Sim, o presidente português tem razão: pedir desculpas é a parte mais fácil

Às vésperas do 25 de abril, dia em que se comemora a Revolução dos Cravos em Portugal, movimento que libertou o país da ditadura salazarista, o atual presidente português, Marcelo Rebelo de Souza, reconheceu e admitiu a responsabilidade total do país pelos erros do passado e pelos crimes que resultaram numa das maiores tragédias que a humanidade presenciou.
Foram precisos mais de 130 anos após o "fim" da escravidão para que Portugal reconhecesse, finalmente, os crimes cometidos durante todo período escravagista.
Portugal foi o país que mais traficou pessoas na era colonial. Estima-se que mais 12 milhões de africanos foram sequestrados e levados como mercadorias para vários países do mundo. Portugal foi responsável por sequestrar, pelo menos, 6 milhões de corpos negros.
O reconhecimento é tardio, mas importante e necessário para que haja planos concretos de reparação. Os efeitos do processo criminoso colonial afetou gerações e gerações da população negra. Efeitos que vão desde a desigualdade racial e chegam nas desigualdades econômicas. Estamos falando de uma fratura histórica que direcionou a sociedade brasileira. O Brasil tornou-se o que é, com todas as suas violências, devido a um projeto colonial.
Sem dúvida estamos diante de um momento histórico, pois é a primeira vez que Portugal se responsabiliza pelos crimes cometidos no passado. O reconhecimento é um passo fundamental porque, além de simbólico, também contribui para o entendimento do racismo sistêmico e estrutural. Contribui para a validação de vozes negras que há séculos vêm denunciando os efeitos da escravidão.
Marcelo Rebelo dá um passo adiante ao responsabilizar Portugal. Pois não se trata somente de pedir desculpas. Estamos falando em reparação para além das questões simbólicas.
Ainda que o presidente não tenha apontado ações concretas de como será feita essa reparação, temos agora a possibilidade de discutir de maneira mais aberta e honesta sobre o mal que aflige a população negra no Brasil e no mundo. Pensar num mundo melhor, humano e democrático só será possível com reparações históricas.
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