como este: "a recomendação é não se aproximar do animal, mantendo distância". Para ele, embora a água-viva não ataque, as consequências de encostar em seus tentáculos podem ser de médias a graves.

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