Ranços ideológicos contaminam debate sobre transgênicos
A cadeia produtiva de madeira, onde se encaixa o eucalipto, é uma das mais modernas e competitivas no Brasil e grande geradora de renda. Em 2014, o setor exportou US$ 9,95 bilhões, sendo US$ 7,22 bilhões em papel e celulose.
O Brasil já tem 5,5 milhões de hectares de florestas plantadas produzindo cerca de 15 milhões de toneladas de celulose. Em 2013, segundo a Indústria Brasileira de Árvores, foram gerados 4,4 milhões de empregos diretos e indiretos, arrecadados quase R$ 9 bilhões de impostos e gerado PIB de R$ 56 bilhões.
Estima-se que a demanda internacional por madeira aumentará cerca de 60% até 2030, o que abre grande oportunidade ao Brasil, que tem potencial para liderar o aumento de competitividade do setor florestal por meio do desenvolvimento tecnológico. Porém, atos de vandalismo, como o episódio ocorrido recentemente com a empresa FuturaGene, ilustram como este investimento em inovação pode ser prejudicado.
Na manhã de 5 de março, aproximadamente mil mulheres integrantes do MST invadiram a sede da FuturaGene e danificaram estufas, além de destruírem mudas experimentais. Ao mesmo tempo, outro grupo composto por cerca de 300 pessoas ocupou a reunião da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), em Brasília. A ação de invasão resultou na perda de anos de estudos e pesquisas. Preocupa o fato de uma invasão dessa dimensão não ter sido percebida antes e prevenida pelas forças policiais do nosso país.
Em 2001, a FuturaGene desenvolveu o eucalipto geneticamente modificado (GM), que produz cerca de 20% mais madeira quando comparado ao convencional. Esse ganho pode trazer mais competitividade, gerar maior sequestro de CO2 por hectare, aumentar a arrecadação de impostos e a inclusão socioeconômica. Em janeiro de 2014, longos 11 anos após a pesquisa inicial, a empresa submeteu à CTNBio um pedido de liberação comercial do eucalipto GM.
Estudos realizados por cientistas independentes demonstraram que o eucalipto GM não apresentou toxicidade sobre outros organismos, não possui potencial para se tornar planta invasora, não causa efeito tóxico no mel, entre outras evidências que comprovam sua biossegurança. O MST, o Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), Associações de Produtores de Mel e diversas ONG’s, bem como algumas empresas, contestam estes estudos. Mais uma vez, tem-se um debate no campo da ciência, mas sempre contaminado por ranços ideológicos quando se trata de transgênicos.
Confio na CTNBio, composta por doutores em áreas afins à biotecnologia, como órgão competente para realizar a avaliação de biossegurança de organismos geneticamente modificados no Brasil. O modelo brasileiro é visto internacionalmente como um dos mais completos e rigorosos. Suas decisões são tomadas de forma democrática, sempre levando em conta o princípio da precaução. É no campo da ciência que os debates deveriam se dar, no “estádio” da CTNBio. Mas não foi o que se viu.
Na minha opinião, esse foi mais um triste episódio na história do agronegócio brasileiro, que vem sustentando há décadas o desenvolvimento econômico, social e ambiental de nossa sociedade. É praticamente o que temos para oferecer ao mundo.
Que as próximas reuniões da CTNBio possam ter garantidos um ambiente em que as discussões existam de maneira democrática, e que a ciência vença, seja qual for a decisão tomada. Espero também que esse triste caso de invasão e destruição nunca mais se repita no Brasil e que os invasores tenham contra si uma coisa absolutamente simples: a aplicação da lei com as devidas punições, algo absolutamente básico em uma sociedade.
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