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Tropeços externos

A política externa de um país deveria ser orientada por objetivos estratégicos de longo prazo. No caso do Brasil, essa premissa básica foi atropelada por interesses eleitorais internos e imediatos. Nesse contexto, o conflito no Oriente Médio passou a ser analisado pelo governo brasileiro sob a ótica equivocada de "esquerda e direita". O que acorre lá nada tem a ver com isso, mas sim com um choque entre modelos de sociedade. De um lado, a ditadura fundamentalista do Hamas. Do outro, a única democracia da região.

Ideologias são construções conceituais que tentam explicar o mundo e justificar condutas políticas, sejam individuais ou coletivas. Mas a teoria não pode justificar a cegueira diante dos fatos. Em nome de uma visão preconceituosa da realidade, criam-se narrativas falaciosas, construídas com o único objetivo de arrancar o aplauso da bolha. A boa notícia é que as fórmulas populistas, individualistas e vaidosas de antes já não funcionam mais. Doutor em Economia pelo MIT, Moisés Naím define "poder" como "a capacidade de conseguir que os outros façam ou deixem de fazer algo". Esse "algo" pode ser bom ou ruim.

Boa parte dos especialistas convergem: a queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, detectada por mais de um instituto de pesquisa, é também resultado da sua postura errática em relação ao que acontece no mundo. Seja no silêncio sobre o conflito da Ucrânia e sobre a crise humanitária no Haiti, ou no barulho exagerado e infundado das acusações contra Israel, que não começou a guerra, mas, na visão de Lula, é o agressor.

Certamente, o flerte no atual governo com ditadores e o tratamento tendencioso dispensado à Israel estão repercutindo mal, nas ruas e nos gabinetes do Itamaraty.

O mundo olha hoje para o Brasil com desconfiança. Não identifica sequer a sombra daquele líder metalúrgico que chegou ao poder em 2002 com a promessa de oxigenar o capitalismo com uma visão mais social e humana. Em vez disso, encontra posturas políticas obsoletas, com muito foco na próxima eleição e pouco na próxima geração.

Mas nem tudo está perdido. Há vozes lúcidas na esquerda, no centro e na direita. O Brasil tem poderes e instituições fortes e consolidadas. A queda da popularidade de Lula nas pesquisas mostra que o povo brasileiro compreende o que seu presidente resiste em admitir: que a História tem um lado certo, o da liberdade e o da democracia.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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