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Na África do Sul, seguradora oferece desconto a cliente com hábitos saudáveis

Tara Siegel Bernard

10/04/2015 00h02

A empresa de seguro de vida de Andrew Thomas sabe exatamente quando ele chega na academia do bairro. A empresa é notificada quando ele passa o cartão de sócio, e 30 minutos depois, ela checa se ele ainda está lá, rastreando sua localização através do smartphone.

A companhia de seguros tem um interesse em manter Thomas vivo e bem. Em troca por ele compartilhar seus hábitos de exercícios, nível de colesterol e outras informações médicas, Thomas, um editor de revista médica de 51 anos que vive em Johannesburgo, ganha pontos que se traduzem em descontos e outras regalias. Ao se manter em boa forma, é menos provável que sua seguradora, a Discovery, tenha de pagar as apólices de vida e invalidez dele.

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"Todo sábado de manhã, só por jogar golfe, eu ganho pontos", disse Thomas, que disse ter recebido cerca de 9% de desconto no pagamento do seguro de vida em cada um dos últimos cinco anos. "Ela está tentando fazer com que as pessoas tenham um estilo de vida saudável."

Agora a John Hancock se tornará a primeira companhia de seguro de vida a lançar um programa semelhante para os consumidores norte-americanos. O programa, anunciado na quarta-feira, valerá tanto para as apólices por prazo determinado quanto para as vitalícias e está sendo administrado por meio de uma parceria com a Vitality, uma empresa global de bem-estar que já trabalha com os empregadores e seguradoras de saúde nos Estados Unidos.

O conceito – que tem sido usado na África do Sul, sede da Vitality, Europa, Cingapura e Austrália – tem potencial para transformar a forma como o preço do seguro de vida é calculado, pelo menos para os consumidores dispostos a compartilhar continuamente seus dados de saúde. Mas também levanta questões sobre como essas informações serão protegidas – e se elas poderiam ser usadas de formas que acabem indo contra os interesses do consumidor.

As pessoas que se inscreverem receberão um monitor Fitbit de graça, que pode ser programado para enviar automaticamente os níveis de atividade física para a seguradora. Os clientes mais ativos podem ganhar um desconto de até 15% no valor pago, além de cartões de presente da Amazon, estadias pela metade do preço em hotéis Hyatt e outras regalias.

A John Hancock, uma divisão da seguradora canadense Manulife Financial, espera que o programa ajude a revigorar as vendas de seguros de vida, que estagnaram por todo o setor há décadas. Apenas 44% das famílias norte-americanas possuem apólices individuais, de acordo com a associação comercial Limra, o número mais baixo em 50 anos. É difícil gerar entusiasmo em relação a qualquer produto que lembre os consumidores de sua mortalidade, mas analistas do setor disseram que as dificuldades financeiras dos lares norte-americanos, mudanças demográficas e produtos cada vez mais complexos e caros levaram à queda nas vendas.

"O setor tem tido um crescimento lento ou nulo há muito tempo", disse Michael Doughty, presidente da John Hancock Insurance, com sede em Boston. "Ele está clamando por inovação e por alguém que tente reinventar o produto para torná-lo mais relevante.”

O novo programa também derruba a abordagem tradicional de avaliação de risco dos seguros de vida, ou underwriting, que normalmente baseia o preço em um retrato detalhado da situação médica de uma pessoa. Agora, o preço das apólices com prazo determinado e vitalícias da John Hancock será avaliado continuamente, pelo menos para os consumidores que escolherem o programa Vitality.

A John Hancock e a Vitality, que são de propriedade da Discovery, dizem que as informações não serão vendidas e serão compartilhadas somente com entidades que ajudam na administração do programa, embora os dados compilados possam ser usados para desenvolver novos produtos de seguros.

Mesmo assim, alguns especialistas expressaram preocupações com a privacidade. "De repente, tudo que você faz e tudo que você come, dependendo do que tipo de informação eles coletam, irá para o banco de dados de alguém", diz Anna Slomovic, pesquisadora chefe do Instituto de Política e Pesquisa de Segurança Cibernética da Universidade George Washington e um ex-diretora de privacidade da Equifax e Revolution Health.

É claro, comprar qualquer apólice de seguro de vida exige que os clientes compartilhem seus históricos médicos detalhados antecipadamente. Mas os consumidores que participam do programa Vitality devem estar à vontade para fornecer informações suficientes o tempo todo para atingir determinados marcos que se transformarão em descontos que valem a pena. Isso pode incluir a frequência de exercícios físicos, relatar um exame físico ou responder a perguntas pessoais delicadas: durante os últimos 30 dias, quantas vezes você ficou tão nervoso que nada conseguia acalmá-lo? Sem esperança? Deprimido?

"Você não precisa enviar nenhum dado com o qual não se sinta à vontade", disse Valente. "A troca é que você não vai ganhar pontos por isso."

Os participantes precisam acumular 3.500 pontos para atingir o nível prata, 7.000 para o nível ouro e 10 mil para o nível platina. Os não-fumantes ganham automaticamente 1.000 pontos, e as pessoas com colesterol, glicose e pressão arterial dentro dos limites recebem 1.000 pontos para cada. Exercícios físicos normais "verificados" três vezes por semana, ou um treino avançado duas vezes por semana, fornecem mais 3.120 pontos por ano. Vacina contra a gripe, 400 pontos. O relógio é zerado a cada ano, embora 10% dos pontos possam ser transferidos.

Todos os clientes que participam do programa começam pagando o valor equivalente ao nível ouro. Isso significa um desconto de cerca de 9% para um homem de 45 anos que compra uma apólice com prazo determinado de US$ 500 mil que cobre um período de 20 anos: ele pagará US$ 750 por ano, em comparação com os US$ 825 que a apólice custaria fora do programa Vitality.

E se ele fizer tudo certo mas quebrar a perna? Ou pior, ficar com uma doença grave como o câncer? Embora essas condições não afetem diretamente o quanto ele paga pelo seguro, se ele não conseguir manter o nível ouro por algum motivo, poderá ver o valor aumentar de 1,1% a 1,6% a cada ano. Mas se ele chegar ao nível platina, o valor que ele pagará cairá cerca de 0,3% a cada ano.

O programa pode atrair as pessoas mais saudáveis que já praticam essas atividades por conta própria. A estratégia também tenta explorar uma característica humana: geralmente não há benefício imediato tangível em um seguro de vida, mas o programa é estruturado para tentar mudar isso.

"As pessoas respondem muito mais a uma recompensa imediata do que a uma recompensa tardia", diz Kevin Volpp, diretor do Centro para Incentivo à Saúde e Economia Comportamental do Instituto Leonard Davis. (Ele trabalhou como consultor para a Vitality.)

A John Hancock, que opera em todos os 50 Estados dos EUA, disse que o programa de seguro de vida vitalício foi aprovado pelos órgãos reguladores de seguros de 30 Estados, enquanto o programa com prazo determinado está disponível em 20 Estados; outros devem ser anunciados ao longo do ano. Ele disse que nenhuma agência reguladora se recusou a aprovar até agora.

"Isso muda o paradigma do seguro de vida", disse Volpp. "Em certo sentido, ele tenta fazer com que os seguros não sejam um veículo tão passivo, que paga as contas no caso de acontecer alguma coisa, e se tornem um veículo mais ativo, que leva as pessoas a reduzirem seus riscos.”

Tradutora: Eloise De Vylder

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